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Mação. “Não vi com bons olhos o Governo a sacudir a água do capote”

por RTP
Rui Farinha - Lusa

Rui Rio lançou críticas ao Governo pela forma como agiu nos incêndios de Mação e Vila de Rei. Em entrevista à Rádio Observador, o líder do PSD diz não ter visto como bons olhos o executivo, e em especial o primeiro-ministro, a “sacudir a água do capote”, acusando os autarcas.

“O primeiro-ministro não se coibiu de criticar autarcas com matas e florestas ainda a arder. O meu comportamento devia ser transversal ao de todos, ao ministro da Administração Interna e ao primeiro-ministro. Não vi com bons olhos que o Governo começasse a sacudir a água do capote dizendo que a responsabilidade não é dele, mas dos autarcas”, disse Rui Rio, depois de lembrar que não fez comentários enquanto as chamas ainda lavravam no centro do país.


O líder do PSD fala ainda de um “exagero da parte do Governo” nas críticas que fez à não ativação do plano de emergência municipal em Mação, até porque “o plano de emergência não serve para o combate às chamas” e, ainda por cima, estava para aprovação do Governo desde fevereiro e foi aprovado pelo Estado no dia dos incêndios.

Não se pode justificar a área ardia com a ausência de um plano de emergência não aprovado pelo próprio Governo”, assegura Rio.

Parece-me evidente que o Governo não conseguiu responder com a eficácia devida, porque a área ardida é imensa. Quanto ao nível de responsabilidade, tenho de ir lá. Mas não achei bonito o Governo estar rapidamente a sacudir a água do capote para cima dos autarcas, aproveitando o desconhecimento das pessoas em relação a isto. É fácil chutar a responsabilidade para lá. Isso acho mal, particularmente enquanto tudo estava a decorrer”, assegura Rio, remetendo uma análise mais detalhada ao que terá corrido mal para depois da visita que irá fazer às zonas afetadas nos próximos dias.
Suspensão de funções em caso de condenação
O presidente do PSD anunciou ainda nesta entrevista que os candidatos a deputados do PSD vão assinar um compromisso de que suspendem funções se foram condenados em primeira instância, e revelou que deverá ser “número dois” pelo Porto.

Rui Rio recusou confirmar ou desmentir se “vetou” diretamente o nome do ex-líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, para as listas do PSD, escusando-se a comentar casos concretos.

Com o mesmo argumento, recusou dizer se deputadas do PSD recentemente constituídas arguidas -- Emília Cerqueira e Maria das Mercês Borges -- poderiam ser ou não incluídas nas listas, mas anunciou que todos os candidatos vão ter de assinar um compromisso.

"Os candidatos a deputados do PSD vão todos assinar -- senão, não são candidatos - um compromisso que, se tiverem uma qualquer condenação em primeira instância, automaticamente suspendem o cargo. Transitando em julgado, demitem-se", afirmou o líder do PSD.

Quanto ao lugar que vai ocupar nas listas de candidatos a deputados, Rui Rio afirmou que "o mais lógico é que seja segundo no Porto", considerando "simbólico" que o líder do partido abdique de ser `número um` em favor de um jovem de 28 anos, Hugo Carvalho.

Questionado se, em caso de derrota, admite sair "no dia seguinte às eleições" legislativas de 06 de outubro, o líder do PSD respondeu: "Admito tudo e mais alguma coisa, mas não é para pensar agora".

"Estou numa dada tarefa, fui eleito para essa tarefa por dois anos, vou cumprir isso, quando chegar ao fim do mandato logo se vê", disse, embora acrescentando que pode considerar que um balanço feito a "08, 09 ou 10 de outubro" pode ser semelhante ao que faria em janeiro, altura de fim do seu mandato.

"Nessa altura vejo a situação (...) Neste momento a minha preocupação é ir para eleições e fazer o melhor possível e isso é ganhar. Se não for assim logo se vê", disse.

Na entrevista, Rio voltou a recusar falar publicamente sobre a recente demissão do vice-presidente Castro Almeida, dizendo tratar de uma questão “do foro interno” do partido.

“O que ele disse em público foi o que me disse a mim”, afirmou.

Na altura, o jornal Público noticiou que Castro Almeida se demitiu com acusações de “centralismo” ao presidente do PSD na forma de condução do partido.

Rui Rio afirmou que as listas de candidatos a deputados do PSD “não estão a ser feitas numa lógica de quem foi crítico ou não” e destacou a renovação ao nível dos cabeças de lista, alguns dos quais diz ter a certeza que não o apoiaram na eleição interna, e salientou que, salvo “uma ou duas exceções cirúrgicas”, não vai haver candidatos ‘paraquedistas’ (que se candidatem a um círculo pelo qual não têm qualquer ligação).

“As estruturas do partido gostariam que [o cabeça de lista] fosse alguém do aparelho, mas aí paciência, entendo que devemos abrir o partido”, defendeu, admitindo que precisa da mobilização das estruturas locais, mas “há prioridades”.

“Na situação em que os partidos estão, os partidos políticos têm de se abrir, senão vão continuar a definhar”, afirmou.

Rui Rio admitiu ainda que não fala muitas vezes com a líder do CDS, Assunção Cristas, – “quando é necessário falamos” – e que a atuação do Presidente da República pode tornar mais difícil o seu papel.

“Claro que torna mais difícil o cargo de líder da oposição mas o Presidente da República não foi eleito para facilitar a vida ao líder da oposição, eu compreendo isso”, referiu.

Sobre Marcelo Rebelo de Sousa – com quem disse ter feito as pazes no dia seguinte a ter-se demitido de secretário-geral quando ele era líder do PSD -, Rui Rio afirmou que “muitas vezes”, quer o partido, quer ele próprio, gostariam que “tivesse uma atitude mais crítica para com o Governo”.

“Mas tem de exercer funções o mais distante possível do partido”, ressalvou.

Na entrevista de mais de uma hora, o líder do PSD foi questionado sobre uma publicação que fez no Twitter na passada terça-feira: “Tenho, na minha ingenuidade, reparado que nestes cirúrgicos dias que antecedem o Conselho Nacional para a escolha dos deputados, alguns cirúrgicos jornalistas tidos como ligados à maçonaria dão mais cirúrgica importância às cirúrgicas sondagens da Pitagórica do que às outras”.

“O que está aí, na prática, é uma crítica às sociedades secretas, não a todas as pessoas a que elas pertencem”, explicou, dizendo ter dificuldades em entender a existência deste tipo de organizações em democracia.

Voltando a desvalorizar as sondagens, Rio admitiu que estas têm o efeito de “reduzir o ânimo” de quem vai atrás e fixou como objetivo para as regionais da Madeira “ganhar as eleições” e novamente com maioria absoluta.


c/Lusa
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