Três em cada quatro médicos do Norte insatisfeitos com condições no Serviço Nacional de Saúde

por Lusa

Lisboa, 11 dez (Lusa) -- Três em cada quatro médicos da região Norte estão insatisfeitos com as condições de trabalho no Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente com os rendimentos, com cerca de metade dos especialistas a receber menos de 3.000 euros brutos mensais.

O estudo "A carreira médica e os fatores determinantes da saída do Serviço Nacional de Saúde (SNS)", realizado na região Norte de Portugal, mostra globalmente que os médicos estão descontentes com as condições de trabalho e que os que saem do SNS o fazem para procurar condições mais compensatórias.

Apesar do descontentamento com os rendimentos, esta não é uma das causas referidas pelos médicos que optam por sair do SNS, para emigração, reforma antecipada ou para o privado.

A insatisfação com o trabalho no SNS prende-se sobretudo com o número de horas efetivamente exercidas, "muito frequentemente acima das horas contratualizadas", e com a falta de oportunidades de progressão.

"Destaca-se a significativa insatisfação com o rendimento auferido do trabalho realizado no SNS (...). Apesar desta insatisfação generalizada com a remuneração, não se revelou um aspeto impulsionador da saída do SNS ou, em caso de aumento, de incentivo à permanência", refere o estudo conduzido por Marianela Ferreira, investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, com a colaboração da Ordem dos Médicos, a que a agência Lusa teve acesso.

O universo potencial do estudo era de mais de 13 mil médicos inscritos na Secção Regional Norte da Ordem em 2016, tendo respondido mais de dois mil médicos, sendo que a análise foi realizada em duas fases distintas: um grupo que integrou os médicos especialistas ativos a exercer no SNS e um outro em que estão incluídos médicos que já saíram do sistema público e os que estavam a realizar o internato da especialidade.

Em declarações à agência Lusa, Marianela Ferreira, autora do estudo, considera que do ponto de vista científico "a amostra é robusta" e "dá uma perceção de consistência relativamente aos resultados obtidos", lembrando que as respostas e adesão dos médicos ao estudo eram voluntárias.

Na primeira parte do estudo, numa análise a cerca de 1.400 rendimentos de especialistas no SNS, mostra-se que quase 47% recebem menos de 3.000 euros mensais brutos, 20% auferem entre 3.000 e 3.500 euros mensais, 10% recebem entre 3.500, a 4.000, 7,8% ganham acima de 4.000 e menos de 4.500 euros mensais, há 8% a ganhar perto de 5.000 euros e 7,3% conseguem num mês mais de 5.000 euros brutos.

Mais de 60% dos médicos especialistas inquiridos na primeira etapa do trabalho admitiram estar insatisfeitos ou muito insatisfeitos com o número de horas de trabalho, considerando-o excessivo, sendo que a percentagem de descontentamento sobre para os 74% quando está em causa o tempo disponível para a família, amigos ou lazer.

Também cerca de seis em cada dez médicos do Norte inquiridos se mostraram insatisfeitos ou muito insatisfeitos com a progressão na carreira.

O relacionamento com os colegas de profissão surge como o indicador que mais médicos satisfaz, com cerca de 80% a mostrarem-se satisfeitos ou muito satisfeitos.

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