Realizado implante inédito de coração artificial em Portugal. "É como um telemóvel"

por RTP
Petr Josek - Reuters

O ministro da Saúde anunciou esta terça-feira que foi concretizado no Hospital de Santa Marta, em Lisboa, o primeiro implante de um coração artificial definitivo num doente. A cirurgia já é comum noutros países e pode representar mais dez ou onze anos de vida para o paciente. "É como um telemóvel, que dura de carga 17 horas e que à noite tem de ligar a um carregador" explicou o cirurgião José Fragata, que coordenou a equipa responsável pela operação.

Adalberto Campos Fernandes fez este anúncio durante a VI Conferência Sustentabilidade na saúde 4.0 - Investimento em saúde e impacto na vida laboral", a decorrer em Lisboa, uma cirurgia "inédita", já que se trata do primeiro implante de coração artificial definitivo no nosso país, numa operação liderada pelo cirurgião cardiotorácico José Fragata.

Em conferência de imprensa, o cirurgião explicou que a opção de implante de coração artificial é muito restrita. José Fragata explica que tanto a opção de transplante como implante só são aplicáveis em doentes com insuficiencia cardíaca onde a terapêutica com medicação deixa de trazer benefícios.

Para esses doentes, o transplante é a melhor opção. "Mas não há corações para todos, e há doentes que têm contraindicações para serem transplantados porque sofrem de outros órgãos". Era o caso deste doente, um homem com 64 anos que não podia ser transplantado devido a uma doença renal grave.

A operação decorreu na segunda-feira e durou cerca de três horas, informou José Fragata na conferência de imprensa.
"É como um telemóvel"
Este coração artificial não substitui o coração do doente, mas é um auxílio ao cumprimento das suas funcões. Está alojado profundamente dentro do tórax, dentro do saco pericárdico e pulsa o sangue a cinco mil vezes por minuto, uma autêntica bomba que está ligada ao exterior por cabo.

"É uma bomba, aspira e injeta, e que está ligada por uma drive line externa que sai pela parede abdominal do doente e que se liga a um conjunto de baterias", completou o cirurgião.

Essas baterias, com autonomia de 17 horas, são constantemente transportadas pelo doente numa mala a tiracolo. “É como um telemóvel, que dura de carga 17 horas, e que à noite tem de ligar a um carregador”, acrescenta.



Para estes doentes, o aparelho pode significar mais anos de qualidade de vida: "Há pessoas que chegam a viver dez anos e onze anos com estes dispositivos", refere. Existem no mundo mais de 15 mil pessoas que vivem com estes dispositivos artificiais.

O cirurgião clarifica que a cirurgia "não é um passe de mágica, nem uma atitude aventureira”.

“É um projeto de um ano, implicou deslocações ao estrangeiro, implicou parceria com equipas. Foi um projeto de trabalho no contexto de uma equipa conjugada, que engloba cirurgia cardíaca, a cardiologia, a cirurgia vascular", acrescentou José Fragata.

Em Portugal, esta cirurgia nunca tinha sido feita, mas é um tipo de intervenção que é para continuar. "Queremos dar continuidade a este projeto", reiterou.

Com este passo na Medicina em Portugal, espera-se que o projeto venha a ter continuidade. O cirurgião estima que existem em todo o país cerca de 20 a 30 pessoas que aguardam transplante de coração, das quais apenas uma percentagem pequena poderá ser candidata a este tipo de implantes.

A opção de implante é menos provada e mais dispendiosa que o transplante de coração, e só é usada em casos muito específicos como este. Uma operação de implante pode chegar aos 200 mil euros, já que implica a compra de um back-up, um segundo coração por motivos de segurança.

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