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Cristas fecha Congresso a projetar-se como "primeira escolha"

por Carlos Santos Neves - RTP
“No que depender de nós, tudo faremos para conquistar uma maioria de 116 deputados para o espaço de centro direita nas próximas eleições” Paulo Novais - Lusa

Na intervenção que fez tombar o pano sobre o 27.º Congresso do CDS-PP, ao início da tarde deste domingo, a líder reeleita do partido insistiu em apresentar-se como o rosto de uma escolha “clara, segura e inequívoca” para o eleitorado que não deseja manter no poder o PS e as “esquerdas encostadas”. Assunção Cristas voltou ainda a assumir que, se vier a sentar-se à mesa de negociações com Rui Rio, quererá fazê-lo com mais peso eleitoral.

E foi para Rui Rio, sentado na primeira fila do Congresso, a “palavra especial” de Assunção Cristas no derradeiro discurso.
Assunção Cristas foi chamada ao palco do Congresso de Lamego como “futura primeira-ministra de Portugal”.

Depois de deixar um agradecimento a todos os congressistas e de elogios à cidade anfitriã, Lamego, a líder reeleita do CDS-PP colheu aplausos ao falar para o líder do “partido amigo”. À semelhança, de resto, do que Rio fez no Congresso social-democrata, há três semanas, quando estendeu um “cumprimento especial” à ex-parceira de coligação de Pedro Passos Coelho.

“Permitam-me uma palavra especial para o doutor Rui Rio, que iniciou recentemente as suas funções de Presidente do PSD, um partido amigo, e em cujo Congresso tive o gosto de estar e atestar a convergência de preocupações temáticas com o CDS”, quis notar Cristas, que repetiu ao longo do fim de semana a ambição de se tornar número um do centro-direita em Portugal.

Seguiu-se a reivindicação do “Congresso mais participado de sempre do CDS, com mais de 1500 delegados e mais de 450 convidados”.

Agradecendo aos militantes que submeteram à reunião magna moções de estratégia global ou de alcance sectorial, a dirigente partidária quis apresentar o CDS-PP como um partido de vozes múltiplas que “são sinal de vivacidade e dinamismo”.

Ao mesmo tempo sustentou que “este é um Congresso de continuidade, de continuidade no rumo traçado há dois anos e que se revelou certeiro, mas é também o Congresso da afirmação da estratégia e da abertura do partido”. Uma força política “em franco crescimento”, na sua leitura, para a qual se apoia na entrada de 4.166 militantes em dois anos.

“Mulheres e homens de todas as idades, atividades profissionais, geografias, da cidade, do mundo rural, e também do mar, pescadores, funcionários públicos, profissionais liberais, agricultores, académicos, estudantes e aposentados”, enumerou, antes de insistir que o CDS é hoje um partido “a crescer e a abrir-se”.

Outra saudação de Cristas foi dirigida a "mulheres e homens de todas as idades” que, afirmou, a impelem “a prosseguir o caminho nem sempre fácil de ser oposição firme ao Governo das esquerdas unidas”. Ou “encostadas”, como já se referira no sábado a PCP, Bloco de Esquerda e Partido Ecologista “Os Verdes”.
“Todo um país”

Assunção Cristas não hesitou em clamar, neste último discurso ao Congresso, que “há todo um país que quer ser representado pelo CDS”.

“Podem confiar em nós, podem confiar em mim. Não vos desapontaremos, não vos desapontarei”, prometeu.

Nesta mesma linha, a presidente reeleita do CDS-PP prometeu conservar o “rumo de um partido que cresce, de um partido mais aberto, de um partido mais próximo de todos”.

Em seguida procurou mitigar aquilo que os críticos internos apontaram como lacunas ideológicas na sua moção de estratégia global, referindo ao CDS como “um partido que está bem fundado nos valores e nos princípios da democracia cristão e que se assume como o partido do futuro do centro e da direita em Portugal.

“O CDS é, e será cada vez mais, a casa do centro e da direita em Portugal. Somos a alternativa, a opção dos que rejeitam o socialismo que nos governou em 14 dos últimos 20 anos, que passou 14 anos a endividar-nos, a comprometer o futuro das novas gerações, a afastar-nos da média europeia”, cimentou, numa escolha de palavras que parece reforçar a via de uma contenda pelos votos do espaço eleitoral tradicionalmente ocupado pelo PSD.
“Um passo à frente”
“Clareza na orientação política, afinco na definição das políticas”. Esta foi outra das promessas de Assunção Cristas na intervenção que culminou o 27 Congresso.
Em matéria de Saúde, Assunção Cristas propõe “um modelo que se recria com base na inovação e está assente na promoção da saúde e na prioridade dos cuidados primários, com foco no tratamento efetivo, na dignidade do tratamento de todos até ao último momento de uma morte natural”.

O CDS-PP, advogou, mostrou estar “um passo à frente na apresentação de propostas em domínios como a natalidade, o envelhecimento ativo e a proteção dos idosos, a Segurança Social, a educação, a saúde, a prevenção do terrorismo, a supervisão bancária, a fiscalidade, os fundos comunitários ou a justiça”.

Cristas rejeitou depois estar “a dar um passo maior do que a perna”, ao assumir como objetivo tornar-se um dia primeira-ministra: “Não duvidei nunca dos passos decididos de um partido que sabe onde está, sabe o que quer, sabe para onde vai e, sobretudo, tem esta militância”.

“O CDS é o partido mais apto a governar o nosso Portugal. Estamos um passo à frente nas soluções porque estamos um passo à frente no pensamento político, porque temos políticos e militantes que estão um passo à frente na discussão e na ação”, carregou, elegendo como sectores de intervenção política prioritária a demografia, o território e a inovação.

Adiante, Assunção Cristas diria ser “tempo de mudar” no que toca ao equilíbrio entre as vidas profissional e familiar.

“Não podemos continuar a ter um país em que mais de metade da população são mulheres - representamos 61 por cento do Ensino Superio – e, no entanto, estamos muito longe da paridade na política ou na direção das empresas e instituições. É tempo de mudar e estou convencida de que uma parte muito substancial da questão tem precisamente a ver com a compatibilização trabalho e da família e o papel dos pais, dos homens, nesta equação”.
“Esconder a austeridade”

Já depois de se comprometer com a luta por uma reforma fiscal para o interior do país e por ajudar a fazer de Portugal um “líder mundial” na resposta às alterações climáticas, Cristas olhou às próximas eleições para o Parlamento Europeu, somando ao nome de Nuno Melo, cabeça de lista confirmado na véspera, os de Pedro Mota Soares, Raquel Vaz Pinto e Vasco Weinberg.

Na fase de ataque ao Governo do PS, apoiado pelo que voltou a descrever como as “esquerdas encostadas”, Assunção Cristas acusaria a atual solução de poder executivo de não pretender “mudar nada”. E até mesmo de “reverter mudanças que têm sido benéficas para o país”, a começar pela legislação do trabalho.

Acusou, por outro lado, o Executivo de António Costa de “esconder a austeridade” e a consequente “degradação dos serviços públicos”, assim como a política fiscal de “impostos indiretos”.

O Governo, acentuou, “não tem visão ou ação consequente nos problemas estruturais do país, da demografia ao território, passando pela dívida, que continua a não baixar em valores absolutos e só melhora em percentagem do PIB”. Em suma, rematou, este é um “Governo que gere o imediato” e que só visa “manter o poder”.
“Primeira escolha”
Retomando aquele que se tornou o bordão do seu CDS-PP ao segundo dia de trabalhos, Cristas assumiu como meta ser “primeira escolha” já a partir das eleições de 2019. Com um apelo direto: “Quem não acredita no Partido Socialista, quem não se revê nas esquerdas encostadas, tem uma escolha clara, uma escolha segura, uma escolha inequívoca e essa é só uma, nós, o CDS”.

A sucessora de Paulo Portas não exclui reaproximar o partido do PSD de Rui Rio “depois das eleições”, por forma relançar uma maioria do centro-direita. Mas com mais peso do que o atual.

“No que depender de nós, tudo faremos para conquistar uma maioria de 116 deputados para o espaço de centro direita nas próximas eleições”, reiterou.
A reeleição em números

Da matemática dos votos depositados durante a manhã nas urnas do Congresso resulta que a Comissão Política de Assunção Cristas foi eleita com 89,2 por cento dos sufrágios, abaixo, portanto, da última reunião magna, quando colheu 95,59 por cento. E Cristas perdeu três lugares no Conselho Nacional.

A lista da direção ao Conselho Nacional, liderada por António Lobo Xavier, conseguiu 51 dos 70 lugares - 72,8 por cento -, ao passo que a lista encabeçada por Filipe Lobo D' Ávila fez eleger 13 conselheiros - 18,5 por cento - e a da Tendência Esperança em Movimento, de Abel Matos Santos, elegeu seis - 8,5 por cento.

Há dois anos, em Gondomar, haviam concorrido ao Conselho Nacional duas listas: a de Assunção Cristas, que conquistou 54 lugares - 75,48 por cento - e a de Filipe Lobo D'Ávila, que somou 23,08 dos votos, obtendo 16 lugares.
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