Relatório anota queda de novos casos de VIH com "reserva"

por RTP
De 2000 a 2016 o número de diagnósticos de HIV caiu 73,5 por cento Nacho Doce - Reuters

O número de novos casos de infeção pelo VIH mantém, em Portugal, uma tendência de queda. Contudo, a sua notificação tardia obriga a “reserva na leitura” dos dados. É o que recomendam os autores do relatório do Programa Nacional para a Infeção VIH/ SIDA e Tuberculose, divulgado esta segunda-feira.

Em 2016 e até 15 de abril deste ano, segundo o relatório do Programa Nacional, foram diagnosticados e notificados 841 novos casos de infeção por VIH. A taxa é de 8,1 novos casos por 100 mil habitantes.A infeção por VIH está ainda classificada como “um importante problema de saúde pública na Europa e em Portugal”.


No ano anterior a mesma taxa havia sido de 8,3 novos casos por cada 100 mil habitantes. Todavia, ao ajustar-se o valor, levando em consideração o atraso na notificação dos casos, a taxa foi, na verdade, de 9,5 por 100 mil pessoas.

Os relatores sublinham, portanto, que “o aparente decréscimo no número de novos casos deve ser alvo de reserva na sua leitura”.

Ainda assim, as autoridades sanitárias concluem que a tendência de recuo do número de diagnósticos “é inquestionável”.

Sublinham os autores do relatório - antecipadamente sintetizado pela agência Lusa - que, de 2000 a 2016, caiu 73,5 por cento “graças ao acesso a esquemas terapêuticos mais eficazes e à implementação de políticas e estratégias na área das drogas, nomeadamente a descriminalização do uso de substâncias ilícitas e programas de redução de riscos e minimização de danos”. Os autores referem-se, designadamente, aos programas de troca de seringas e de substituição opicácea”.

De 1983 a 2016 foram notificados 55.632 casos de VIH. Destes, 11.008 foram fatais.
Transmissão

No que toca aos locais de residência das pessoas infetadas, 41,1 por cento moravam no distrito de Lisboa, 18,5 por cento no distrito do Porto e 11,3 no distrito de Setúbal. O relatório aponta ainda para um crescimento de 4,6 por cento no número de doentes em tratamento em hospitais públicos.

Outros dados do relatório dizem respeito à transmissão do vírus: 57 por cento dos novos diagnósticos abrangem heterossexuais, seguindo-se a transmissão entre homens homossexuais, que representa 35 por cento dos casos.

A infeção teve, no ano passado, maior prevalência no sexo masculino. Houve sete homens diagnosticados com VIH por cada três mulheres.

Os portadores assintomáticos representaram a maior parte dos casos – 64,3 por cento, contra 70,7 por cento em 2015.

Quanto aos casos de SIDA, os números indicam uma subida de 15,3 por cento em 2015 para 19,1 por cento em 2016.
“Sentido crítico”
A partir de um mecanismo do European Center for Disease Prevention and Control, estima-se que, em Portugal, “utilizando os dados de 2014, o número de pessoas que vivem com VIH (excluindo naturalmente os casos em que já se verificou o óbito) seja de 55.501 (44.470-46.508), das quais 41.073 (40.660-41-504) já estão diagnosticadas (90,3 por cento)”.

“Esta projeção deve ser interpretada com sentido crítico, e merecedora de reavaliação, de acordo com dados epidemiológicos mais recentes e eventuais ajustes que sejam incorporados na aplicação”, sinalizam os relatores.

No documento do Programa Nacional para a Infeção VIH, SIDA e Tuberculose, da Direção-Geral da Saúde, sustenta-se que meta estabelecida para 2020 pela ONUSIDA está à vista.

“Para isso, têm contribuído, para além de todas as instituições e profissionais de saúde, as diferentes organizações da sociedade civil que, ao trabalharem em estreita articulação e complementaridade, tornam esta aspiração atingível”.
Tuberculose
No capítulo da tuberculose, o país logrou cortar para cerca de metade o número de novos casos de 2000 a 2016. Mesmo assim, a taxa de incidência da doença no ano passado foi de 18 por 100 mil habitantes.

“Comparativamente com os dados referentes ao início do milénio, evidencia uma evolução francamente positiva”, refere o relatório, para fazer notar que, em 2000, as taxas de notificação e incidência da doença rondavam os 40 por 100 mil habitantes.

Do conjunto de casos notificados em 2016, 18 por cento abrangeram pessoas nascidas além-fronteiras. Calcula-se que a incidência da tuberculose entre a população estrangeira – 86,7 casos por 100 mil pessoas - seja atualmente 4,8 vezes superior à taxa da população nascida em Portugal.

Os casos voltaram, no ano passado, a concentrar-se nos distritos de Lisboa e Porto.

Por outro lado, os casos de tuberculose multirresistente representaram um por cento do total, sendo que a média europeia ronda os quatro por cento.

c/ Lusa
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