Incêndios. "Temos este território, este clima e estas pessoas"

por RTP

Na edição desta segunda-feira do 360, da RTP3, o investigador Domingos Xavier Viegas, do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, e Francisco Ferreira, dirigente da associação ambientalista ZERO, abordaram os acontecimentos dos últimos dias no centro do país, região fustigada, uma vez mais, pelas chamas.

A partir de Coimbra, Xavier Viegas, responsável pelos relatórios sobre os incêndios de Pedrógão Grande e de outubro de 2017, escusou-se a comentar a "situação concreta em Vila de Rei e Mação".

"Porque é que nós temos estes grandes incêndios, quando já os tivemos em 2003, 2005, 2017 e voltam agora a ocorrer? É porque temos este território, temos este clima e temos estas pessoas. Portanto, como não as podemos retirar, podemos estar sujeitos. Temos estas situações", afirmou o investigador.

"Infelizmente, como temos estas circunstâncias e temos pessoas que não cuidam do bem-estar da nossa natureza e do nosso país, acontece que temos estas situações. Nestes dias em que tivemos muito calor, com a humidade dos combustíveis muito baixa, tivemos condições para estes incêndios que estamos a ter", acentuou.

Questionado sobre a distribuição de responsabilidades, Domingos Xavier Viegas colocou a ênfase na "falta de consciência das pessoas".

"Na maior parte dos casos, são as pessoas" que originam os incêndios, insistiu, para depois assinalar um número de meios de combate como poucas vezes o país teve no passado.
"Transformação vai demorar anos"
Por sua vez, Francisco Ferreira, da ZERO, advertiu que o país não poderá "mudar a floresta de um ano para o outro".

"Esta situação era, de certa forma, esperada, com ou sem ação criminosa, com mais ou menos negligência. Aquilo que está a acontecer resulta, obviamente, de uma transformação que vai demorar anos, senão mesmo algumas décadas", vincou o dirigente da associação ambientalista.

"Nós continuamos com um despovoamento rural do interior, com muitas das táticas de prevenção a conseguirem ser aplicadas, mas outras não, por que não há pessoas a viver no local. Os povoamentos estão lá, são povoamentos densos, de pinheiro bravo, de eucalipto e, portanto, nós passarmos para um modelo de floresta mais diversificado, com diferentes espécies, com lugar a velocidades de propagação que mesmo em condições difíceis de seca, de menor humidade, com as alterações climáticas que estão a decorrer ao longo dos últimos anos e muito previstas para os próximos anos, nós vamos ter que fazer essa mudança, que vai demorar o seu tempo", fez notar.

Francisco Ferreira considera, ainda assim, que "as pessoas estão mais sensibilizadas" e que "há cuidados da parte da Proteção Civil em termos de coordenação de meios".
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