Santa Maria teve nos intensivos 10 crianças com síndrome pós-Covid

por Lusa
O Hospital de Santa Maria também foi chamado a socorrer os mais jovens Miguel A. Lopes - Lusa

O Hospital de Santa Maria já teve internados nos cuidados intensivos pediátricos uma dezena de crianças e jovens com Síndrome Inflamatória Multissistémica, a maioria dos quais tinha passado de forma assintomática pela infeção pelo novo coronavírus.

A diretora da Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) pediátricos, Marisa Vieira, explica que este síndrome, que é como que uma resposta exagerada do sistema imunitário e está associado à infeção por Sars-Cov-2, tem aparecido cerca de quatro semanas após a infeção e que "a maioria destas crianças foram assintomáticas".

Nestes 10 casos, quatro deles já este ano, as crianças/jovens precisaram deste internamento "porque tiveram falência cardíaca importante" e houve um caso mais grave em que o doente teve de estar ligado ao ECMO (sistema que pode substituir os pulmões e o coração).

Como estes doentes não tinham tido quaisquer sintomas de covid-19, não havia nenhum teste positivo realizado anteriormente e foi apenas pela análise serológica no hospital que se percebeu que tinham tido contacto com o vírus.

"O que havia era infeção anterior em contexto familiar, com pais ou avós que tinham sido positivos ao novo coronavírus quatro a seis semanas antes", afirmou.

A febre alta (39,5 graus) e que não cede facilmente (reaparece de quatro em quatro ou de seis em seis horas) é dos primeiros sintomas a manifestar-se.

Além da febre, estes doentes apresentavam ainda "uma componente gastrintestinal importante, com dor abdominal, diarreia e vómitos", e, nalguns casos, "alguma disfunção cardiovascular, com sensação de desmaio e falta de força, o que, quando são internados, se percebe que está associado a alguma disfunção do coração", explicou.

Em declarações à Lusa junto à Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos de Santa Maria, que tem na totalidade oito camas (duas delas em quarto isolado para covid), Marisa Vieira contou que a criança mais nova que ali esteve internada com esta síndrome tinha sete anos e a mais velha 17.

A especialista explicou também que os sintomas que apresentam não são todos iguais e alguns são mais característicos de determinadas faixas etárias: "as crianças mais novas têm mais sintomas que este síndrome partilha com a doença de Kawasaki, mais alterações na pele, algum exantema (manchas), edema das extremidades, olhos muito vermelhos e fissuras nos lábios".

Já os mais velhos, acrescenta, "têm mais disfunção cardíaca, mais uma componente de miocardite".
Retoma de atividade física deve ser acompanhada
A diretora da cardiologia pediátrica do Hospital Santa Maria defendeu que as crianças que tenham tido algum sintoma de covid-19, mesmo que ligeiro a moderado, devem ser vistas pelo médico assistente antes de retomarem a atividade física.

"Para retomar a atividade, sobretudo obviamente (...) no exercício mais intenso - por exemplo, o desporto federado -, devem ser acompanhados e devem contactar o médico assistente. Devem mesmo ser avaliados por alguém da cardiologia e, pelo menos, o eletrocardiograma está recomendado", afirmou Mónica Rebelo.

"Nós temos de nos lembrar das nossas crianças, que na fase aguda muitas são assintomáticos, mas algumas até tiveram sintomas, mas nem os descreveram (...) e, depois, quando retomam a atividade referem um cansaço diferente, uma tolerância diferente ao exercício", afirmou Mónica Rebelo, sublinhando: "Isto é obviamente consequência de terem tido a infeção".
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