Ordem dos Médicos nos Açores critica "falta de planeamento" e pede medidas urgentes

por Lusa

Ponta Delgada, Açores, 11 fev (Lusa) -- A responsável pelo Conselho Médico dos Açores da Ordem dos Médicos considerou hoje que a situação que se vive no Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, resulta de "falta de planeamento e estratégia", reivindicando medidas "urgentes".

Isabel Cássio, também médica naquela unidade da ilha de São Miguel, defendeu que, por este ser "um problema de saúde da região e não apenas do hospital", são necessárias "decisões políticas" que clarifiquem qual o papel que cabe ao Divino Espírito Santo e aos centros de saúde na prestação de serviços de saúde.

A representante falava em conferência de imprensa, em Ponta Delgada.

O hospital suspendeu as cirurgias programadas devido, entre outros motivos, à "enorme pressão a nível dos internamentos", segundo uma circular interna a que a agência Lusa teve acesso.

No texto, datado de 05 de fevereiro e assinado pelo diretor clínico do hospital, é referido que "as enfermarias de medicina mantêm uma taxa de ocupação diária de 100% e um número nunca inferior a 18-20 doentes distribuídos nas enfermarias das especialidades".

Os "constrangimentos desta situação são sentidos diariamente", havendo ainda nesta fase um "afluxo significativo" de doentes às urgências, descreve o documento.

A direção clínica e a administração do hospital de Ponta Delgada dizem que têm "chamado a atenção da tutela", há "mais de dois anos", para a necessidade de se ter "uma solução nos cuidados primários e na comunidade de modo a que sejam libertadas as camas ocupadas com casos sociais e de cuidados continuados".

Contudo, prossegue a missiva, "continuam internados um número significativo de utentes com alta médica a aguardar solução social".

Segundo a presidente do Conselho Médico dos Açores, se em termos de medicina geral e familiar "nem todos os utentes têm médico de família, mas tem-se caminhado verdadeiramente neste sentido", a decisão de encerrar os internamentos nos centros de saúde e de diminuir o número de camas dos cuidados continuados colocou "toda a carga no hospital" da maior ilha do arquipélago.

Isabel Cássio referiu que Conselho Médico dos Açores tem de "estar obviamente preocupado quando é o próprio diretor clínico que assume que há alterações na qualidade assistencial" no Hospital do Divino Espírito Santo.

A responsável sublinhou que esta preocupação é extensiva ao corpo clínico e aos diretores clínicos, face à "enorme pressão de internamentos" que surgem através do serviço de urgência desta unidade.

As causas, apontou, são a época gripal, o envelhecimento da população e o facto de o hospital ter "permanentemente um número significativo de camas bloqueadas por doentes (25) que não têm a necessidade" de ali estar, havendo cancelamentos cirúrgicos por esta razão.

A situação conduziu mesmo, segundo Isabel Cássio, ao cancelamento do programa de produção cirúrgica adicional para regularizar a listas de espera existente "há vários anos".

A medida "não é preocupante em termos clínicos", mas "interrompeu-se uma iniciativa que estava a contribuir para a melhoria da qualidade assistencial aos doentes que necessitam de cirurgias na região", sublinhou.

A médica adiantou que foram mesmo canceladas "algumas cirurgias programadas", mas as prioritárias e urgentes estão asseguradas.

A Ordem defendeu o aumento da taxa de vacinação contra a gripe, que "ainda é baixa", e deixou um apelo para que as pessoas não vão ao hospital quando podem solucionar estes casos noutras instituições.

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