Escolha entre um Seguro crítico e um Assis cooperante

por RTP
Seguro e Assis em campanha interna pela liderança revelam as diferenças programáticas DR

Se António José Seguro não tem dúvidas em criticar claramente Passos Coelho por anunciar um novo pacote de austeridade, Francisco Assis responde com uma posição mais cooperante com "o governo que se empenha em salvaguardar os interesses do país".

O candidato à liderança do Partido Socialista, António José Seguro, acusou Passos Coelho de estar a “começar mal” e de que “escolheu mal o caminho”, referindo-se ao anúncio do primeiro-ministro em Bruxelas de que o Governo anunciará novas medidas de austeridade na próxima semana e que reputa de essenciais no quadro do programa de reformas.

A acusação foi feita numa sessão com militantes e simpatizantes do partido no âmbito da campanha eleitoral interna para a eleição de secretário-geral, sábado à noite em Leiria, aberta que está a sucessão da liderança com a demissão de José Sócrates de todos os cargos que ocupava na sequência da derrota eleitoral do dia 5 de junho.

Para o candidato o país "precisa de projetos e programas que possam colocar Portugal a crescer economicamente", e na sua opinião, isso não acontece com mais austeridade.

"Sabemos que austeridade conduz precisamente a uma diminuição do nosso crescimento e a uma contração da nossa economia", referiu o antigo líder da Juventude Socialista, ao sublinhar que o "caminho não é mais austeridade", mas "incentivo naquelas áreas do aparelho produtivo nacional que podem criar riqueza".

Seguro, que falava perante uma sala cheia de militantes do maior partido da oposição, alertou ainda que o memorando não é a salvação da economia de Portugal: "Esse memorando serve para financiar a economia, mas há uma margem enorme que temos de aproveitar para poder ajudar a colocar Portugal numa rota sustentável económica", salientou.

As críticas do dirigente socialista estenderam-se a Ângela Merkel, a chanceler do governo alemão. Seguro acusou Merkel de virar as costas aos restantes países da Europa apontando o dedo ao presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.

"Gostaria de ter na Europa um líder que tratasse todos os europeus por igual e que fosse capaz de chamar a atenção dos egoísmos nacionais que, neste momento, estão a matar o projeto europeu", disse.

O candidato que se apresenta sob o lema “novo ciclo” apontou o preço das taxas de juro para financiar os países em dificuldades como exemplo acabado do que que afirma.

"Se fosse a União Europeia a ir ao mercado e a financiar-se, tratando da dívida conjunta dos países que necessitam desse financiamento, naturalmente permitiria uma negociação das taxas de juro mais favoráveis para esses países", explica Seguro.

António José Seguro defende na moção que apresentará ao Congresso de Setembro que o PS "esteja na primeira linha da construção de um outro projeto europeu, mais solidário".

No que toca à posição do partido perante o novo governo, António José Seguro esclareceu que fará uma oposição "responsável, construtiva e positiva".

Sempre que discordar do Governo apresentará "uma proposta alternativa", garantiu, afirmando que não quer "chegar a primeiro-ministro quando este Governo apodrecer", mas sim "em nome de uma proposta política alternativa".

António José Seguro reivindicou a posição de "candidato livre" garantindo que a sua candidatura "não foi cozinhada em qualquer corredor do poder em Lisboa", mas "nasceu das bases para o topo e é nas bases que ela se funda".

Assis assume que "ruturas" que propõe mexem com alguns setores do partido
O outro candidato à liderança do Partido Socialista, Francisco Assis, esteve em Évora na apresentação da sua moção “A força das ideias” sábado à noite. Cerca de sessenta militantes enchiam a sala da “Arena d´Évora”.

Francisco Assis assume uma postura que à primeira vista parece divergente da do seu opositor em relação ao governo e à recém-anunciada intenção de apresentar um novo pacote de austeridade feita por Passos Coelho em Bruxelas onde se estreou no Conselho Europeu.

Ao contrário de Seguro que acusou o primeiro-ministro de “começar mal” criticando o anúncio de novo pacote de austeridade, Francisco Assis foi mais condescendente com o governo.

"Não faremos a Pedro Passos Coelho aquilo que, nalguns momentos, o PSD nos fez a nós. Portanto, nós estaremos sempre ao lado do Governo português quando o Governo português se empenha em salvaguardar os interesses do país e eu penso que foi isso que aconteceu", disse.

Em relação à vida interna do partido e nomeadamente à campanha eleitoral que está a levar a cabo para a liderança do partido, Assis respondeu ao anúncio pela candidatura opositora de Seguro de que contaria com o apoio de 83 das 132 presidências de câmara que o partido detém.

O antigo líder da bancada parlamentar do partido socialista na última legislatura considerou "natural" o apoio da maioria dos presidentes de câmaras socialistas a António José Seguro, justificando-o com as rupturas que a sua moção propõe e que mexem com alguns setores do partido.

"Esta é uma candidatura de projeto que envolve algumas rupturas. É por isso natural que alguns dirigentes intermédios e autarcas, alguns deles há muito tempo no desempenho das suas funções, não se reconheçam inteiramente numa candidatura que visa modificar e alterar", afirmou.

Para à sucessão de José Sócrates, a revisão programática que advoga, nomeadamente, as alterações no processo de escolha dos candidatos às próximas eleições autárquicas, "mexe com alguns setores do PS que queriam que tudo continuasse na mesma".

"É uma candidatura de mudança. Não pode ter como referências fundamentais elementos que apostam muito na continuidade", disse Francisco Assis.

Assis garante que a sua moção "respeita o passado do PS e assume a herança do partido em termos absolutos", e o seu projeto "é totalmente voltado para o futuro e para a sociedade".

"É por isso natural que haja algumas resistências, não faria sentido que assim não fosse. No que eu estou certo, é que no diálogo direto com os militantes as coisas estão a funcionar de outra forma", acrescentou.
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