Mário Soares homenageado no Porto pela luta por valores da democracia e da liberdade

por Lusa

Porto, 23 abr (Lusa) -- Um grupo de personalidades e amigos de Mário Soares do Porto elogiou e homenageou hoje o antigo presidente da República Mário Soares, destacando a sua luta pelos valores da democracia e da liberdade.

Numa cerimónia de homenagem a Mário Soares, promovida por um conjunto de pessoas e pela Federação Distrital do Porto do PS, que decorreu no Teatro Municipal Rivoli, Isabel Soares, filha do antigo Chefe de Estado, foi a primeira pessoa a falar, recordando o pai que era o seu herói, a quem nunca ouviu "um queixume ou palavra de desânimo".

"Republicano, laico e socialista", disse, "detestava a cobardia" e "acreditava numa Europa mais justa, mais fraterna e mais solidária", tendo tido na sua vida uma grande ligação ao Porto.

Segundo Isabel Soares, "a sua ligação ao Porto é de sempre", e na cidade gostava "do lado melancólico e granítico", mas também do rio, sendo certo que quando se deslocava ao Porto visitava amigos, "muitos", mas também percorria "as livrarias e alfarrabistas" e deliciava-se "com as tripas do [restaurante] Escondidinho e os filetes do [restaurante] Aleixo".

Isabel Soares, comovida e admitindo que "o olhar de filha nunca é isento", recordou como a sua casa estava sempre cheia de gente, de amigos e que, com o seu irmão João, ficavam "pregados na mesa a ouvir tudo", sendo que, as confraternizações eram, de vez em quando, interrompidas "por largos períodos" de Mário Soares na cadeia, em dias "cinzentos e de chumbo da ditadura".

O presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Artur Santos Silva, amigo pessoal de Mário Soares, enalteceu esta iniciativa "tão justa, feita no lugar certo", afirmando que o antigo Chefe de Estado a "bem merecia", designadamente por ser "a personalidade mais marcante do nosso regime democrático".

Para Artur Santos Silva, Soares "ajudou a repor o espírito do 25 de Abril" e "revelou tolerância em relação aos comprometidos com o fascismo".

Enquanto primeiro-ministro, destacou, "promoveu a adesão à Comunidade Europeia, teve a coragem de adotar uma política de estabilização", celebrando um acordo com Fundo Monetário Internacional que permitiu enfrentar com sucesso o quadro económico de então.

"Mais tarde, em 1983, salvou o país da bancarrota" e como Presidente da República uniu Portugal", de tal forma que "foi reeleito com o apoio do PPD/PSD", lembrou.

Santos Silva disse que Soares "revelou sempre notáveis qualidades, que são raras e sobretudo raras se reunidas numa só pessoa", destacando a "autenticidade", "a notável intuição", a "excecional visão politica, apoiada por uma sólida e diversificada formação cultural", bem como a "lealdade afetiva sem limites".

"Devemos-lhe a luta contra o fascismo, a institucionalização da democracia", bem como "o gigantesco salto económico e social", além de que "combateu os populistas extremistas", frisou, acrescentando desejar que hoje sejam derrotados nas eleições presidenciais francesas.

Para Santos Silva, "homens como Mário Soares fazem muita falta", sendo necessário "fazer do seu exemplo caminho do futuro que se ambiciona para Portugal e para a Europa".

O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, afirmou que terá sempre por Mário Soares "uma grande dívida de gratidão".

"Não me esqueço como se empenhou pelo meu pai, quando esteve preso sem culpa formada (...). Estou grato também como português", designadamente por ter estado presente na resistência ao antigo regime, na luta contra as forças totalitárias, durante o PREC, e na adesão à Europa, disse.

Moreira destacou a generosidade de Soares como a "sua segunda grande qualidade, para lá da coragem", afirmando que, como Presidente da República, "soube ser presidente de todos os portugueses, iniciando um novo estilo com presidências abertas, e fez da presidência um instrumento agregador".

"Sempre lhe reconheci o mérito de ser o homem da liberdade, de personificar a liberdade", enalteceu, considerando que Soares foi "um exemplo de vida" e um amigo.

O líder da Federação Distrital do Porto do PS, Manuel Pizarro, considerou que "nenhum homem político teve um percurso tão irmanado" como Soares e que "este Porto casa bem com a sua personalidade".

Face a "valores que julgávamos adquiridos" e que "são postos em causa", "o capitalismo selvagem, o renascer dos populismos extremistas, persistência de desigualdades sociais representam ameaças indesmentíveis e perante elas não nos podemos resignar. Precisamos muito do exemplo inspirador de Mário Soares", defendeu Pizarro.

"Prestamos homenagem ao homem corajoso e determinado, mas sobretudo valorizamos a sua mensagem política e os ideais pelas quais se bateu", disse.

Além destes e outros testemunhos, a cerimónia contou com momentos musicais, momentos de leitura de poemas e de excertos de obras de Soares, bem como com a exibição de pequenos filmes sobre o percurso da vida de Mário Soares.

"Havia de gostar de nos ver aqui, de nos abraçar e de estar connosco", concluiu Manuel Pizarro.

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