Dijsselbloem pede desculpas por estilo directo mas descarta demissão

por RTP

Jeroen Dijsselbloem continua a ser alvo de críticas de todos os quadrantes políticos, incluindo do seu – os socialistas – depois de ter acusado os “povos do Sul” de gastarem o dinheiro que têm em mulheres e vinho. O presidente do Eurogrupo, fruto também de uma derrota caseira estrondosa nas legislativas holandesas, tornou-se agora um alvo fácil de piadas. Esta tarde veio explicar-se: diz ter “um estilo direto”, pelo que lamenta se alguém se ofendeu com as suas declarações.

Foi esta a declaração que desencadeou toda a polémica: “Não se pode gastar em mulheres e álcool e vir depois pedir ajuda”. O presidente do Eurogrupo referia-se nessa entrevista ao jornal Frankfurter Allegemeine aos países do sul a Europa, que necessitaram de alguma forma de resgate.

Jeroen Dijsselbloem lamenta poder ter sido mal interpretado, mas – ancorado no apoio Wolfgang Schäuble, o ministro alemão das Finanças, garante que não pensa sequer na demissão que está a ser exigida por vários políticos europeus, grupo em que se inclui o primeiro-ministro português, António Costa.

“Numa Europa a sério, o senhor Dijsselbloem já estaria demitido”, afirmou António Costa, reforçando o pedido de Augusto Santos Silva. O ministro dos Negócios Estrangeiros exigiu o afastamento de Dijsselbloem, face a declarações “muito infelizes e, do ponto de vista português, absolutamente inaceitáveis”.

“Lamento se alguém se ofendeu com o comentário. Foi directo e pode ser explicado pela forma de ser holandesa, a cultura calvinista, com a franqueza holandesa”, desculpou-se Dijsselbloem. “Eu compreendo que nem sempre isso é bem entendido e apreciado noutros lugares da Europa. É outra lição que levo comigo”, acrescentou.

Mas Dijsselbloem aproveitou para responder também aos pedidos de demissão que foram chegando ao longo do dia: “Ao mesmo tempo, acho que sou apreciado por manter o meu estilo e que me dirijo a todos os ministros com rigor e, às vezes, tenho que ser severo. E sim, o meu estilo é directo; novamente, se as pessoas se ofenderam, sinto muito (…) Mas não tenho intenção de me demitir”.
Juncker procura desculpar Dijsselbloem
Esta tarde, durante uma conferência de imprensa conjunta com Marcelo Rebelo de Sousa, em Bruxelas, o presidente da Comissão Europeia disse acreditar que Dijsselbloem não sente “aquilo que parece ter dito”.

Questionado sobre as polémicas declarações do presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, disse o que parece ter dito Dijsselbloem não é, de qualquer modo, “o que ele pensa” sobre os países do sul da Europa.

“Relativamente às declarações que o presidente do Eurogrupo fez, e tendo em conta que o primeiro-ministro português, o meu amigo António (Costa), acaba de nos convidar a pedir ao senhor Dijsselbloem que se demita, gostaria de dizer numa frase que acredito que aquilo que o senhor Dijsselbloem parece ter dito não reflete o que ele pensa no fundo”, declarou Juncker, durante a conferência de imprensa conjunta com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.

Com o pedido de afastamento de Dijsselbloem em cima da mesa – aliás, subscrito por várias personalidades da vida política europeia – Juncker preferiu sublinhar o respeito e a amizade que sente pelos países do sul e, em concreto, por Portugal: “E quanto aos países do sul, e nomeadamente o meu querido Portugal, ao longo dos anos, enquanto presidente do Eurogrupo e presidente da Comissão, sempre testemunhei em relação a Portugal uma amizade que é inabalável”.
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