Panama Papers: dez caras associadas ao novo escândalo da finança mundial

por Christopher Marques - RTP
Com o nome envolvido no escândalo, o Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, afiança que não foi violada qualquer lei Reuters

São mais de 11 milhões de documentos, envolvendo algumas grandes figuras internacionais. O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação avança que estão envolvidos pelo menos 140 políticos de 50 países. Em causa, associações a empresas offshore em 21 paraísos fiscais. São chefes de Estado, políticos, figuras do desporto e celebridades mencionados nos Panama Papers.

Os amigos de Vladimir Putin
É um dos nomes mais destacados esta segunda-feira nos jornais. Apesar disso, o nome do presidente russo não aparece diretamente nos dados já analisados. A relação, essa, permanece.

Os documentos do Panamá mostram uma rede clandestina constituída por aliados e associados do presidente que movimentam milhares de milhões de euros entre bancos e companhias offshore. Uma rede que não seria possível existir sem a aprovação de Putin.

Entre os alegados mandatários de Vladimir Putin aparece Sergei Roldugin, o seu melhor amigo. Num artigo publicado no Expresso, o Consórcio de Jornalistas refere mesmo que “ler os nomes envolvidos nesta rede é como ter acesso ao livro do último ano de liceu de Vladimir Putin: todos amigos de longa data, todos confidentes próximos”.

O que não aparece é o nome de Vladimir Putin.
Gunnlaugsson: o líder da Islândia
A Islândia era apontada como um exemplo na gestão pós-crise de 2008: políticos acusados, banqueiros presos, um país a virar a página. Os Panama Papers lançam muitas dúvidas sobre esta mudança.

Os documentos revelam que o primeiro-ministro e a sua esposa foram proprietários de uma empresa offshore que terá sido utilizada para esconder milhões de dólares. Os documentos revelam ainda um potencial conflito de interesses: a empresa em causa era credora de alguns dos bancos nacionalizados em 2013.

Reportagem de Ana Rita Freitas, João Caldeirinha - RTP

A empresa, denominada Wintris, era propriedade de Gunnlaugsson e da esposa até ao dia 31 de dezembro de 2009. Na altura, Gunnlaugsson cedeu a sua parte à esposa pelo preço simbólico de um euro. O atual chefe de Governo não tornou pública a existência desta empresa nas suas declarações de património entregues quando foi eleito deputado (2009) e primeiro-ministro (2013).

A existência da Wintris foi apenas divulgada a 15 de março pela esposa do primeiro-ministro - uma revelação feita no Facebook, poucos dias depois de o primeiro-ministro ter sido questionado pelo consórcio responsável pela investigação.

Perante o escândalo, a oposição já pediu a demissão do primeiro-ministro Gunnlaugsson. O chefe de Governo recusa sair e nega qualquer prática ilegal.

Os Panama Papers lançam também dúvidas sobre dois dos principais ministros islandeses: Bjarni Benediktsson, ministro das Finanças e da Economia e Olof Nordal, ministra do Interior.
Poroshenko: o presidente da Ucrânia
Os documentos revelam que Petro Poroshenko registou uma empresa nas Ilhas Virgens britânicas a 21 de agosto de 2014, em plena guerra com os separatistas pró-russos.

A empresa não foi referida nas declarações de rendimento do presidente ucraniano. Num comunicado divulgado no Facebook, Poroshenko não nega a existência da Prime Asset Partners.

No entanto, o Presidente da Ucrânia assegura que não foi violada qualquer lei.

A Procuradoria-Geral da Ucrânia afirma também que analisou as informações e não encontrou “nenhum indício de crime”.
Messi: o bola de ouro
Os problemas de Messi com o fisco não são novidade. O jogador do FC Barcelona deverá ser julgado em breve na Catalunha por uma fraude fiscal superior a quatro milhões de euros.

Neste caso, a justiça acusa-o de não ter declarado alguns dos seus rendimentos entre 2007 e 2009.

Agora, o Panama Papers traz dúvidas sobre um período mais recente. O consórcio de jornalistas revela que o craque argentino e o seu pai passaram a ser, a partir de junho de 2013, beneficiários da Mega Star Enterprises.

Esta é uma empresa sediada no Panamá e criada pela Mossack Fonseca. Em dezembro de 2015, o pai de Leonel Messi passou a ser o único acionista da sociedade.
Macri: o Presidente da Argentina
Os documentos da Mossack Fonseca revelam que o atual presidente da Argentina foi administrador da Fleg Trading, uma empresa offshore com sede nas Bahamas.

A empresa foi criada em 1998 e manteve-se ativa até 2009, nomeadamente nos anos em que Macri foi autarca de Buenos Aires.

Nas declarações de património que Macri fez em 2008 e 2009, a existência da Fleg Trading não é referida.

Em resposta à denúncia, o porta-voz de Mauricio Macri referiu que a existência da empresa não foi referida nas declarações oficiais porque o político argentino não tinha qualquer participação no capital social da sociedade.

Refere ainda que a empresa está ligada aos negócios da família no Brasil e que foi nesse âmbito que Macri foi seu administrador.
Vasconcelos: o ministro de Angola
Engenheiro, ex-funcionário da Sonangol, antigo e atual ministro do Petróleo, ex-ministro da Energia e da Água e ex-presidente da OPEP. José Maria Botelho de Vasconcelos é agora também um dos nomes que aparece no escândalo Panama Papers.

O governante era, em 2001 aquando da sua primeira passagem pelo Ministério do Petróleo, um dos poderosos da Medea Investments Limited, uma sociedade offshore que começou por estar sediada na ilha de Niue.

Foi mais tarde transferida para as ilhas Samoa. O capital da empresa está dividido em ações ao portador. Ou seja, o nome dos proprietários não é referido, bastando apresentar os documentos para exercer o poder. Esta é uma forma de manter a estrutura anónima.

A empresa foi encerrada em fevereiro de 2009, já depois de Botelho de Vasconcelos ter voltado a assumir as rédeas do Ministério do Petróleo de Angola.
Idalécio Oliveira: o nome português
Idalécio Oliveira, dono das empresas Lusitania Group, terá vendido à Petrobras áreas de exploração de petróleo no Benim, em África. É o único nome português, conhecido até agora, relacionado com o processo Panama Papers.

Segundo o jornal brasileiro O Estado de São Paulo, Idalécio Oliveira terá aberto 14 empresas offshore meses antes de realizar a venda.

Os documentos divulgados agora pelos Panama Papers revelam que o português terá transferido 8,8 milhões de euros, através de uma empresa registada pela Mossack Fonseca, para uma conta na Suíça.

Conta que é, alegadamente, gerida por dois nomes ligados ao PMDB, partido político do Brasil, que estão a ser investigados na Operação Lava Jato.
Platini: as ligações ao futebol
Suspenso do cargo de presidente da UEFA devido a um caso de corrupção, Platini aparece agora associado a um novo escândalo.

O ex-jogador francês aparece como dono e único administrador da Balney Enterprises, uma sociedade criada no Panamá poucos meses de ter sido eleito presidente da UEFA.

A empresa permanece ativa, bem como as dúvidas sobre a sua função.

Na reação à investigação, a equipa de Platini avança que “a totalidade das contas e dos bens” do ex-Presidente da UEFA são do conhecimento das autoridades suíças, país onde reside desde 2007.

Também o nome de Jerôme Valcke, ex-secretário-geral da FIFA, aparece nas listas em investigação.

Valcke foi o único acionista de uma empresa offshore sediada nas Ilhas Virgens britânicas e que foi utilizada para adquirir um iate em 2013.Almodôvar: as ligações ao cinema
O realizador espanhol manteve o poder entre 1991 e 1994 da empresa Glen Valley Corporation, registada nas Ilhas Virgens britânicas.
A empresa está associada a Pedro Almodôvar, bem como ao seu irmão e produtor Agustín Almodóvar.

O jornal El Confidencial revela que a empresa apresentava um capital inicial de 50 mil dólares mas não avança com os montantes que terão passado pela empresa.

Também não são referidos eventuais atos ilícitos, nem a finalidade da Glen Valley Corporation. Na reação às notícias, Almodóvar garantiu que tem “todas as obrigações tributárias” em dia.

Também o nome de Jackie Chan aparece nos documentos sob investigação. O ator figura como acionista de seis empresas com sede nas Ilhas Virgens britânicas.
Ian: o pai de David Cameron
O pai do primeiro-ministro David Cameron ajudou famílias abastadas a fugir ao fisco. Ian Cameron aparece como diretor do fundo Blairmore Holdings, uma empresa offshore com sede nas Bahamas. Através dela, permitiu a famílias abastadas escaparem ao pagamento de impostos.

Através da contratação de cidadãos das Bahamas, foi possível evitar o pagamento de impostos devidos ao fisco britânico.

O fundo geria milhões de libras de famílias abastadas. Em 30 anos, a Blairmore Holdings não pagou qualquer imposto sobre os seus lucros no Reino Unido.

O primeiro-ministro David Cameron não respondeu às questões do The Guardian sobre o assunto.

Questionado sobre a possibilidade de a família Cameron manter investimentos no fundo, a porta-voz do primeiro-ministro referiu que este é “um assunto privado”.
Mais de 100 personalidades
As associações destes e dos restantes citados nos documentos encontram-se desenvolvidos nesta infografia desenvolvida pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação.

Os dados têm por base os milhões de documentos da Mossack Fonseca e que foram estudados pelo consórcio. A Mossack Fonseca é uma firma de advogados sediada no Panamá, fundada em 1977 e presente em mais de 40 países. Tem 600 trabalhadores espalhados pelos cinco continentes e é o quarto fornecedor mundial de serviços offshore.


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