Mação ameaçada pelo fogo

por RTP
Nuno André Ferreira - Lusa

Patrícia Gaspar, da Autoridade Nacional de Proteção Civil disse à RTP que esta noite representa uma “janela de oportunidade” para controlar as chamas. Dezenas de aldeias evacuadas e estradas cortadas fazem parte do relato de um dia em que milhares de bombeiros estiveram mobilizados no combate às chamas. O incêndio chegou perto da vila de Mação, mas à meia noite, a situação operacional estava mais tranquila, apesar de "haver ainda muito trabalho", de acordo com a autarquia.

Vasco Estrela, presidente da autarquia, descreveu à meia noite um cenário mais tranquilo do que aquele que se viveu por volta das 21horas, depois de os bombeiros terem conseguido conter as chamas junto a Mantela.

A frente de incêndio que esteve muito perto de Mação, distrito de Santarém, cedeu ao trabalho dos bombeiros, que contaram com a ajuda da mudança do sentido do vento, segundo o autarca local.

"A frente de fogo cedeu ao trabalho dos bombeiros e a vila pôde ficar a salvo. Esperamos que não haja reacendimentos", disse à agência Lusa o presidente da Câmara de Mação, Vasco Estrela, acrescentando que, cerca das 00:00, existiam "alguns pontos críticos" perto da vila, como a aldeia de Mantela.

"Esta frente está ancorada no vale, junto a Mantela, não atingiu o lugar e estão lá muitas máquinas de rasto e bombeiros para combater o fogo, sendo esta uma boa oportunidade para resolver a situação", adiantou.

A situação “não é a desejável”, refere o autarca lembrando que já houve 20 aldeias evacuadas, mais de duas centenas de pessoas retiradas das suas casas. Vasco Estrela reiterou que há ainda muito trabalho até a situação estar em definitivo resolvida e que a situação se pode complicar outra vez.

No entanto, o ambiente, era à meia noite, mais calmo do que ao início da noite.

"Esta noite em Mação ninguém vai dormir". As palavras são de António Louro, vice-presidente da Câmara de Mação, já depois das 22h00, quando as chamas chegavam ao perímetro urbano da vila.

Perante a progressão e intensidade das chamas, o autarca admitia a forte probabilidade de o incêndio entrar na vila de Mação. 

A aldeia de Mantela, a cerca de um quilómetro da vila, foi evacuada pouco antes das 22h00. A prioridade passou a ser proteger as casas e as populações de Mação. O autarca considerou que "os meios finalmente apareceram", mas admitiu que a luta ao fogo não depende apenas da existência de meios.

Em conjunto com os números de terça-feira, foram evacuadas mais de duas dezenas de aldeias só em Mação, num total superior a 200 pessoas.
 
Uma das frentes deste incêndio que mais preocupa as autoridades está já noutro concelho, em Vila Velha de Ródão. O fogo começou em Mação e já obrigou à retirada de cerca de 30 pessoas nas aldeias de Riscada e de Gardete. 
“Tudo foi feito”
De assinalar que este incêndio de Mação que continua por dominar, teve origem no fogo de domingo, na Sertã, e seguiu esta quarta-feira em grande força até Vila Nova de Ródão, tem sido um ponto de grandes críticas apontadas à Proteção Civil. 

O presidente da Câmara de Mação, Vasco Estrela, tem sido especialmente crítico quanto à coordenação das atividades, tendo enfatizado ao longo dos últimos dias que o combate aos fogos tem sido assegurado por populares em determinadas zonas. 

Vasco Estrela disse mesmo que a autarquia vai questionar as autoridades “para que possam justificar as razões que levaram a algumas decisões relativamente ao posicionamento de meios”. A autarquia refere que já arderam pelo menos 15 mil hectares de mato, o equivalente a metade do total de área florestal de Mação. 

Num dia em que a Proteção Civil recebeu as palavras de alento e confiança do primeiro-ministro, que se deslocou esta quarta-feira à sede da ANPC para conhecer a situação dos incêndios em território nacional, as autoridades respondem que “tudo foi feito” no combate ao incêndio que começou na Sertã.  

"Durante a tarde de hoje, numa altura em que tínhamos em curso no país 19 ocorrências de incêndios florestais, que concentravam 2.426 operacionais, 738 meios terrestres e 32 meios aéreos, cerca de metade destes meios concentravam-se praticamente no incêndio da Sertã”, sublinhou Patrícia Gaspar, adjunta das operações da ANPC. 

“Só no setor de Mação tínhamos empenhado cerca de 1.000 operacionais, apoiados por 280 veículos, seis aviões pesados Canadair, dois aviões médios Fireboss, dois helicópteros ligeiros e seis máquinas de arrasto”, acrescentou a responsável durante o briefing, a que assistiu o chefe de Governo. 

A adjunta de operações sublinhou que a mobilização para este incêndio tem sido “absolutamente extraordinária” e que este número de meios “não é comum” para um só incêndio. 

Estamos a reforçar com tudo aquilo que é possível, e aquilo que temos feito é a gestão destes meios em função daquilo que é o comportamento do incêndio e daquelas que são as prioridades que a todo o momento s vão sendo elencadas no posto de comando operacional", acrescentou.

Patrícia Gaspar esclareceu ainda que nunca houve uma desmobilização de meios, apesar de muitos populares e dos próprios autarcas se queixarem de algum desamparo. 

“Estamos a falar de uma área bastante vasta e o incêndio não tem sempre o mesmo comportamento. Ele tem sido condicionado, não só pelo relevo, mas sobretudo muito pela força do vento", justificou a responsável. 
Estradas cortadas
Tal como nos últimos dias, há registo de várias estradas cortadas na sequencia destes incêndios. A A23 foi cortada entre o nó de Abrantes e de Gardete, no concelho de Vila Velha de Ródão, afetando os dois sentidos de circulação. 

Já no IP2 foi totalmente cortada a variante de Celorico da Beira, distrito da Guarda, que assegura a ligação para a A23, em direção a Trancoso. Como alternativa, é possível circular pela EN102 

Em Portalegre, a EN18 estava interdita junto à localidade de Nisa e também perto da Ponte do Fratel, na direção de Vila Velha de Ródão.  
Em Nisa encontrava-se também cortada a estrada municipal 528 junto à localidade de Arez, em direção à A23. 

c/ Lusa
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