Ex-Secretário de Estado da Saúde diz que se demitiu por grave violação da sua privacidade

por RTP
"O que motivou a minha demissão foi a grave violação da privacidade da minha vida pessoal em termos e circunstâncias inadmissíveis e que ultrapassaram todos os limites" Lusa

O ex-secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado, disse hoje que se demitiu por "grave violação da privacidade" da sua vida pessoal e diz nunca ter recebido "qualquer favorecimento por qualquer relação pessoal".

Numa nota divulgada na sequência da sua demissão na terça-feira devido ao envolvimento no caso Raríssimas, o ex-governante refere que o seu pedido para sair do Governo, apresentado ao primeiro-ministro e ao ministro da Saúde, tinha o "intuito de não perturbar nem criar qualquer tipo de embaraço ao normal funcionamento do Governo".

"O que motivou a minha demissão foi a grave violação da privacidade da minha vida pessoal em termos e circunstâncias inadmissíveis e que ultrapassaram todos os limites, já que foram muito além do âmbito e contexto sobre as eventuais suspeitas de irregularidades de gestão que foram cometidas naquela entidade", refere a nota de Manuel Delgado.

Na sequência de uma reportagem emitida pela TVI no fim de semana, na qual se denunciavam práticas de gestão danosa da instituição particular de solidariedade social Raríssimas, e que envolviam o seu nome, Manuel Delgado deu na terça-feira uma entrevista ao canal em que disse ter posto o seu lugar à disposição do ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, que, segundo o ex-secretário de Estado, lhe respondeu que não via "razões objetivas" para o retirar de funções.

A entrevista à TVI terá sido gravada perto da hora de almoço e Manuel Delgado demitiu-se poucas horas depois. A reportagem foi emitida nessa mesma noite de terça-feira, divulgando fotografias de Delgado com a presidente da Raríssimas, Paula Brito e Costa.

Paula Brito e Costa anunciou também na terça-feira que saia da Associação.

Na nota divulgada hoje, Manuel Delgado afirma também que enquanto secretário de Estado da Saúde não teve "nenhuma intervenção em processos de apoio à Associação Raríssimas" e que não recebeu "qualquer favorecimento por qualquer relação pessoal".

Reafirma ainda que a remuneração que recebeu se deve à prestação de um serviço para o qual foi contratado, tendo a contratação acontecido antes da sua entrada para o Governo e "respeitou na íntegra todo o quadro legal e ético".

No sábado, a TVI emitiu uma reportagem sobre a gestão da associação, financiada por subsídios do Estado e donativos.

A investigação mostra documentos que colocam em causa a gestão da instituição de solidariedade social, nomeadamente da sua presidente, Paula Brito e Costa, que alegadamente terá usado o dinheiro em compra de vestidos e vários gastos pessoais.

Elementos da Inspeção-geral do Ministério do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social estiveram hoje na Associação Raríssimas. Vieira da Silva, ministro que tutela as instituições de Segurança Social, anunciou na segunda-feira que ordenou uma inspeção geral à Associação. A presença dos inspetores na Casa do Marcos, uma unidade da Associação Raríssimas, foi confirmada pelo diretor da instituição, Nuno Branco.

O Ministério Público estava também já a investigar a instituição, após uma denúncia anónima.

c/Lusa
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