"Tirarei as devidas ilações" se comissão de peritos detetar falhas graves

por RTP
Fotografia: Manuel de Almeida - Lusa

A ministra da Administração Interna afirmou que tirará "as devidas ilações" caso a comissão de peritos independentes que vai investigar o incêndio de Pedrógão Grande conclua que houve falha dos serviços que tutela.

Em entrevista à TSF e ao Diário de Notícias, divulgada este domingo, Constança Urbano de Sousa, responde desta forma à pergunta se pensa demitir-se caso esta comissão, proposta pelo PSD e aceite pelo Governo, determinar que houve responsabilidades da tutela.
Demissão "seria a solução mais fácil"
"Tiraremos as devidas ilações e eu tirarei naturalmente as devidas ilações. Agora, neste momento, eu acho que é muito prematuro estar aqui a seguir pelo caminho que é fácil, era o caminho mais fácil a seguir, ia satisfazer uma certa apetência que alguns têm pelo sangue, se quisermos. Mas ia resolver algum problema?", questiona a ministra.

Constança Urbano de Sousa afirma ainda que a demissão seria "a solução mais fácil para si", mas defende que, "numa altura em que o país precisa de tantas respostas, em que o país necessita de regressar à normalidade", é preciso "ter também a coragem para enfrentar os problemas".

"Eu sei que o acontecimento foi trágico e a via mais fácil seria encontrar um culpado, resolvia-se o problema dizendo: pronto, a ministra demitiu-se e o problema está resolvido", mas é preciso "perceber perfeitamente aquilo que aconteceu".

"Infelizmente nós não conseguimos por uma arte mágica sabê-lo de um momento para o outro, é necessário obter muita informação, é necessário analisá-la, é necessário cruzá-la e de muitas fontes, não é um processo simples e linear", sustenta.

Por outro lado, salienta, Portugal tem "um período muito difícil pela frente, a época de incêndios" e o sistema de proteção civil tem de funcionar para "enfrentar as duras batalhas" que podem acontecer nos próximos meses.
"IGAI não tem vocação para fazer inquérito exaustivo"
A ministra com a pasta da Administração Interna diz que uma investigação a tudo o que aconteceu não pode ser levada a cabo pela IGAI - a Inspeção Geral da Administração Interna.

"Se houver alguma indicação de uma falha ou de uma prática menos apropriada que possa por exemplo, dar origem a um processo disciplinar, aí sim, a IGAI terá naturalmente a competência para esse tipo de procedimento. Agora, a IGAI não tem a vocação e nem tem sequer os meios para fazer um inquérito exaustivo a tudo o que se passou naquela ocorrência", referiu Constança Urbano de Sousa.

A ministra destaca também a investigação que já está a decorrer, nomeadamente um inquérito do Ministério Público, para averiguar a causa das 64 mortes e dos mais de 200 feridos nos incêndios de grandes dimensões que atingiram a região centro.

"É uma tragédia que temos que lamentar, com causas que têm que ser averiguadas. Temos de saber o que é que causou aquelas mortes, se houve negligência, se não houve. Portanto, é um processo que está neste momento em curso", referiu a ministra em entrevista à TSF e ao Diário de Notícias.
Não pode haver “caça às bruxas”
Constança Urbano de Sousa voltou a dizer que o apuramento do que se passou exige tempo e que não pode entrar num processo acelerado de encontrar responsáveis à força.

“As coisas têm o seu tempo e não podemos estar aqui neste clima, se quisermos, de um processo de caça às bruxas para tentar encontrar culpados. Eu sei que temos todos uma necessidade enorme de encontrar um culpado, um A ou um B. Agora, isso não é forma de lidar de forma séria, se quisermos, com a tragédia que se abateu sobre todos nós e sobre aquela região, aqueles concelhos em particular.

A ministra explicou ainda que "Estamos a pedir muita informação e a coligir muita informação dispersa por várias entidades que operaram naquele terreno, de forma a podermos analisá-la, cruzá-la e tirar ilações que não sejam precipitadas. Isso é um trabalho que não se faz, infelizmente, de um dia para o outro".

A entrevista a Constança Urbano de Sousa foi gravada na sexta-feira às três da tarde. Na noite de sexta-feira foram conhecidas as respostas da Autoridade Nacional de Proteção Civil, reconhecendo falhas no SIRESP, assunto que é tema nesta entrevista. A atualização da entrevista não foi possível porque a ministra "não pretende fazer novas declarações sobre a matéria até receber o relatório circunstanciado que já tinha pedido ao SIRESP".
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