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Pinto Monteiro. Com telefones diretos entre magistrados e jornalistas não há segredo de justiça

por RTP

O antigo procurador-geral da República afirma que “não há segredo de justiça em Portugal” e reconhece que quem o viola é quem conhece o processo. Numa entrevista ao Público e Renascença, Pinto Monteiro diz que quando chegou ao cargo, a investigação ao caso Freeport estava parada.

“Só pode violar o segredo de Justiça quem conhece e quem conhece é o Ministério Público, os advogados, a polícia, os juízes também, funcionários. Quando aparece uma classe que diz "nós não", é falso. Não há ninguém que esteja fora. Quando se pergunta "quem é que viola o segredo de Justiça?" deviam-se levantar todos. Porque não há nenhuma classe dessas que não viole o segredo de Justiça”, afirmou Pinto Monteiro em entrevista publicada esta quinta-feira.

Numa entrevista ao jornal Público e à Rádio Renascença, Pinto Monteiro defende que "não há segredo de justiça em Portugal" e que as duas soluções possíveis são ou acabar com ele ou ter meios de controlo efetivo.

“Enquanto houver telefones directos entre magistrados, polícias e jornalistas, não há segredo de justiça”, acusa Pinto Monteiro,

O ex-procurador-geral diz que o atual líder do PSD, Rui Rio, lhe telefonava a protestar contra as fugas de informação e que era um homem muito preocupado com a relação que dizia haver entre o Ministério Público e os órgãos de comunicação social.

Sobre a necessidade de um pacto na Justiça, de que também falou Rui Rio quando assumiu a liderança do PSD, Pinto Monteiro responde: "Há pactos e pactos. Já houve pactos da Justiça, foram um fiasco, como sabe. Este pacto da Justiça tem uma vantagem: foi discutido entre os intervenientes".

No entanto, diz que no seio das discussões sobre o pacto da Justiça deveria haver representantes dos cidadãos, alegando que "o cidadão é quem sofre mais".
Investigação Freeport parada
Pinto Monteiro argumenta que quando chegou ao cargo de Procurador-geral da República a investigação do caso Freeport estava parada. Diz que foram dados vários prazos e que ficou indignado quando percebeu que os procuradores se queixaram de não ter tido tempo para fazer todas as perguntas que precisavam.

"Eu fiquei indignado porque se eles entendiam aquilo (que precisavam de fazer aquelas perguntas) tiveram anos para as fazer", afirma, insistindo: "Investigaram o tempo que quiseram".

Pinto Monteiro garante que o processo Freeport que investigava José Sócrates “foi tratado por mim como era tratado o médico, o pedreiro, o pintor”.

“O Eng. Sócrates foi tratado como qualquer outra pessoa. Nunca eu interferi em nada. Foi aberta a investigação ao Freeport antes de mim, até. E quando eu tomei posse o Freeport estava parado. Porquê? Porque o Eng. Sócrates tinha ganho as eleições. Pararam! A investigação paradinha! Vão lá e vejam! E a procuradora, que era jovem e estava no Montijo, estava aflita com aquilo. O DCIAP avocou o processo, que era aliás onde devia estar. E investigaram o tempo que quiseram. Não foi o processo mais caro da justiça portuguesa, mas foi dos mais caros da justiça portuguesa. Investigaram tudo, a Judiciária colaborou, investigaram as contas todas do senhor. Não apuraram nada. O PGR nunca mexe num processo”, garante.

“No meu tempo, não havia razões para prender Sócrates”, garante Pinto Monteiro, que diz ter mandado investigar tudo.

"Foi tudo investigado, não houve uma única coisa que não fosse investigada. O problema todo foi só que não se prendeu o Eng. Sócrates porque não havia nenhuma razão para o prender. Se agora há, fizeram bem. Agora, no meu tempo não havia. E todas as investigações deram zero! Pronto, o PGR não investiga, o PGR tem magistrados que investigam", reitera. 

Diz que foi boicotado sobretudo pelo sindicato dos magistrados e que há uma limitação nos poderes do procurador-geral porque o Conselho Superior do Ministério Público (CSMP) é composto maioritariamente pelo sindicato.

"Agora que se discute a reforma da Justiça, há duas coisas fundamentais: uma é que os sindicatos não podem substituir as instituições, os órgãos não podem ser controlados pelos sindicatos. O CSMP não pode ser controlado pelo sindicato e no meu tempo era - agora não sei".
Limitação de mandatos
A propósito da duração dos mandatos do procurador-geral, Pinto Monteiro reconhece que a lei, como está, permite dois entendimentos e que quem vai resolver o assunto terá de ser o Governo e o Presidente da República.

"A única coisa que eu disse é que quando fui convidado ninguém me falou da prorrogação do prazo, não me passou pela cabeça que pudesse ser. A senhora procuradora-geral, ouvia-a dizer duas vezes que o prazo era seis anos. Provavelmente aconteceu-lhe o mesmo que a mim, se calhar também não se deu ao trabalho de ler aquilo".

Sobre o facto de procuradores saírem de funções para ocuparem cargos em instituições privadas como aconteceu com o procurador Orlando Figueira, que está a ser julgado no âmbito da Operação Fizz, Pinto Monteiro diz que propôs ao CSMP que sempre que um magistrado ocupasse um lugar sensível, se saísse voluntariamente, devia estar dois anos sem ocupar um lugar na vida privada.

"Se se tivesse seguido isso não havia o sarilho que há, com o dr. Orlando Figueira (...). Mas o CSMP reprovou esta minha ideia! Chumbaram! E chumbaram porque não interessava ao sindicato, corporativamente, uma coisa destas", acrescenta.

Sobre o facto de Angola defender que o processo da Operação Fizz relativo ao ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente devia ser julgado em Angola, alegando a convenção da CPLP que regula casos judiciais entre os dois países, Pinto Monteiro afirma: "É claro que, se cometeram um crime...se a lei permite que ele seja julgado em Angola, tem de haver fortes razões para não ser".

"Mas eu não estou a par do processo", ressalva.


c/Lusa
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