Hells Angels. Dezassete arguidos saem em liberdade

por Cristina Sambado - RTP
Dezassete dos elementos dos "Hells Angels" saíram em liberdade Reuters

Os 17 elementos do grupo Hells Angels detidos pela Polícia Judiciária na passada terça-feira saíram em liberdade após o primeiro interrogatório judicial no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa. Os arguidos ficam sujeitos a apresentações mensais às autoridades e não podem contactar-se.

Os 17 elementos do grupo ficam ainda proibidos de participar em concentrações motards e não podem ausentar-se do país.

Os arguidos estão indiciados de associação criminosa, homicídio qualificado na forma tentada, roubo, ofensas à integridade física e detenção de armas.

Os 17 detidos são homens com idades entre os 29 e os 52 anos e que a operação realizada se insere no mesmo inquérito à ordem do qual se encontram, em prisão preventiva, 41 arguidos, desde julho de 2018.

Foram executadas dezenas de buscas domiciliárias e não domiciliárias e cumpridos mandados de detenção envolvendo a participação de 150 operacionais de várias Unidades da Polícia Judiciária.

O advogado de defesa de 12 dos 17 arguidos acredita que houve uma mudança de posição do Ministério Público.

“A minha sensibilidade - e não terá sido só a minha - é que houve uma alteração de paradigma no que diz respeito à posição do Ministério Público no processo. E isso, parece-me muito importante e parece-me que efetivamente é a reposição da justiça”, afirmou José Carlos Cardoso.

O causídico espera “que a justiça que está a ser reposta, possa abranger também os arguidos que se encontram privados da liberdade”.

“Acho que o tempo vem clarificar as coisas e basicamente foi isso que se passou. Desde o início que a defesa, pelo menos a que eu represento, entende que não havia razão para a aplicação de medidas de coação tão gravosas”, acrescentou.

Já para João Martins Leitão, o advogado dos restantes arguidos, acredita que os elementos do Hells Angels que estão detidos desde outubro de 2018 podem ser libertados.

“Foi o próprio Ministério Público, que é quem tem a ação penal, a não preconizar uma medida preventiva da liberdade de uma detentiva. E isso é muito significativo não só na diligência de hoje (quarta-feira, que vão ser os 17 soltos. Como porventura vai ser importante, essa mudança de paradigma de aspeto, precisamente também para os outros que estão presos há diversos meses”, afirmou.

“Se o Ministério Público para estes, quando os crimes são os mesmos, não entendeu que fosse necessário prender. Então, como se costuma dizer, mutatis mutandis, também os outros se estão com a mesma indiciação, deixa de haver uma razão, do meu ponto de vista válida, para que os outros não possam também ter o caminho destes”, acrescentou.

Fonte judicial explicou à agência Lusa que o Ministério Público não promoveu a medida de coação de prisão preventiva a nenhum destes 17 arguidos, que começaram a ser presentes à juíza de instrução criminal Maria Antónia Andrade na quarta-feira.

Para esta quinta-feira está previsto o interrogatório, também no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, de mais dois arguidos que se encontravam no estrangeiro e que se entregaram na quarta-feira às autoridades.
Conflito entre grupos rivais
Em março de 2017, cerca de 20 motards do grupo Hells Angels invadiram um restaurante no Prior Velho, concelho de Loures, distrito de Lisboa, para atacar o grupo Red&Gold, criado pelo radical de extrema-direita Mário Machado.

Os dois grupos rivais entraram em confrontos dentro do estabelecimento comercial, com facas, paus, barras de ferro e outros objetos.

Este episódio de violência levou a Policia Judiciária a deter os primeiros 58 elementos do grupo de motociclistas Hells Angels em Portugal (a que se somou um outro na Alemanha).

Em janeiro, o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa declarou a especial complexidade do processo para poder ter mais seis meses (até 18 de julho) para deduzir a acusação, dilatando assim o prazo da prisão preventiva.

O grupo Hells Angels existe em Portugal desde 2002 e, desde então, tem sido monitorizado pela polícia.

c/ Lusa
Tópicos
pub