Marta Temido quer revigorar sistema de saúde pós-pandemia

por Lusa
Marta Temido promete a recuperação dos cuidados de saúde à parte a área do covid Mário Cruz-Lusa

O Ministério da Saúde pretende aumentar este ano as consultas externas hospitalares em 9,5% e as cirurgias programadas em 22%, através do mecanismo de incentivos à recuperação da atividade assistencial, avançou a ministra Marta Temido.

O compromisso acordado entre as entidades públicas empresariais hospitalares e a Administração Central do Sistema de Saúde é que a atividade assistencial em 2021 seja superior à realizada em 2020, afirmou a ministra da Saúde em entrevista à agência Lusa, a propósito de um ano do anúncio, a 2 de março de 2020, dos dois primeiros casos de infeção com o novo coronavírus.

Dados avançados por Marta Temido indicam que em janeiro de 2021 se registou um decréscimo de cerca de 194 mil consultas hospitalares e de 19 mil cirurgias face ao mês homólogo de 2020, quando as instituições ainda estavam a trabalhar normalmente.

"(O plano para 2021 prevê) aumentos de 9,5% nas consultas externas, designadamente contratualizar mais 17% de primeiras consultas e 7% de consultas subsequentes (...) e um aumento de cirurgias programadas que contratualizámos com os nossos hospitais em 22%", detalhou.

Marta Temido espera alcançar estas metas com o estímulo à atividade assistencial, decorrente do mecanismo de incentivos criado em meados de 2020, com o recurso a outros setores de atividade, à subcontratação, com "um melhor trabalho em rede" e com um controle da pandemia para níveis que permitam diminuir a perda da atividade assistencial programada como aconteceu em setembro e outubro de 2020.

"Mas, uma vez mais, não depende só dos profissionais de saúde depende da nossa capacidade conjunta de controlar a pandemia", ressalvou, lembrando que muitos hospitais já retomaram a atividade assistencial e outros estão em vias de o fazer ao longo deste mês.

Se em meados de março os cuidados intensivos estiverem com um valor de utilização entre as 200 e as 300 camas poder-se-á retomar as demais respostas, mas com um ritmo inferior ao que existia antes da covid-19.

No ano passado, contou, quando foi a programação da retoma da atividade assistencial, as instituições diziam que "não é como recuperar de uma greve" ou de "um período de férias, porque os ritmos todos se alteraram".

"Hoje temos que fazer as coisas de maneira diferente para que haja segurança, higienização, arejamento dos espaços e isso 'lentificou' a nossa capacidade de resposta", sublinhou.

"Mas temos outras armas que talvez não dispuséssemos anteriormente, desde logo esta capacidade de nos articular melhor com o Serviço Nacional de Saúde e com outras entidades fora do SNS para responder àquilo que são desafios nacionais", sustentou.

Incentivos para recuperar atividade nos centros de saúde

A atividade adicional nos centros de saúde vai ter incentivos financeiros, à semelhança do que aconteceu para recuperar a atividade hospitalar, anunciou a ministra da Saúde.

"Entendemos que era preciso fazer o mesmo ao nível dos cuidados de saúde primários e o Orçamento do Estado para 2021 tem uma norma que abrange esta área, foi regulamentada e irá entrar em vigor no próximo mês", disse Marta Temido.

A ministra explicou que este estímulo servirá para aumentar a atividade nos Cuidados de Saúde Primários (CSP), em horários alargados e, portanto, fora do horário normal de trabalho.

"E para quê? Exatamente para permitir mais acesso porque, de facto, estamos a notar obviamente que há menos referenciações hospitalares", afirmou a ministra, reconhecendo que vai demorar muito para recuperar das consequências da covid-19 "ao nível social, ao nível económico e, também, ao nível dos outros cuidados de saúde".

Marta Temido lembrou que, apesar de tudo, as consultas nos CSP aumentaram no ano passado, um crescimento suportado sobretudo no reforço das consultas não presenciais.

"Apesar de o ano de 2020 ter sido um ano como todos conhecemos, aumentaram o número de consultas médicas em 2020 face a 2019 (nos CSP). É certo que isso foi conseguido também à custa da atividade não presencial, mas de qualquer forma houve mais um milhão de consultas médicas realizadas", afirmou.

Segundo os dados do Portal da Transparência do Ministério da Saúde, nos CSP as consultas presenciais caíram a pique por causa da pandemia, pois houve menos 7,8 milhões. Mas este valor foi compensado por um duplicar de consultas não presenciais, que passaram de 9,1 milhões em 2019 para 18,5 milhões no ano passado.

No que se refere ao mês de janeiro deste ano, foram realizadas mais de um milhão de consultas presenciais nos centros de saúde, valor substancialmente inferior ao registado no mês homólogo (1,9 milhões), e 2,3 milhões de consultas não presenciais, quase três vezes mais do que em janeiro de 2020 (872 mil).

A covid-19 também afetou as consultas ao domicílio nos CSP, que em 2020 foram menos 282 mil do que no ano anterior.

Ainda nos CSP, a ministra disse também que noutras áreas, que não na área médica, se notou uma menor utilização, como, por exemplo, nas consultas de enfermagem e as consultas de outros técnicos.

"Por força da necessidade de colocar esses técnicos em outras atividades, como testes, rastreios e vacinação, essas linhas de atividade tiveram e permanecem com reduções", afirmou.

Relação Marta Temido/Graça Freitas

A ministra da Saúde explicou que deixou de aparecer ao lado da diretora-geral da Saúde porque receberam "tantas farpas e varapaus" por estarem sempre juntas que decidiram comunicar separadamente para "não cansar mais os portugueses".

Durante largos meses da pandemia Marta Temido e Graça Freitas foram presenças assíduas nas conferências de imprensa da Direção-Geral da Saúde de atualização dos números da pandemia.

A última conferência de imprensa da Direção-Geral da Saúde decorreu no dia 5 de janeiro, numa altura em que Portugal contabilizava 7.286 mortos associados à covid-19 em 436.579 casos confirmados de infeção, e desde então tem sido a tutela a dar publicamente a informação sobre a situação epidémica no país.

Questionada sobre as razões que levaram ao fim das conferências imprensa conjuntas, a ministra disse que é uma pergunta que lhe fazem muitas vezes, mas que não há nenhuma explicação de zanga ou qualquer outro motivo, apenas porque se cansaram de a ver junta com a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.

"Não há nenhuma explicação de zanga, mas recebemos tantas farpas e varapaus por estarmos sempre juntas que optámos por não cansar mais os portugueses", disse, com um sorriso.

Sobre se foram os portugueses que se cansaram, Marta Temido disse não ter essa perceção.

"A própria critica à forma como a comunicação da Saúde era feita, que referia muitas vezes que eram figuras demasiado presentes, demasiado repetitivas, demasiado redundantes, levou a que nós tivéssemos optado por aparecer mais desfasadamente, por comunicar mais separadamente, articulando obviamente, mas por fazer essa alteração apenas de imagem, não de substância", esclareceu Marta Temido.

No início de fevereiro, Graça Freitas foi questionada pelo mesmo motivo, mas desvalorizou, justificando a ausência com uma nova estratégia de comunicação.

"A diretora-geral da Saúde não precisa de aparecer, a diretora-geral da Saúde precisa de trabalhar. E esta foi uma fase em que, do ponto de vista comunicacional, se tomaram outras opções. E eu continuo a trabalhar exatamente como sempre trabalhei", disse Graça Freitas, numa cerimónia que assinalou o arranque do rastreio ao cancro da mama, numa Unidade Móvel da Liga Portuguesa Contra o Cancro.
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