Lisboa, 01 abr (Lusa) -- Um estudo sobre a mediatização da saúde na imprensa portuguesa concluiu que os jornais promovem "uma cobertura responsável" do suicídio, em linha com as recomendações da Direção-geral da Saúde e da Organização Mundial da Saúde.
A investigação, que faz parte da tese de doutoramento de Rita Araújo, investigadora no Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, analisou a cobertura dada pelos jornais portugueses aos casos de suicídio.
"Ficámos surpreendidos positivamente com os resultados, percebemos que a cobertura que se pratica em Portugal não apresenta os traços sensacionalistas que foram identificados noutros países pela Organização Mundial de Saúde", disse Rita Araújo à agência Lusa.
Segundo Rita Araújo, nos jornais generalistas portugueses raramente são apresentados detalhes de suicídios.
"Os títulos geralmente são factuais (não apelam ao sensacionalismo) e quando há retratos de casos específicos de situações de suicídios são sempre enquadrados numa perspetiva da saúde mental", sublinhou a investigadora, que participa hoje, em Guimarães, no Simpósio da Sociedade Portuguesa de Suicidologia, com o tema "Crise Suicidária: Prevenção, intervenção e pósvenção".
Para realizar o estudo, a equipa de investigadoras, formada por Rita Araújo, Felisbela Lopes e Zara Pinto-Coelho, baseou-se na literatura que existe noutros países (Austrália, Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha).
"O que nos dizem os estudos desses países é que, de facto, os media nem sempre têm os comportamentos mais responsáveis no que toca à cobertura dos suicídios", disse Rita Araújo.
Contudo, "verificámos que em Portugal as coisas não são assim, a situação não é tão alarmista como se verifica noutros países", disse, comentando que a análise permitiu concluir que os jornalistas portugueses estão a fazer "um bom trabalho".
Rita Araújo adiantou que há uma série de normas nacionais e internacionais sobre como os profissionais dos Media devem noticiar os suicídios.
Entre essas normas estão evitar fazer uma cobertura sensacionalista, evitar dar pormenores sobre o caso, o método utilizado para cometer o suicídio e "evitar as generalizações".
"Dizer que determinada pessoa cometeu o suicídio porque estava com depressão não quer dizer que todas as pessoas com depressão o vão fazer", explicou.
Há vários estudos que comprovam que as notícias sobre o suicídio têm o poder de criar novos suicídios, um fenómeno denominado "efeito de imitação".
"A cobertura mediática do suicídio tem alguns riscos e pode levar a ondas de suicídio", advertiu, defendendo que deve haver "um debate mais alargado no seio da profissão sobre a forma como isso deve acontecer".
Geralmente, os jornalistas sabem que não devem noticiar o suicídio, mas muitas vezes não sabem porquê, frisou.
Para a investigadora, "noticiar o suicídio por si só pode não fazer sentido": "O que é preciso é alertar para as causas do suicídio, para os fatores de risco e dar mais notícias sobre a saúde mental em geral, falar sobre os fatores de riso e quem são aqueles que estão mais em perigo de cometer suicídio".
"É muito importante perceber que a cobertura do suicídio em si mesma não promove comportamentos suicidas, mas a forma como a cobertura é feita pelos jornalistas pode promover", vincou.