Costa admite "exageros" mas enfatiza "salvaguarda da vida humana" em Monchique

por RTP
O primeiro-ministro António Costa acompanhado pelo presidente da Câmara de Monchique, Rui André, na chegada ao concelho após o incêndio Luís Forra - Lusa

O primeiro-ministro deslocou-se esta sexta-feira a Monchique, uma semana após o início do incêndio que lavrou ao longo dos últimos dias no barlavento algarvio. António Costa esteve reunido com os autarcas da região e anunciou a criação de um programa de reordenamento económico para a serra. Em resposta às críticas dos populares sobre as operações de evacuação em várias localidades, o chefe do Governo prefere destacar que não houve vítimas mortais a lamentar.

O dia em Monchique ficou marcado pela visita do primeiro-ministro ao concelho, precisamente uma semana depois do início do fogo. Para além das visitas ao posto de comando e aos locais onde foram alojados os populares, António Costa esteve reunido durante a tarde com os presidentes de câmara dos concelhos afetados pelos incêndios. 

Antes, em declarações aos jornalistas, o chefe de Governo reconheceu que pode ter havido excessos por parte das autoridades na evacuação de zonas afetadas, mas que tudo foi feito em prol da proteção da vida humana.

"Pode ter havido aqui ou ali algum exagero, poderá ter havido, se houver haverá com certeza meios para atuar, mas agora, globalmente, aquilo que é absolutamente essencial sublinhar é que, perante a gravidade do incêndio (…) é que não houve perdas de qualquer vidas humanas", afirmou António Costa à chegada à Câmara de Monchique.

Numa fase em que o incêndio é dado como dominado, mas ainda não está extinto, a Proteção Civil começa a retirar operacionais do terreno de forma gradual, mantendo-se um dispositivo no terreno a assegurar que não há reacendimentos. Enquanto isso, as autoridades já preparam a reconstrução e reabilitação de habitações e território.  

Em nova declaração aos jornalistas após a reunião de cerca de três horas com os autarcas de Monchique, Silves e Portimão, o primeiro-ministro delineou cinco aspetos principais a ter em conta. Em primeiro lugar está a recuperação de pelo menos 17 casas de primeira habitação destruídas, 13 em Alferce e quatro em Monchique. 
Cinco áreas prioritárias

António Costa referiu que vão estar disponíveis apoios pelo programa Porta de Entrada. Já a partir da próxima semana, vão estar disponíveis quatro linhas de atendimento para prestar esclarecimentos sobre apoios financeiros. A meio da semana deverão também estar disponíveis duas unidades móveis para outro tipo de ajudas, nomeadamente a renovação de documentos de identificação que tenham sido perdidos durante o incêndio.  


Quanto a empresas, o primeiro-ministro disse que ainda não foi identificado nenhum caso. O trabalho de contacto com empresas potencialmente afetadas que ainda não o tenham comunicado às autoridades será feito pelas autarquias locais.   

Em terceiro, o primeiro-ministro falou ainda da prioridade de alimentar os animais desta região. Para esse efeito, o Governo, mais concretamente o Ministério da Agricultura, abriu uma unidade de apoio a animais de explorações afetadas na Herdade do Patacão, em Faro. Este centro de entrega de ração de emergência, palha e feno pretende colmatar a situação no terreno após o incêndio de Monchique.  

Em quarto lugar está ainda a prioridade de evitar derrocadas e contaminação dos aquíferos, pelo que há já uma equipa de técnicos especializados em conservação da floresta no terreno afetado.

Não menos importante neste conjunto de medidas é a criação de um programa de reordenamento económico para a serra de Monchique, que será coordenada pelo presidente da Câmara.  

Sem prazos mas com a intenção de operar “o mais rapidamente possível”, este plano a longo prazo será feito em parceira com as autoridades locais de outros municípios afetados pelas chamas.  

Ao início da noite, o primeiro-ministro voltou a ser questionado pelos jornalistas sobre as queixas da população. Durante o dia de visita, o primeiro-ministro foi confrontado com vários populares sobre a retirada das populações, quando estas queriam proteger as habitações perante a progressão das chamas.  

Para além de salientar  a importância de apoiar a economia local após o fogo da última semana, o chefe de Governo voltou a dizer que reconhece a dor e angústia de quem perdeu bens materiais, mas sublinha que o principal objetivo desta operação era "a salvaguarda e a proteção da vida humana".  
 
"É terrível ter uma casa destruída, mas uma casa reconstrói-se, a vida humana não se reconstrói", enfatizou.  
Número de feridos mantém-se
Já depois destas declarações, o novo briefing da Proteção Civil deu conta de uma retirada “gradual” dos operacionais no terreno, agora que a situação já está mais controlada.  

Patrícia Gaspar, segunda comandante nacional da Proteção Civil, adiantou ainda que, entre as pessoas retiradas aquando do incêndio, apenas três ainda não regressaram a casa, uma vez que é preciso garantir no local que não há perigo para as pessoas e que estão asseguradas todas as condições de segurança.  


A responsável refere ainda que o incêndio não foi dado como extinto e vai manter-se dispositivo no terreno. A causa do incêndio não foi ainda apurada, segundo afirmou Patrícia Gaspar.  
 
Sobre o número de feridos, não houve  qualquer atualização em relação ao balanço feito durante a manhã, mantendo-se a contabilização de 41 feridos - dos quais 22 bombeiros - e um ferido com gravidade, a idosa que continua internada em Lisboa.

Os sete dias intensos de combate ao incêndio deixaram marcas bem visíveis na região. Agora que o fogo começa a dar tréguas, contabilizam-se 27 mil hectares ardidos entre Monchique, Silves e Portimão. Este foi o incêndio com mais área ardida de toda a Europa desde o início de 2018.

De acordo com os primeiros cálculos do presidente da câmara de Monchique, há um balanço de pelo menos dez milhões de euros de prejuízos naquele concelho.

Depois da visita de António Costa, no sábado é a vez de Marcelo Rebelo de Sousa visitar Monchique e Silves, que foram os mais afetados pelo incêndio da última semana.
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