Conselho Nacional do PSD reúne-se com liderança de Rio em jogo

por Carlos Santos Neves - RTP
Rui Rio em visita aos Estaleiros Navais da WestSea, em Viana do Castelo, no início da semana Arménio Belo - Lusa

O destino imediato da liderança de Rui Rio é esta quinta-feira confiado aos mais de 130 membros do Conselho Nacional do PSD. O presidente dos social-democratas submete ao órgão máximo do partido entre congressos uma moção de confiança - a resposta, pela negativa, ao repto de Luís Montenegro para a marcação de eleições diretas.

“Golpe palaciano”, segundo Rui Rio. “Tempo de confronto político”, na perspetiva de Luís Montenegro. Com o partido em modo de fratura, o Conselho Nacional do PSD debruça-se, a partir das 17h00, hora que valeu mais críticas internas ao líder desafiado, sobre uma moção de confiança que determinará a sobrevivência ou a queda da liderança que sucedeu à era de Passos Coelho.A reunião decorre num hotel do Porto e terá início com uma intervenção de Rui Rio.


O termómetro da tensão na maior força política da oposição contrasta, por esta altura, com os números da meteorologia. O campo encabeçado pelo ex-líder parlamentar chega ao dia da decisão com uma mensagem, a de que se impõe “salvar o PSD do abismo”.

Foi nesse tom, de resto, que Montenegro se apresentou, no passado dia 11, como candidato à cadeira de Rio. “Se tem mesmo Portugal à frente de tudo, mostre coragem e não hesite em marcar estas eleições internas, não tenha medo do confronto, não se justifique atrás de questões formais”, instava então.

No dia seguinte, munido da estratégia da moção de confiança e acusando o adversário declarado de prestar um serviço de “primeiríssima qualidade ao PS e a António Costa”, Rio redarguia: “A minha resposta é não”.

Luís Montenegro averbou na quarta-feira, pela manhã, o apoio público de outra figura da governação partilhada por PSD e CDS-PP, José Pedro Aguiar-Branco. Em entrevista ao Expresso - e mais tarde à RTP3 -, o antigo ministro da Defesa e da Justiça justificou o seu posicionamento com o que descreveu como a necessidade de uma “alternativa clara e inequívoca” à atual fórmula governativa.

À noite, na Grande Entrevista, Nuno Morais Sarmento, vice de Rio na direção laranja, disparou quer na direção do flanco oposto, quer na direção de Belém, ao estimar que Marcelo Rebelo de Sousa, “num frenesim de omnipresença”, incorreu num erro ao receber Luís Montenegro em audiência. O vice-presidente do PSD afirmou também que “talvez Rui Rio até gostasse de ir a diretas”, para contrapor que essa seria uma via danosa para o partido.

Sandra Machado Soares - RTP

“Eu gosto de desafios, gosto de confrontos. Mas não pode haver diretas. Acima do Nuno Morais Sarmento, do Rui Rio ou do Luís Montenegro, seguramente, existe uma coisa que é o PSD”, enfatizou.
A agenda

Além da escolha da hora, a controvérsia dos últimos dias subiu também de tom quando se colocou a questão da forma como os 135 conselheiros nacionais vão votar a moção de confiança - por sufrágio secreto, de braço no ar ou nominal. Dúvida que persiste.
“Isso é uma questão da vida partidária. Não comento”, respondeu na última noite o Presidente da República, quando questionado sobre a forma como o Conselho Nacional do PSD vai votar a moção de confiança.

Sabe-se já que os críticos do atual líder levam para a reunião um requerimento a pedir votação secreta. E que Mota Amaral, antigo presidente da Assembleia da República, é o rosto de um outro a defender o voto nominal, algo que os estatutos do PSD não preveem, tão-pouco o regulamento do Conselho Nacional.

Este último estipula, como a norma, que as votações sejam efetuadas de braço erguido, excetuando-se os casos de eleições, deliberações sobre a situação de um membro do Conselho Nacional e “deliberações em que tal seja solicitado, a requerimento de pelo menos um décimo dos membros” do órgão “presentes”.

Paulo Mota Pinto, o presidente do órgão máximo entre congressos, atirou para a reunião o debate sobre “a condução dos trabalhos e a votação”, afiançando que só falaria “perante os conselheiros”.

Outro cenário passaria por uma suspensão motivada pelo duelo jurídico em torno, uma vez mais, da forma da votação, como sintetiza a jornalista da rádio pública Natália Carvalho.

Antena 1

Haverá ainda lugar a um requerimento em defesa da presença de Luís Montenegro no Conselho Nacional, onde não tem assento.

A ordem de trabalhos dita que o Conselho Nacional comece com um discurso do presidente do PSD, a que se seguirá uma sequência de intervenções que pode empurrar a decisão noite dentro. Haverá, em princípio, pausa para jantar.

É o artigo 68.º dos estatutos do partido que determina que “as moções de confiança são apresentadas pelas Comissões Políticas e a sua rejeição implica a demissão do órgão apresentante”.

c/ Lusa
pub