Entrada na politica partidária envolta em acesa polémica

por RTP
Fernando Nobre é o epicentro de uma polémica que extravasou a política para as redes sociais DR

A escolha de Fernando Nobre para cabeça de lista do PSD por Lisboa e o anúncio do seu nome para a Presidência da Assembleia da República gerou forte polémica quer entre os seus recentes apoiantes, quer entre os partidos da oposição registando-se também vozes críticas no interior do próprio partido de Passos Coelho.

O partido Social Democrata anunciou recentemente o nome de Fernando Nobre para cabeça-de-lista social-democrata pelo círculo de Lisboa, candidato também já anunciado para suceder no posto de Presidente da Assembleia da República – segunda figura na hierarquia do Estado – a Jaime Gama que já anunciou ir retirar-se da vida apolítica ativa.

O anúncio provocou uma polémica que certamente ninguém antecipava. O antigo candidato à Presidência da República que mantinha uma página na rede social conhecida como Facebook que tinha mais de 40 mil seguidores – na linguagem da rede “amigos” – viu rapidamente no dia do anúncio a sua página encher-se de críticas de todo o tipo e forma.

Muitos foram efetivamente os que nessa rede social onde outrora escreveram mensagens de apoio e de incentivo escreviam agora mensagens de crítica, de desilusão, e mesmo insultuosas para a honra mais que não seja política do presidente da AMI.

Tal foi a intensidade das críticas que Fernando Nobre se viu forçado a fechar a página que no momento presente já não pode ser encontrada por um qualquer utilizador da rede social.

"Mergulhou na lama a palavra cidadania"
O coordenador da campanha presidencial de Fernando Nobre em Viana do Castelo interpretou o sentimento de todos aqueles que, tendo apoiado o médico da AMI à Presidência da República, se sentiram de algum modo frustrados ou mesmo enganados pela atitude do candidato derrotado das presidenciais.

O mandatário acusou o candidato de “mergulhar na lama a palavra cidadania”. "A curto prazo podem os aparelhistas partidários esfregar as mãos de contentes com este balão de oxigénio para estancar a própria reflexão e renovação no interior dos partidos, que a expressão da votação numa candidatura de Cidadania provocara", afirmou Jorge Castro Guedes, acrescentando que “a onda de esperança e movimentos de cidadania que, desde 23 de janeiro, se desenvolveu na sociedade portuguesa acaba de sofrer um enorme abalo".

O Encenador do Centro Dramático de Viana vai mais longe e afirma que Fernando Nobre "não tinha o direito" de "usar a bandeira do Humanismo na presunção de que iríamos agora todos feitos parvos atrás de um qualquer eleito por desígnio".

Termina lembrando que "os atos ficam com quem os pratica" e que não está arrependido do apoio dado nas presidenciais nem da batalha travada. "Estivemos no sítio certo, na hora certa, desempenhando o papel que a nossa consciência nos impunha. O único erro foi de casting: o protagonista, afinal, pertencia a uma farsa" rematou.

Mas as criticas não se limitaram aqueles que se viram enganados, frustrados e desiludidos com a aceitação por parte do seu candidato até então independente e “outsider” da política nacional do convite de Passos Coelho para se candidatar por Lisboa em nome do PSD.

"Não tem perfil para segunda figura do Estado
De todo o espectro partidário vieram as críticas com especial incidência como é natural do campo adversário dos social-democratas.

O próprio PSD não é imune às reprovações. O antigo ministro do governo de Durão Barroso, Morais Sarmento, afirmou no programa “Falar Claro”, da Rádio Renascença, que Fernando Nobre não tem perfil para ser a segunda figura do Estado português.

"Fernando Nobre, alcandorado a segunda figura do Estado, estamos a falar do Fernando Nobre que foi mandatário de Francisco Louçã há poucos anos e, portanto, se me perguntar se me revejo nele como segunda figura do Estado, respondo com dificuldade. Por outro lado, como presidente da Assembleia da República arriscamo-nos a ter um menos bom presidente e a perder aquilo que poderia ser um óptimo protagonista político na linha da frente, entenda-se, com responsabilidades governativas ou executivas", afirmou o antigo ministro.

Mário Soares invoca a falta de experiência de Nobre
Mário Soares, o fundador do Partido Socialista, antigo primeiro-ministro, antigo presidente da República, e considerado um dos impulsionadores do avanço do médico da AMI para a candidatura à Presidência da República, e seu apoiante declarado, não deixou de também ele reprovar a decisão tomada pelo candidato que diz não ter experiencia.

"Nunca foi parlamentar (...). Só vendo" afirmou na RTP, Mário Soares. O antigo Presidente chamou a atenção para a dificuldade inerente ao cargo de presidente da Assembleia da República e considerou que a candidatura de Fernando Nobre não é benéfica para o PSD por “levantar muitas vozes” críticas.

"Grande erro de cálculo"
Outro histórico do Partido Socialista que durante a campanha eleitoral para as presidenciais surgiu como um importante apoiante do futuro deputado social-democrata, juntou a sua voz de indignação.

"É um grande erro de cálculo porque ele pensa que leva atrás os tais 600 mil votos. Não leva. Eles são resultado da posição que tomou. A sociedade estava afastada da política e ele trouxe-a à participação. A posição que ele toma agora é a negação disso tudo", disse à TSF.

José Lello, outro dirigente socialista foi implacável para com Fernando Nobre e para com o PSD.

"Depois de projetarem um putativo governo com o estatuto de estagiário, o PSD agora também quereria um presidente da Assembleia estagiário, sem currículo, sem ter sido jamais deputado, sem conhecer as regras", criticou.

"O fim de uma imensa fraude"
Do campo mais à esquerda, vieram também vozes de denúncia da situação. Francisco Louçã, Coordenador Nacional do Bloco de Esquerda lamentou publicamente a decisão do antigo candidato presidencial que rotulou de “o fim de uma imensa fraude”.

"Os cidadãos independentes que votaram por uma cidadania independente (nas eleições presidenciais) podem agora perguntar-se porque é que não lhes foi dito que caminhávamos para um truque partidário", afirmou Francisco Louçã.

Francisco Louçã deixou um desafio a Mário Soares. "Queria perguntar ao doutor Mário Soares o que é que ele pensa desta expressão pública de uma adesão à direita, que eu lamento",, questionou o líder bloquista.
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