ProTejo fala de "incompetência" na recolha de amostras

por RTP
Lusa

O proTejo – Movimento pelo Tejo acusou a Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ordenamento e do Território de “incompetência” na recolha de amostras na sequência do episódio de poluição registada no rio. Segunda-feira, em entrevista ao Jornal 2, o ministro do Ambiente considerou que a dificuldade em recolher amostras na Celtejo é “estranha” e “insólita”.

As autoridades tiveram dificuldades em recolher amostras na Celtejo, empresa responsável pela maioria das descargas da indústria de papel, tendo sido necessário o apoio da GNR.

“Neste caso é evidente a incompetência revelada pela Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ordenamento e do Território (IGAMAOT) na obtenção de prova pelo facto de ter demorado uma semana a fazer a recolha das amostras. Considerando-se que deveria ter procedido à recolha manual das amostras logo que não obteve resultados com a recolha automática das mesmas, ou seja, no dia seguinte à primeira tentativa, a 27 de janeiro, e não apenas dia 31 de janeiro, uma semana depois do extremo episódio de poluição ocorrido no dia24 de janeiro”, acusa o movimento proTejo em comunicado.

O proTejo destaca que o IGAMAOT tinha informado que na segunda-feira seriam comunicados os resultados das análises realizadas aos alvos de inspeção na sequência do episódio de poluição no maior rio ibérico, em especial no açude de Abrantes, tendo sido essas quatro ETAR urbanas e três empresas, entre elas a Celtejo, Navigator e Paper Prime.

“Os resultados das análises à água do rio Tejo foram conhecidas parcialmente uma vez que o inspetor-geral do Ambiente, Nuno Banza, revelou que os resultados da Celtejo, empresa indicada como responsável pela maioria das descargas da industria de pasta de papel, ainda não são conhecidos visto que a inspeção teve dificuldades em recolher as amostras”, frisa o comunicado da proTejo.

Para o movimento, a demora na divulgação dos resultados das análises pode “colocar em causa a relevância da prova obtida”.
“Tejo tem mesmo de recuperar”
O ministro do Ambiente avisa, por sua vez, que o “rio Tejo tem mesmo de recuperar” e acredita que foram os limites às descargas da Celtejo que permitiram que a qualidade do rio melhorasse nos últimos dias.

Em entrevista ao Jornal 2, Matos Fernandes considerou que a dificuldade em recolher amostras na empresa é “estranha e insólita” e insistiu que é necessário rever as licenças.

O governante afasta um cenário de novos cortes aos efluentes, até porque a fase aguda da poluição verificada está ultrapassada.

O ministro do Ambiente acredita que a recuperação dos níveis de oxigénio verificada nos últimos dias no rio Tejo se deve diretamente ao corte para 50 por cento das descargas da Celtejo.

Foi “essencialmente por causa desta limitação até porque nos últimos dias não tem chovido”, referiu, dizendo que “esta fase passou e temos neste momento melhor qualidade de água no Tejo”.

“Mas o Tejo tem mesmo de recuperar”, insistiu Matos Fernandes referindo aquilo que está a ser feito a nível de recolha de sedimentos e de estudo ambiental. “Já passamos a fase dos ensaios e já estamos de facto a retirar sedimentos do fundo do rio e só em frente ao exutor que faz a rejeição das indústrias do papel, há 12 mil metros cúbicos de sedimentos, que não são lodos, que são sedimentos das indústrias de celulose e que já estão a ser retirados”, afirmou.

O ministro considera “estranho, não só para os jornalistas” e “insólito”, o comportamento de um aparelho que obrigou a várias tentativas de recolha de amostras na Celtejo. Mas daí não advém qualquer responsabilização dos serviços.

“Este caso das amostras é estranho e não só para um jornalista, mas não pode concluir-se que temos dificuldades em recolher amostras”, sublinhou o ministro.

“O que aconteceu foi uma coisa absolutamente insólita, de um aparelho que em outras cinco instalações funcionou de forma regular” e que naquelas ocasiões revelou dificuldades em recolher amostras.

Muito mais importante “do que saber se houve descargas ilegais”, o que é “sobretudo importante perceber é que o Tejo não aguenta a carga orgânica que tem”.

Matos Fernandes defendeu que é necessário deixar de emitir licenças "cegas" de descargas para o rio que não têm em conta o caudal, o que não estava até agora previsto "em lado nenhum da Europa". "A próxima diretiva do quadro da água é que propõe aquilo que vamos fazer agora”, acrescentou.

“Temos mesmo de nos adaptar aos recursos que temos, neste caso a um rio que tem menos, aproximadamente, 25 por cento da capacidade de água que tinha há 10 anos". João Pedro Matos Fernandes frisa que não há dúvidas quanto à origem do recente episódio de poluição registado no Tejo que aponta para as empresas de celulose.

Segundo Matos Fernandes, essa "adaptação" significa “cortar na quantidade de efluentes e melhorar a sua própria qualidade”. O ministro admite que a capacidade de produção industrial irá estar ligada à capacidade das empresas “de inovar e de investir para criar a mesma quantidade de riqueza emitindo muito menos poluição”.

O ministro afastou para já a hipótese de proibir a laboração destas fábricas junto ao Tejo. “Não estamos a trabalhar para isso”, referiu, “nem faz sentido isso ser sequer equacionado”.
Resultados conhecidos segunda-feira
Os resultados das análises à água do rio Tejo foram conhecidos, parcialmente, segunda-feira. O inspetor-geral divulgou que a ETAR de Abrantes não estava a cumprir todos os parâmetros obrigatórios mas desvalorizou os incumprimentos. Nuno Banza revelou ainda que os resultados da Celtejo ainda não são conhecidos.

O inspetor-geral do Ambiente frisou que a recolha de amostras de água à Celtejo, responsável por 90 por cento das descargas orgânicas, houve diversas dificuldades e “constrangimentos inusitados” e que os inspetores tiveram problemas, por duas vezes, com os coletores automáticos que estão instalados junto das zonas de descarga da empresa.

Segundo Nuno Banza, “à terceira tentativa foi pedido o apoio da GNR e o coletor foi guardado durante 24 horas, mas mesmo assim, continha apenas espuma e pouco líquido”.

“Foi necessário colocar três inspetores no local, durante três dias, para assegurar amostras completas das descargas da empresa”, explicou. Nuno Banza sublinhou que uma situação destas nunca tinha acontecido. As análises às amostras feitas pelos inspetores do Ambiente à empresa Celtejo só serão conhecidas na próxima semana.

O inspetor-geral do Ambiente adiantou que foram identificadas quatro ETAR urbanas e três empresas, entre elas a Celtejo, Navigator e Paper Prime, que foram alvo de inspeções.

Dos dados já conhecidos, só os resultados da ETAR de Abrantes é que revela incumprimentos em relação aos níveis de bioquímica e química de oxigénio e de sólidos suspensos totais.

O incumprimento na ETAR de Abrantes verificou-se nos parâmetros de "sólidos suspensos totais, cujo limite é de 35 mg/l e a amostra revelou uma concentração de 55 mg/l, carência bioquímica de oxigénio, cujo limite é de 25 mg/l e a amostra revelou uma concentração de 33 mg/l, e carência química de oxigénio, cujo limite é de 125 mg/l e a amostra revelou uma concentração de 143 mg/l". Estes incumprimentos são desvalorizados pelo inspetor-geral do Ambiente.

"Não consideramos os incumprimentos expressivos", adiantou Nuno Banza. O inspetor-geral explicou que esta ETAR contribuiu apenas com cinco por cento da carga orgânica despejada no Rio Tejo.

c/ Lusa
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