Em direto
Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos. Acompanhe ao minuto

Portugueses detidos. Santos Silva tenta obter respostas de Caracas

por RTP
“Os esclarecimentos prestados pelas autoridades venezuelanas são muito escassos e muito insatisfatórios”, declarou o ministro português em Nova Iorque Tatyana Zenkovich - Reuters

O ministro dos Negócios Estrangeiros reúne-se esta segunda-feira com o homólogo venezuelano em Nova Iorque para abordar a detenção de dez portugueses e lusodescendentes na Venezuela, acusados de impedirem o abastecimento de produtos básicos e de violarem leis de regulação de preços. Já o secretário de Estado das Comunidades visitará a Venezuela no início de outubro. Também o presidente do Governo Regional da Madeira renova os pedidos de apoio e defende a criação de um corredor humanitário” para enviar alimentos e medicamentos.

“Os esclarecimentos prestados pelas autoridades venezuelanas são muito escassos e muito insatisfatórios”, declarou o ministro português em Nova Iorque, na véspera da Cimeira da Paz Nelson Mandela e da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.

Augusto Santos Silva considera que a ordem de detenção dos emigrantes exige uma reação com "firmeza" por parte de Portugal. “Esta ofensiva das autoridades venezuelanas contra o setor da pequena e média distribuição põe diretamente em causa interesses portugueses. Portugal só pode reagir como está a reagir: com firmeza”, disse o ministro.

O ministro dos Negócios Estrangeiros vai ter “uma reunião bilateral com o meu colega venezuelano, em que evidentemente essa questão será uma das questões essenciais”.

“Para reunir com as comunidades e com os empresários portugueses e para, 'in loco', aprofundar o nosso conhecimento e a nossa ação nesta situação", o secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, vai visitar a Venezuela no princípio de outubro.

Ao lado do responsável pela diplomacia portuguesa, o Presidente da República sublinhou apoiar “todas as diligências do Governo” nesta situação.

“Há uma sintonia total, quer na preocupação, quer naquilo que se pode ir fazendo para enfrentar uma situação que tem de ser tratada com toda a delicadeza, com todo o bom senso que as circunstâncias impõem”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.
Dez mil portugueses saíram da Venezuela
O Governo português considera que a saída de portugueses e lusodescendentes da Venezuela "não tem aumentado".

Nos últimos dois anos, "cerca de dez mil" terão deixado o país, "metade para Portugal, continente e, sobretudo, Região Autónoma da Madeira, e outros cerca de cinco mil para países limítrofes, o Panamá, o Brasil, a Colômbia", estima o ministro dos Negócios Estrangeiros.

Augusto Santos Silva sublinhou que vivem na Venezuela "várias centenas de milhar" de portugueses, luso-venezuelanos e venezuelanos descendentes de portugueses.

Enfrentam uma situação económica e social "muito grave", com "problemas de abastecimento básicos de alimentos ou medicamentos".
Madeira defende “corredor humanitário”
O presidente do Governo Regional da Madeira defendeu, por sua vez, a criação de "um corredor humanitário para mandar apoios para a Venezuela", admitindo tratar-se de "uma ação muito difícil de concretizar neste momento".

Em declarações aos jornalistas, após o encerramento da 28ª Festa da Cidra, Miguel Albuquerque explicou que a concretização do corredor humanitário teria de ser "intermediada pelas associações, para que esses bens não sejam desviados para o mercado negro".

“Estamos a trabalhar com alguma discrição”, acrescentou o presidente do Governo Regional da Madeira, na freguesia do Santo da Serra, no concelho de Santa Cruz.

Durante o discurso, Miguel Albuquerque apelou ao Executivo para que acompanhe de perto os gerentes de supermercados portugueses detidos nos últimos dias.

O apoio do Governo no caso da detenção "dos conterrâneos é fundamental para que eles sintam" que o país está com eles, sustentou. Miguel Albuquerque admitiu estar convencido de que entre os detidos alguns tenham origem madeirense.

Miguel Albuquerque garantiu ainda que vai continuar a apoiar todos os madeirenses que decidam voltar, "sobretudo aqueles que têm regressado em condições mais precárias”, com apoios na saúde, educação e no emprego.

De acordo com o presidente do Governo Regional da Madeira, dois mil estão integrados no mercado de trabalho. Falta colocar outros mil madeirenses regressados da Venezuela.

"Só um povo ingrato é que não reconhece o contributo, durante dezenas e dezenas de anos, os nossos irmãos da Venezuela deram para o desenvolvimento da Madeira", criticou.

A grave crise económica, política e social na Venezuela está a provocar o regresso de muitos portugueses e lusodescendentes a Portugal.

Trinta e oito gerentes de supermercados foram detidos na semana passada, acusados de esconderem produtos aos clientes e alterarem os preços, a meio do programa de recuperação económica que as autoridades venezuelanas implementaram contra a crise que afeta aquele país sul-americano. No sábado, foram libertados mais de duas dezenas.

No entanto, continuaram em prisão preventiva pelo menos dez portugueses e lusodescendentes.

Segundo fonte judicial, os portugueses fazem parte de um grupo de 34 gerentes das redes de supermercados Central Madeirense e Excelsior Gama (que pertencem a portugueses).
pub