Ferreira Leite considera bizarro que ‘troika’ esteja fechada para Portugal e aberta para a Grécia

por Sandra Henriques

A antiga ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite afirma que é bizarro que a ‘troika’ se mantenha fechada para Portugal e aberta para a Grécia, tendo em conta que os portugueses têm cumprido os objetivos previstos e os gregos têm falhado. Na Conferência “O estado e a competitividade da economia portuguesa” organizada pela Antena1 e pelo Jornal de Negócios, Ferreira Leite defende ainda que a única solução é Portugal negociar com a ‘troika’.

“Não vejo outra alternativa sem ser nós negociarmos com a ‘troika’”, defende Ferreira Leite, referindo-se ao governo e às várias entidades com capacidade a esse nível, antes de apontar o dedo a Paulo Portas.

“Vejo, por exemplo, o ministro dos Negócios Estrangeiros pouco envolvido na questão europeia. Lembro-me que quando havia as grandes negociações com a Europa através dos fundos era sempre o ministro dos Negócios Estrangeiros e o primeiro-ministro envolvidos nestas negociações”, observa.

A ex-líder social-democrata discorda do economista Vítor Bento, que disse nesta conferência que Portugal não tem outra saída senão sair do euro: “Recuso completamente semelhante alternativa pela simples razão de que ainda não vi essa decisão aplicada à Grécia”.

Ferreira Leite recorda que “a Grécia não tem cumprido absolutamente nada” e nunca ninguém afirmou que deixava de financiar o país e que iria sair do euro. “Somos nós, que sendo bem comportados, que estando a fazer tudo aquilo que devemos, todos os sacrifícios possíveis, acordos políticos, sociais, máquina fiscal eficaz, é a nós que nos vêm dizer: ‘Não vos damos mais nada porque têm que se ir embora’? Este argumento não aceito. Acho que neste momento este argumento devia ser explorado”, frisa.

“Se isso não acontecer, se não houver hipóteses nenhumas, como o ministro das Finanças diz, e a ‘troika’ estiver fechadíssima para nós e abertíssima para a Grécia – o que é uma coisa absolutamente bizarra – há uma coisa que os portugueses deverão exigir. Que nos digam perante a inviabilidade de haver qualquer tipo de alteração, perante a única possibilidade que existe que é o que está consagrado neste Orçamento, que digam qual é que é o desenho que fazem do país e da sociedade portuguesa ao fim deste tempo”, conclui.

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