Louçã acredita que um dia será aprovada a "Lei João Semedo"

por Lusa

Porto, 20 jul (Lusa) -- O antigo coordenador do Bloco de Esquerda (BE) Francisco Louçã disse ter a certeza de que "um dia" será aprovada uma lei que permitirá às pessoas escolher a "dignidade do seu fim", à qual se chamará "Lei João Semedo".

"Tenho a certeza que um dia, e esse dia está próximo, vai ser aprovada uma lei que permita a cada homem e mulher no fim da sua vida escolher a dignidade do seu fim e essa lei vai chamar-se Lei João Semedo", disse na quinta-feira à noite no Teatro Municipal Rivoli, no Porto, durante numa homenagem ao ex-coordenador do BE, que morreu na terça-feira.

Louçã recordou que o direito à morte medicamente assistida foi chumbado por cinco votos que foram "conspirados um a um nas penumbras do Parlamento" contra as convicções e, sobretudo, contra a opinião do país.

A evocação, que contou com centenas de familiares, amigos e bloquistas, tinha no palco uma imagem de João Semedo acompanhado da frase: "Tive a vida que escolhi, a vida que quis, não tenho nada de que me arrependa. Sim, fui muito feliz".

Apelidando-o de "João, Sem medo", Francisco Louçã frisou que esta foi uma das duas tarefas que o bloquista deixou por fazer, ou seja, dar a possibilidade às pessoas de poder escolher o momento do seu fim quando a morte é inevitável.

"Não verdade ele não foi vencido, também não ganhou, ainda não ganhou", frisou.

A segunda missão que João Semedo deixou é a defesa pelo Sistema Nacional de Saúde (SNS), vincou, acrescentando que esta foi a "grande luta da sua vida".

"Será que vamos conseguir, João? Talvez não, não sei, mas sei que estamos aqui todos sem medo", referiu o bloquista.

Francisco Louçã relembrou que João Semedo advertiu para o facto do SNS estar a viver uma "crise indisfarçável", tendo os seus limites sido ultrapassados "há muito".

Numa sessão que juntou política, música e poesia, os presentes, brindados com cravos vermelhos à entrada, foram unânimes em reconhecer a "enorme generosidade" de João Semedo.

João Semedo morreu na terça-feira, aos 67 anos, depois de anos de batalha contra o cancro.

O ex-coordenador do BE e médico teve uma vida marcada pela política e participação cívica, tendo as duas últimas lutas sido a despenalização da eutanásia e a defesa do Serviço Nacional de Saúde.

Depois de 30 anos de militância no PCP, João Semedo aderiu oficialmente ao BE a 04 de abril de 2007, apesar da aproximação ao partido ter acontecido três anos antes, quando fez parte, enquanto independente, das listas do partido às eleições europeias de 2004, a convite de um dos fundadores bloquistas, Miguel Portas.

Após a saída de Francisco Louçã de líder do partido, João Semedo assumiu a coordenação, em conjunto com Catarina Martins, entre 2012 e 2014, numa solução de liderança bicéfala que os bloquistas viriam a abandonar.

A batalha de João Semedo contra o cancro começou em 2015. Na altura renunciou ao mandato de deputado da Assembleia da República que exercia desde 2006.

Para lá de décadas de intervenção política, a atividade cívica de João Semedo foi multifacetada e incluiu, entre muitas outras, a participação nas campanhas de alfabetização pós-25 de Abril, a intervenção na Cooperativa Árvore, na direção do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), na Universidade Popular e na fundação do Sindicato dos Médicos do Norte.

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