Madeira pede corredor humanitário para emigrantes na Venezuela

por RTP
Marco Bello - Reuters

O presidente do Governo regional da Madeira apelou ao executivo nacional para que acompanhe de perto o que se passa com os gerentes de supermercados portugueses detidos nos últimos dias na Venezuela. Segundo o regime de Nicolás Maduro, os funcionários detidos esconderam produtos alimentares e “violaram a lei”.

Na semana em que foi notícia a detenção de mais de 30 gerentes de cadeias portuguesas de supermercados pelo governo de Caracas, as autoridades portuguesas não escondem a preocupação com a situação vivida pelos emigrantes.  
 
Agora é a vez de Miguel Albuquerque, presidente do Governo regional da Madeira, que veio defender este domingo a criação de um corredor humanitário “para mandar apoios para a Venezuela”.
 
O líder regional reconhece, no entanto, que se trata de “uma ação muito difícil de concretizar”, uma vez que os bens poderiam acabar por ser “desviados para o mercado negro”, disse.  
 
A Venezuela reúne a segunda maior comunidade de emigrantes portugueses na América Latina, muitos deles oriundos da região autónoma da Madeira.  

Os números oficiais são incertos, mas as estimativas apontam para a saída de cerca de 10.000 portugueses e lusodescendentes daquele país nos últimos dois anos. No entanto, mais de 500.000 continuam a residir na Venezuela.
 
Miguel Albuquerque quer garantir que os portugueses que pretendam voltar o possam fazer e pediu ao executivo de Lisboa para que “não largue o assunto”.
 
"O Governo nacional disse publicamente que está a acompanhar as famílias. Queremos que continue a acompanhar, seja efetivo para que sejam libertados o mais rapidamente", afirmou o chefe social-democrata daquele executivo regional em declarações aos jornalistas.   
 
Miguel Albuquerque disse ainda estar convencido de que entre os portugueses detidos na Venezuela, alguns são de origem madeirense e referiu que o secretário regional da Educação da Madeira tem estado "em contacto constante com o Governo" sobre a situação.
 
O Presidente do Governo regional confirma que mais de 3.000 portugueses e lusodescendentes já voltaram à Madeira desde o início da crise naquele país, dos quais 2.000 já foram integrados no mercado de trabalho.  
 
"Temos vindo a acompanhar a situação não com conversa fiada, mas com decisões práticas”, assinalou o líder regional.   Penas de prisão de dois a dez anos

O Presidente da Venezuela informou na sexta-feira que mais de três dezenas de gerentes de supermercados de empresários portugueses tinham sido detidos por violarem a lei. São acusados de esconderem produtos aos clientes e de alterarem os preços, num momento de grande crise que afeta aquele país sul-americano.
 
Na sequência desse anúncio, o Ministério português dos Negócios Estrangeiros convocou na sexta-feira o Embaixador venezuelano em Lisboa, Lucas Rincón Romero, para transmitir “grande preocupação” com a situação os portugueses detidos. 
 
No dia seguinte, também o Presidente da República manifestou “preocupação pelos recentes acontecimentos” e garantiu que está a acompanhar “a posição e as diligências promovidas pelo Governo português”.
 
Em reação às tomadas de posição de Lisboa nos últimos dias, Caracas veio este domingo assinalar que na Venezuela “impera o Estado de Direito e de Justiça”.
 
“As suas instituições investigam qualquer delito que se cometa, sem se preocuparem com a origem ou a procedência dos suspeitos, garantindo sempre o devido processo e acesso à justiça”, sublinhou o ministro venezuelano dos Negócios Estrangeiros através do Twitter.  
 
Jorge Arreaza não deixa no entanto de assinalar “o alto valor da comunidade portuguesa” no país. “Ações individuais ou de um pequeno grupo de empresários jamais ofuscarão o brilho e qualidades de tão querida comunidade”, refere o chefe da diplomacia venezuelana.  
 
Entretanto, um tribunal da Venezuela decidiu manter em prisão preventiva pelo menos dez portugueses e luso-descendentes, todos eles gerentes de supermercados, sendo acusados de impedir o abastecimento de produtos básicos e de violarem as leis que regulam os preços.  
 
Estes portugueses fazem parte do grupo de 34 gerentes das redes de supermercados Central Madeirense ao Excelsior Gama detidos na última semana. 

Segundo a Lei Orgânica de Preços Justos da Venezuela, se forem considerados culpados, estes portugueses e luso-descendentes poderão ser condenados a penas de prisão de dois a dez anos. 

No sábado, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, garantiu que estão a ser feitas “todas as diligências” para apoiar os portugueses detidos.

Em declarações à agência Lusa, José Luís Carneiro disse ter a informação de que entre os detidos estão sete que nasceram em Portugal e três que são lusodescendentes, garantindo ainda que o próprio deverá deslocar-se em breve à Venezuela.  

O governante disse ainda que estão a ser feitos contactos “a nível mais político” com a Venezuela, a começar desde já com um encontro entre o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, com o homólogo venezuelano, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, que começa esta semana em Nova Iorque. 

c/ Lusa
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