PCP junta-se a BE na condenação de conferência de extrema-direita

por Carlos Santos Neves - RTP
O Partido Comunista denuncia o que considera ser “uma ofensa aos que durante décadas se bateram pela liberdade e a democracia” Matthias Hiekel - Reuters

Depois de o Bloco de Esquerda ter defendido a interdição da concentração de organizações de extrema-direita prevista para o próximo sábado em Lisboa, o PCP veio esta quarta-feira repudiar a mesma iniciativa. O Partido Comunista descreve a conferência promovida pela Nova Ordem Social, de Mário Machado, como “uma ofensa aos que durante décadas se bateram pela liberdade e a democracia”.

“O PCP repudia a realização em Portugal de uma denominada conferência nacionalista, anunciada para o próximo dia 10 de agosto”, lê-se em comunicado.O partido Livre criticou as autoridades por não impedirem “a realização da conferência, não obstante a Constituição e as leis da República Portuguesa proibirem a existência de organizações de cariz fascista”.


Para o partido, “a realização de tal evento, no ano em que se comemoram os 45 anos da Revolução de Abril, é uma ofensa aos que durante décadas se bateram pela liberdade e a democracia e em vários casos, nomeadamente militantes comunistas, pagaram com a própria vida”.

Os comunistas concluem o texto sublinhando “os valores progressistas constantes na Constituição da República de rejeição do racismo e xenofobia e de estruturas que perfilhem a ideologia fascista”.

Na terça-feira, o Bloco de Esquerda havia já repudiado a iniciativa do movimento chefiado por Mário Machado, antigo número um do grupo neonazi Hammerskins Portugal, condenado por crimes de cunho racial.

“O Bloco de Esquerda repudia a realização desta reunião e considera que ela deve ser impedida pelas autoridades portuguesas”, propugnou o partido de Catarina Martins, para acrescentar que a conferência “visa promover organizações cujos membros se distinguem no apelo à violência racista”.

Mais de seis dezenas de movimentos antifascistas – 28 portugueses e 37 internacionais – assinaram um manifesto de rejeição da conferência da Nova Ordem Social.

António Nabo, Liliana Abreu Guimarães, António Antunes, Luiz Flores, Liliana Claro - RTP

A plataforma antifascista tenciona, de resto, organizar uma concentração para sábado, no Rossio, em Lisboa, “contra a conferência neonazi”, que contará com a presença de forças partidárias de esquerda; uma petição pública eletrónica desta plataforma somava na terça-feira mais de 5800 assinaturas.
“Intensa difusão de propaganda”

A organização da conferência só deverá tornar público o local do evento no próprio dia. O início está previsto para as 14h00 de sábado. Além de Mário Machado, está confirmada a participação de outros rostos europeus da extrema-direita, nomeadamente Josele Sanchez, de Espanha, Adrianna Gasiorek, da Polónia, Blagovest Asenov, da Bulgária, a italiana Francesca Rizzi, o alemão Mattias Deyda e Yvan Benedetti, de França.A União de Resistentes Antifascistas Portugueses classificou a conferência nacionalista como “um insulto ao povo português que, em abril de 1974, derrubou a ditadura fascista”.

Há aproximadamente uma semana, fonte policial citada pela agência Lusa indicava que o SIS – Serviço de Informações e Segurança estava a seguir “de muito perto” a iniciativa.

Segundo o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) relativo ao ano passado, a corrente de extrema-direita mostrou “grande dinamismo na luta pela reconquista da Europa, nomeadamente no que diz respeito ao combate à imigração ilegal, à islamização, ao multiculturalismo e ao marxismo cultural”.

O mesmo documento salienta que, em 2018, os círculos ditos identitários e neofascistas promoveram conferências, ações de propaganda ou protesto, acontecimentos musicais e até treinos de artes marciais. Isto em “perfeito alinhamento com o modo de atuação dos seus congéneres europeus”.

A corrente skinhead, lê-se ainda no RASI, mostrou-se “menos ativa”. Mas não deixou de agir.

Em suma, a extrema-direita portuguesa dedicou-se a “uma intensa difusão de propaganda em ambiente virtual, com o objetivo de criar condições favoráveis ao sucesso eleitoral de forças políticas nacionalistas ou populistas em 2019”.

c/ Lusa
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