"Nova fase da pandemia". DGS considera precoce declarar segunda vaga

por RTP
Direção-Geral da Saúde considera que é "muito difícil" saber se Portugal está neste momento a enfrentar uma segunda vaga Rafael Marchante - Reuters

Em muitas escolas e instituições de ensino as aulas recomeçaram esta segunda-feira. A mobilidade de pessoas que retomam as atividades após as férias já aumentou e a situação epidemiológica do país começa a sentir os efeitos desta "normalidade". Os casos estão a recrudescer. Portugal enfrenta agora uma "nova fase da pandemia", embora ainda não se possa afirmar que é o início de uma segunda vaga da Covid-19.

Desde o fim do mês de agosto que a curva epidemiológica tem aumentado exponencialmente, relativamente às semanas anteriores. O boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde desta segunda-feira reporta 613 novos casos de infeção pelo novo coronavírus, quatro vítimas mortais e mais 493 casos ativos no país.

Mas, de acordo com o secretário de Estado da Saúde, mais de 51 por cento das novas infeções estão a ocorrer em pessoas com idades entre os 20 e os 49 anos.

"Estamos numa nova fase da pandemia, dos 613 novos casos de hoje, apenas 10 por cento têm idade superior a 70 anos, o grupo etário onde é maior o risco de complicações decorrentes da Covid-19", adiantou António Lacerda Sales na conferência regular sobre a infeção pelo SARS-CoV-2.

Lacerda Sales defendeu ainda que estes números obrigam "a uma reflexão coletiva" sobre os comportamentos individuais.

"Mais de 51 por cento das novas infeções" foram observadas em pessoas entre os 20 e os 49 anos, o que, se por um lado, "se trata de uma boa notícia", porque mostra que se tem "conseguido preservar a saúde dos mais vulneráveis", por outro lado, obriga "a uma reflexão coletiva sobre os nossos comportamentos individuais".

De facto, considerando que o país está a entrar numa "altura em que a mobilidade da generalidade dos cidadãos aumenta, com o regresso de férias e, sobretudo, com o arranque do ano letivo, hoje e durante a semana por todo o país, é importante que todos continuemos conscientes do nosso papel na limitação da propagação do vírus".

Nesse sentido, o secretário de Estado lembrou que "não podemos vacilar neste caminho de contenção que é o único de que dispomos, neste momento, em que Portugal entrará de novo numa situação de contingência generalizada em todo o país".

"Temos obrigação de na rua, no trabalho e em família tudo fazer para garantir que o nosso Serviço Nacional de Saúde, que amanhã comemora 41 anos de idade continue a ter a capacidade para dar resposta a esta doença, mas também a todas as outras", vincou o governante.

De forma a garantir a capacidade de resposta do SNS, António Lacerda Sales assegurou que os serviços de saúde vão continuar a ser reforçados, lembrando que desde março já foram contratados mais de 4700 profissionais de saúde para o combate à pandemia.

O secretário de Estado assegurou ainda que, nesta altura, não há "pressão sobre o sistema de saúde".

Por sua vez, a diretora-geral da Saúde salientou que o atual padrão epidemiológico em Portugal, em que os novos casos aparecem sobretudo em adultos jovens, relativamente saudáveis, "é de certa forma protetor em relação à mortalidade".

"Há aqui este esforço de proteção dos mais vulneráveis"
, que são as populações mais idosas e mais doentes, e "o atual padrão epidemiológico da distribuição dos novos casos não faz prever um aumento da mortalidade", disse Graça Freitas.

Segundo a diretora-geral da Saúde, trata-se de um "padrão diferente" do que se observou na fase inicial da epidemia em que houve muitas pessoas com mais idade infetadas e a letalidade foi superior.

Contudo, assegurou, as autoridades de saúde vão continuar muito atentas e a acompanhar os casos em termos de incidência, a sua gravidade em termos de internamento e internamento em unidades cuidados intensivos e a sua "gravidade máxima" que é expressa na letalidade e na mortalidade.
Mais de 21.700 testes realizados na sexta-feira passada
Na passada sexta-feira, dia 11 de setembro, foi o dia em que se realizou o maior número de testes em Portugal desde o início da pandemia. Segundo o secretário de Estado da Saúde, realizaram-se 21.700 testes só nesse dia.

"A semana que terminou registou uma média de mais de 17.500 testes por dia, a mais elevada desde o início da pandemia registando-se três dias com mais de 20 mil testes", afirmou António Lacerda Sales.

Até sábado, Portugal tinha uma taxa de 222.527 testes por milhão de habitantes, a sexta maior entre os países da União Europeia, salientou ainda.

O secretário de Estado reforçou que "a testagem é, e continuará a ser, um instrumento fundamental numa abordagem integrada para o controlo da pandemia", lembrando que "Portugal tem feito esforços assinaláveis na expansão da sua capacidade laboratorial para a realização de testes Covid-19".

Atualmente há já 102 laboratórios nesta rede, 42 dos quais no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e "na sexta-feira passada, dia 11, foi o dia em que foi realizado o maior número de testes desde o início da pandemia, mais de 21.700".
"Futebol não pode dar sinais contrários"
Na coferência de imprensa as autoridades de saúde afirmaram que não vão abdicar de usar todos os meios legais para evitar a propagação do vírus, principalmente quanto ao regresso de público no futebol.

"Quando o país passa para o estado de contingência, o futebol não pode dar sinais contrários", frisou António Lacerda Sales.

"O Governo continuará empenhado em permitir o regresso à normalidade possível das modalidades desportivas e do futebol, mas as autoridades de saúde não abdicam de usar todos os meios legais e de saúde publica para limitar a propagação do vírus", sustentou.

Depois do adiamento dos jogos da II Liga Feirense-Desportivo de Chaves e Académico de Viseu-Académica, que deveriam ter sido realizados no passado fim de semana, António Lacerda Sales salientou que "as condições de avaliação cabem às autoridades locais de saúde".

"As condições de avaliação serão sempre muito diferentes de local para local, porque as condições epidemiológicas são diferentes de local para local. Para problemas diferentes, encontraremos soluções diferentes. Numa altura em que o país sobe para o estado contingência, o futebol, ou qualquer outra atividade, não pode dar sinais contrários", esclareceu o secretário de Estado.

Lacerda sales lembrou que "existem normas e situações locais muito específicas, que funcionam de forma diferente", exemplificando que "no fim de semana, a condição em Viseu não seria igual a outros locais e regiões".

Lacerda Sales considerou ainda que "o futebol quererá manter a excelente imagem deixada aquando da retoma da época passada", antes de deixar um reparo: "Podemos gostar de futebol e avaliar uma regra de fora de jogo, mas o futebol não quererá, certamente, avaliar de forma técnico-científica as regras da saúde pública".
Quarentena em colégio privado

Nas escolas públicas só a partir desta semana é que as aulas começam, mas em algumas insituições de ensino privado o ensino presencial já tinha sido retomado. No entanto, já começaram a surgir casos de infeção na comunidade escolar de um colégio privado em Carcavelos.

O colégio St. Julian's mandou os alunos para casa após terem sido confirmados quatro casos positivos de Covid-19.

Embora o Ministério da Educação pretenda manter o ensino presencial, Graça Freitas lembrou que, no caso de instituições privadas existem "algumas liberdades", como a possibilidade de continuar o ensino à distância em algumas turmas e não priveligiar o presencial.

"Esta é uma decisão desta instituição privada".

"Há aqui graus de liberdade que podem ser tomados desde que não ponham em causa a saúde pública"
, disse a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas. "Neste caso, o colégio tomou uma medida de prevenção" e não colou em risco a saúde pública.
Guimarães e Gaia com maior incidência por 100 mil habitantes
Os concelhos da região de Lisboa e Vale do Tejo, Guimarães e Vila Nova de Gaia são atualmente as zonas mais críticas em relação ao número de casos com Covid-19, informou Direção-Geral da Saúde.

"Em relação às áreas críticas, a maior parte dos concelhos continua localizada na região de Lisboa e Vale do Tejo, sendo que também Guimarães e Vila Nova de Gaia são neste momento concelhos com maior incidência por 100 mil habitantes", disse a diretora-geral da Saúde.

Graça Freitas precisou que a taxa de incidência de Covid-19 nestes concelhos é "superior ao resto do país".

Recorde-se que nas últimas 24 horas a região de Lisboa e Vale do Tejo, onde se verifica o maior número de infeções no país, somou 338 novos casos e a região Norte mais 178 casos.

Já na região Centro registaram-se mais 51 casos, no Alentejo foram registados mais 27 casos e na região do Algarve mais dez casos.

Na Região Autónoma dos Açores foi registado um novo caso nas últimas 24 horas, e na Madeira houve um registo de oito novos casos.
É difícil saber se Portugal já enfrenta segunda vaga
É "notório" que nos últimos dias o número de casos de Covid-19 estão a aumentar em Portugal, mas a Direção-Geral da Saúde considera que é "muito difícil" saber se Portugal está neste momento a enfrentar uma segunda vaga da epidemia.

Em Portugal "no intervalo entre os primeiros meses e agora nunca tivemos num patamar com praticamente ausência de casos", começou por explicar Graça Freitas aos jornalistas. "Tivemos sempre uma situação com casos todos os dias e todas as semanas".

"É muito difícil" responder se Portugal está ou não a enfrentar uma segunda vaga de covid-19, uma vez que esta é a primeira vez que se está a lidar com o vírus.

"Não temos um histórico como é o seu comportamento ao longo do tempo. O que sabemos é que na curva epidémica estamos a apresentar uma subida que é notória e que se prevê que vá continuar".

"Se constitui ou não uma segunda vaga só daqui a uns dias, daqui a umas semanas, é que perceberemos se essa tendência se mantém e vai ficar", frisou a diretora-geral da Saúde.

Graça Freitas acrescentou ainda que à medida que se vai "conhecendo o historial do vírus é mais fácil saber" se Portugal está "em vaga ou é só uma questão técnica mais complicada".
Santuário de Fátima não esperava aglomerado
Este fim de semana foram muitos os portugueses que se dirigiram a Fátima e estiveram junto ao Santuário. No entanto, a instituição não esperava aglomerados de pessoas e tentou bloquear o acesso ao Santuário. António Lacerda Sales afirmou, na conferência de imprensa, que depois deste episódio os responsáveis pelo Santuário de Fátima vão reunir-se com o Ministério da Saúde "o mais rapidamente possível".

"Já chegou um pedido de reunião ao gabinete por parte da instituição, o que revela bem a preocupação acrescida e com certeza que reuniremos o mais rapidamente possível", disse Lacerda Sales.

O secretário de Estado lembrou que a igreja católica teve, num passado recente, "um comportamento exemplar e de diálogo constante e permanente com as autoridades de saúde".

"Estou convencido que o que se passou ontem foi que a instituição não estaria com certeza à espera, porque não era habitual em outros anos, ter tanta gente e provavelmente quando se apercebeu do número de pessoas bloqueou as entradas. A própria instituição já veio reconhecer este facto", sublinhou.

O secretário de Estado disse ainda ser importante que no próximo dia 13 de outubro, quando se realiza mais uma peregrinação, a instituição esteja "devidamente prevenida e preparada", devendo programar essa data "de forma a garantir a segurança da comunidade e a respeitar a Direção-Geral da Saúde".
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