Voluntário recusado pelos bombeiros ajuda a salvar do fogo dezenas de casas em Mação

por Lusa

Mação, Santarém, 19 ago (Lusa) -- Um desempregado que os bombeiros não aceitaram como voluntário, ajudou nos últimos dias a salvar, com um kit cedido pela Câmara de Mação, dezenas de casas no concelho que desde terça-feira à noite está a ser fustigado pelo fogo.

Augusto Filipe, de 53 anos, quis em tempos ser bombeiro mas, viu recusados os préstimos oferecidos aos voluntários de Mação porque "disseram que morava longe e que quando a sirene tocasse ia demorar muito tempo a chegar", contou hoje à agência Lusa.

À época, a longínqua morada era em Aboboreira, freguesia onde na noite de terça-feira deflagrou um incêndio que já consumiu mais de 80% da área florestal do concelho de Mação.

E foi para lá que, "assim que soube do fogo", Augusto foi com um kit, ou seja um depósito com cerca de 700 litros de água e uma mangueira, que permite aos moradores das aldeias mais isoladas atacar as chamas até à chegada dos bombeiros.

Os kit´s foram distribuídos pela Câmara de Mação a todas as juntas de freguesia do concelho e o da Aboboreira há vários anos que é entregue a Augusto Filipe que, sem farda e sem estatuto de bombeiro, faz por conta própria o trabalho de um voluntário.

Ao `kit` da junta juntou mais um que pagou do seu bolso para "ter mais capacidade de acudir às pessoas", como tem feitos nas últimas semanas, acorrendo a várias localidades da região onde as chamas se aproximaram das povoações.

Desde quarta-feira já ajudou a salvar "dezenas e dezenas de casas" em Casalinhos, Penhascoso, Monte Penedo, Serra, Entre Serras, Ribeira de Boas Eiras, Lercas, Ortigas, de cujos nomes o cansaço dificulta a lembrança.

Em Queixoperra, onde vive agora, "se não fosse o kit tinha ardido uma casa toda", contou à Lusa, recordando o momento em que "até as mangueiras arderam e os bombeiros tiveram que fugir" das chamas "com mais de 20 metros de altura".

Mas o pior de todos os cenários encontrou-o na sexta-feira, quando cerca das 20:00 "se gerou um horror no Parque de campismo de Ortiga, com mais de 50 tendas em risco de ficarem queimadas ou derreterem com as altas temperaturas".

É também "por alto" que vai fazendo as contas aos "90 euros que já gastou em gasóleo para a carrinha" que leva o kit de terra em terra, ou aos "40 litros de gasolina para a moto-bomba" que puxa a água com que vai abastecendo o depósito, "nos furos por onda vamos passando, nos autotanque dos bombeiros, ou onde calha".

"Se calhar, a Câmara depois paga essas despesas", mas para já, Augusto Filipe ainda não viu "um tostão" para compensar o que já investiu a tentar garantir a segurança das populações do concelho.

Nada que o demova de continuar, garantiu à Lusa, durante uma pausa para um café no Centro Recreativo de Queixoperra.

"Tenho a carrinha preparada com o Kit e, se vir o vento a levantar ou começar a ver alguma coluna de fumo é só mudar de roupa e seguir para onde houver fogo", rematou.

O incêndio que deflagrou no concelho de Mação, distrito de Santarém, às 00:01 de quarta-feira mantinha-se às 16:30 de hoje, segundo a página na Internet da Autoridade Nacional de Proteção Civil com Uma frente ativa que está ser combatida por 806 operacionais, apoiados por 232 meios terrestres e 3 meios aéreos.

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