Presidente da Comissão de Ambiente "chocado" com poluição da bacia do rio Lis

por Lusa

Batalha, Leiria, 09 abr (Lusa) - O presidente da comissão parlamentar de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação admitiu ter ficado "chocado" com o cenário encontrado hoje na Bacia Hidrográfica do Rio Lis, onde há um "passivo ambiental de muito difícil resolução".

Pedro Soares, eleito pelo BE, liderou a delegação com representantes de todos os grupos parlamentares que, de manhã, visitou pontos críticos, como a ribeira dos Milagres ou os campos do Lis. À tarde, ouviram representantes das câmaras de Leiria, Marinha Grande e Batalha.

"Tudo choca, mas fiquei efetivamente chocado com o que se passa nos campos do Lis, nas áreas onde os detritos são depositados: fica tudo queimado à volta. Aquela ideia que isso até pode ser benéfico para valorização dos solos para fins agrícolas não tem sentido", afirmou à agência Lusa.

Pedro Soares ficou com "uma perceção muito dura do que se está a passar" na região: "além de toda a situação ambiental visível, está a ser criado um passivo ambiental que vai ser de muito difícil resolução. Não podemos continuar a passar anos e anos consecutivos de costas voltadas para este problema, fingindo que não existe, quando se está a acumular há cerca de 40 anos".

Os deputados encontraram "cursos de água completamente poluídos" e, na Ribeira dos Milagres, "onde há mais de 200 explorações suinícolas a descarregar diretamente, sem tratamento, os seus efluentes", reconheceram "um dos casos mais gritantes".

Da presidente da Câmara da Marinha Grande, Cidália Ferreira, ouviram queixas sobre a qualidade do rio Lis que chega à foz, que já levou a praia da Vieira a perder a Bandeira Azul.

Os deputados encontraram ainda solos agrícolas "poluídos com nitratos e metais pesados" e, da Comissão de Ambiente e Defesa da Ribeira dos Milagres, recebeu informação de "lençóis freáticos já contaminados, em alguns casos em profundidade".

"Há um trabalho a fazer, mas não tenho dúvida que vamos pagar bem, todos, os 40 anos de atraso", afirmou o presidente da Comissão de Ambiente, que parte de Leiria "mais consciente da realidade grave" que se vive na zona.

Mas, admite, há também "algum otimismo" com a resolução assumida, na sexta-feira, pela Assembleia da República, "a recomendar ao Governo que avance para uma iniciativa de criação de uma ETES (Estação de Tratamento de Efuentes Suinícolas), liderada pela administração central".

A par da construção da ETES, que custará cerca de 15 milhões de euros e para a qual Pedro Soares considera que o Governo deve aproveitar o atual Quadro Comunitário de Apoio, para "chegarmos a 2020 com a obra ou concluída ou em fase de conclusão", o deputado defende "um quadro legal que leve à obrigatoriedade de entrega dos efluentes" com "fiscalização muito mais apertada".

O presidente da Comissão do Ambiente criticou o "desinvestimento muito grande" na fiscalização, apontando o dedo à Agência Portuguesa do Ambiente (APA), "a autoridade nacional da água".

"Perguntei aos senhores presidentes da câmara se tinham visto por cá a APA e disseram que nunca a viram por cá!", frisou.

Pedro Soares defendeu ainda o início de um processo de descontaminação dos solos: "será complexo, moroso e caro - não é por acaso que os norte-americanos estão a tentar fugir a ele na Base das Lajes", mas é "urgente", porque a região "enfrenta um problema ambiental muito complexo", ainda mais agravado "pelos efeitos do incêndio do Pinhal de Leiria".

 

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