Esquerda chumba moção de censura do CDS ao Governo

por RTP
Miguel A. Lopes - Lusa

Uma maioria de 115 deputados do PS, BE, PCP, Verdes e PAN rejeitou o projeto que previa a queda do Governo, apresentado pelo CDS e apoiado pelo PSD.

Também o deputado não inscrito Paulo Trigo Pereira, eleito nas listas do PS em 2015, votou contra a moção de censura.

O anúncio da rejeição do texto do CDS-PP foi aplaudido de pé pela bancada socialista.

Ao longo de três horas e meia, o parlamento debateu hoje uma moção de censura do CDS-PP ao Governo, a segunda dos centristas em pouco mais de um ano e meio, centrada no "esgotamento" do executivo do PS, e intitulada "Recuperar o Futuro".

Esta foi a 8.ª moção apresentada pelo CDS, partido recordista na censura aos governos, e a 30.ª a ser discutida na Assembleia da República em 45 anos de democracia, desde o 25 de Abril de 1974.

A moção já tinha voto contra garantido da maioria parlamentar de esquerda, que apoia o Governo -- PS, BE, PCP e PEV -, ao qual se juntou o partido Pessoas-Animais-Natureza.
Cristas pede eleições a 26 de maio 

A líder do CDS-PP apresentou esta quarta-feira no Parlamento, a moção de censura com o objetivo de “dar voz” aos portugueses que estão saturados de um Governo que “a muitos enganou” com a “fábula do fim da austeridade”. Durante o debate, Assunção Cristas desafiou os partidos de esquerda a apresentarem moções de censura próprias e defendeu eleições a 26 de maio.

“E se o Governo já só pensa em eleições, pois então vamos para eleições. Vamos devolver a palavra aos portugueses, vamos clarificar o quadro político (…)”, afirmou a líder centrista que desafiou os partidos que apoiam o Governo a apresentar moções de censura e garantiu que “independentemente dos fundamentos, a nossa posição será a mesma de hoje, pelo fim do Governo e pela devolução da voz aos portugueses, em eleições já a 26 de maio”.

Quem, à esquerda, "critica esta moção de censura", Cristas pediu que fosse consistente e pediu, ao PCP e ao BE, para se deixarem "de habilidades".

"Assumam que continuam a apoiar o Governo - e então poupem-nos à desfaçatez de quererem ser ao mesmo tempo Governo e oposição - ou tenham estatura e votem esta moção de censura", desafiou.


E se não concordam com os fundamentos da moção de censura hoje em debate no parlamento, então que "tenham coragem" e apresentem as suas próprias moções de censura que, prometeu, terão o apoio da bancada do CDS.

"Ainda bem que há o CDS para fazer a oposição ao Governo, com coragem e sem medo da crítica", realçou

A líder do CDS/PP considera que “os portugueses estão cansados de um Governo que causa rutura social e corta o diálogo".

O Governo, acussou ainda, "adiou o país, desperdiçou a melhor conjuntura internacional de que há memória" e, "com um crescimento europeu e mundial ímpares, uma política europeia de juros baixos favorável, um preço baixo do petróleo", conseguiu "resultados medíocres".

Subindo o tom das críticas, insistiu que o executivo "é o campeão do desinvestimento", fez "pior do que no ano de 2015", o "primeiro ano sem o garrote da 'troika'".

"Este Governo das esquerdas vai bem além da troika mesmo sem troika", afirmou.

A moção de censura do CDS, anunciada na sexta-feira, foi justificada com "o esgotamento" do executivo, "incapaz de encontrar soluções" para o país e de só estar a pensar "nas próximas eleições".
Moção é “acto falhado”
O primeiro-ministro considerou que a moção de censura do CDS-PP é um "ato falhado" contra o Governo, mas tem a "virtualidade" de confirmar que a direita está em minoria no parlamento e não dispõe de qualquer alternativa.

Estas posições foram assumidas por António Costa na abertura do debate da moção de censura do CDS-PP ao Governo, logo após a intervenção inicial da líder dos democratas-cristãos, Assunção Cristas

Para o líder do executivo, a moção de censura apresentada pelo CDS-PP "tem uma e só uma virtualidade: Confirmar que a direita permanece em minoria neste parlamento e que não dispõe de qualquer alternativa viável de Governo".

"Trata-se por isso de um ato falhado contra a solução governativa que PS, BE, PCP e PEV foram capazes de construir em Novembro de 2015 e que ainda esta semana o secretário-geral da ( Angel Gurría) considerou "ser um modelo muito eficaz, muito interessante, quase uma exceção na Europa, onde os focos de instabilidade se multiplicam", citou António Costa.


No plano político, de acordo com o primeiro-ministro, a anunciada rejeição da moção de censura do CDS-PP "reforça" a credibilidade internacional do Governo, "que a sustentada redução das taxas de juro expressa e o crescimento do investimento reconhece, mas, sobretudo, é motivo de tranquilidade para os portugueses que têm reafirmada a continuidade da mudança política iniciada há três anos e que desejam que possa prosseguir".

"Esta moção nada tem, por isso, a ver com a disputa do Governo, mas tão só com a medição de forças na oposição, como, aliás, a senhora deputada Assunção Cristas aqui revelou na sua intervenção. O artificialismo desta iniciativa fica aliás patente nos fundamentos da moção de censura, em que o CDS-PP se pretende apresentar como porta-voz das lutas sindicais, que sempre combateu; campeão do investimento público, que sempre diabolizou; guardião do Serviço Nacional de Saúde (SNS), contra o qual votou e nunca desistiu de querer destruir", acusou.

Perante os deputados, António Costa procurou responder a alguns dos fundamentos apresentados pelo CDS-PP para censurar o seu executivo, acusando o partido liderado por Assunção Cristas de pretender agora que o Governo "cumpra não só o que o CDS-PP considerava impossível de cumprir" em 2015, mas, também, "o que o Governo nunca prometeu".

"O CDS-PP defendia que só este ano seria possível repor os salários dos funcionários públicos, mas este Governo comprometeu-se a repor integralmente em 2016 e 2017 - e cumpriu. O CDS-PP só pretendia eliminar a sobretaxa do IRS este ano, mas este Governo comprometeu-se a eliminá-la em 2016 e 2017 - e cumpriu", apontou, a título de exemplo.

António Costa acusou ainda o Governo de ter defendido na anterior legislatura um corte nas pensões em pagamento de 600 milhões de euros, tirando depois a seguinte conclusão: "O Governo, contra a vontade do CDS-PP, tem vindo a cumprir, ponto a ponto, tudo a que se comprometeu, com os portugueses, com os parceiros parlamentares, com as instituições internacionais".

No seu discurso, o líder do executivo confrontou a bancada democrata-cristã com algumas posições que tem assumido ao longo das últimas semanas, designadamente em matéria de movimentos grevistas.

"O que diz das reivindicações com que não nos comprometemos? Em nome da transparência, quais as reivindicações sindicais que o CDS-PP aceita e quais as reformas que pretende mesmo fazer?", perguntou António Costa.

Para o primeiro-ministro, designadamente em matéria de política de saúde, "o CDS-PP esconde o que verdadeiramente quer, porque quem defende como reforma do SNS a sua dissolução na concorrência entre os setores público, privado e social não se pode arvorar no guardião do SNS público, universal e tendencialmente gratuito que a Constituição garante".

Na mesma lógica de ataque à bancada centrista, o primeiro-ministro acusou depois o CDS-PP de querer "confundir o crescimento da receita com o aumento de impostos e o efeito da transição de quadros comunitários com a opção de desinvestir".

"O Governo prometeu a redução do IRS e cumpriu; prometeu a redução do IVA e cumpriu; o Governo acordou a criação do gasóleo profissional e cumpriu; e o Governo não prometeu reduzir mais nenhum imposto e também está a cumprir", sustentou.

Ainda de acordo com António Costa, a receita contributiva está a subir em Portugal "não por aumento dos impostos, mas fruto do crescimento económico".

"É o aumento do emprego e dos salários que melhora a receita da Segurança Social, é o aumento da procura interna que melhora a receita de IVA, é o aumento da atividade das empresas que melhora a receita de IRC. O CDS não tem razão, o Governo não aumentou nem aumenta os impostos. Pelo contrário, também em matéria fiscal, cumpriu o que prometeu", acrescentou.
PS invoca "fantasma" do Pavilhão Atlântico
O deputado socialista Ascenso Simões sugeriu hoje que a moção de censura do CDS-PP ao Governo foi motivada pelo "fantasma" da privatização do Pavilhão Atlântico no anterior Governo, processo em que Assunção Cristas teve responsabilidades como ministra.

Ascenso Simões fez alusão a uma reportagem da TVI transmitida na semana passada segundo a qual "há suspeitas de favorecimento" do empresário Luís Montez, genro do anterior Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, na venda do Pavilhão Atlântico pelo anterior Governo PSD/CDS-PP e "o caso está a ser investigado na justiça".

"Eu sei que em política por vezes é necessário criar novos factos políticos para resolver alguns velhos fantasmas", afirmou o deputado do PS, referindo que foi ver as notícias e encontrou "um fantasma" chamado Pavilhão Atlântico. "Quando nós temos um fantasma, é claro que nós temos de encontrar um outro facto político", sustentou.

Ascenso Simões acusou depois a presidente do CDS-PP de estar a fazer "chicana política" e a utilizar o parlamento para "discutir a liderança da direita com o PSD" e argumentou que os resultados da atual governação não dão razões para uma moção de censura.

O socialista recorreu novamente ao passado, declarando que o deputado centrista Pedro Mota Soares quando foi ministro queria "mandar embora" mais de 800 funcionários da Segurança Social, e citou o ex-presidente do CDS-PP, Paulo Portas, contra a apresentação de moções de censura sem a apresentação de "uma alternativa".

Esta foi a primeira intervenção do PS no debate desta moção de censura, na Assembleia da República, e na resposta a presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, lamentou "o deputado escolhido e o tom escolhido", acrescentando: "Sobre o passado, deste lado não recebemos nenhuma lição de quem pertenceu ao Governo de José Sócrates".

Assunção Cristas não respondeu diretamente às críticas, lamentando "a forma como o PS se apresenta neste debate".

"Acho que erram, acho que o PS errou na escolha da pessoa", reforçou.

A presidente do CDS-PP insistiu nas críticas ao estado da Serviço Nacional de Saúde (SNS), alegando que, "por exemplo, neste momento, no Algarve, os cirurgiões que têm mãos maiores não conseguem fazer cirurgias porque faltam luvas para o seu tamanho".
"Direita perdida nos seus jogos"

A coordenadora do BE considerou hoje que, na moção apresentada, o CDS-PP está a autoavaliar-se e "censurar-se pelo que fez até agora", desafiando o primeiro-ministro a deixar "a direita perdida nos seus jogos" e avançar onde tem hesitado.

"Estamos num debate um pouco estranho. Chama-se moção de censura ao Governo, mas o proponente apressou-se a explicar que não era bem isso. No dia em que anunciou a moção, veio logo dizer que isto era para clarificar a posição do PSD e, portanto, eu presumo que nós estamos numa corrida da direita", criticou Catarina Martins no debate da moção de censura apresentada pelo CDS-PP, que hoje decorre no parlamento.

No BE, garante a sua líder, levam-se "estas coisas a sério", e por isso não deixaram de "ler o texto da moção que o CDS escreveu" e tiraram "a única conclusão possível: é uma moção de autoavaliação e o CDS está a censurar-se pelo que fez até agora e faz muito bem".

"Senhor primeiro-ministro, deixe a direita perdida nos seus jogos e avance onde tem hesitado ou onde se atrasou. O Bloco não faltará", desafiou a líder do BE.

Para a coordenadora do BE, "quando invoca a contestação e as greves, o CDS só pode censurar-se a si próprio por ter apoiado o Governo a travar avanços nos direitos de quem trabalha".

"É verdade, o CDS merece toda a censura", ironizou.

O BE, recordou Catarina Martins, "já anunciou o voto contra esta iniciativa bizarra do CDS".

"Seja isto um jogo floral no campo da direita, para obrigar o PSD a correr atrás do CDS, uma tentativa de um biombo grande para tapar o pavilhão Atlântico ou seja uma moção de arrependimento do CDS pela participação no chumbo de mais investimento público ou de medidas de reposição de direitos dos trabalhadores, seja qual for a motivação do CDS, esta moção não merece o nosso voto", insistiu.

A líder bloquista dirigiu-se diretamente ao primeiro-ministro, António Costa, para considerar que o "Governo tem respostas a dar, não ao CDS, mas ao país".

Na saúde, nas escolas, no PREVPAP, nos transportes e infraestruturas ou na legislação do trabalho, Catarina Martins defendeu que "ainda há tempo" para fazer o que é preciso.

"Resta saber se o governo vai encostar-se à direita que hoje se entretém em jogos de censura. Ou se, pelo contrário, quer aproveitar os meses que ainda temos para os avanços que faltam e que contam na vida das pessoas: salário, habitação, saúde, educação", desafiou.

Catarina Martins elencou aquelas que são as críticas do CDS e que motivam esta moção de censura, como as lutas laborais e greves, considerando que o partido liderado por Assunção Cristas "fala de contestação social e mobilizações sociais como nunca se viu um partido de direita fazer em Portugal".

"Mas o CDS, que não quis a reposição dos feriados, nem as 35 horas, nem o pagamento de horas extraordinárias, que não quis nada do que foi feito em nome de quem trabalha, é o CDS que hoje vê as greves pelo país e censura o Governo pelo que ainda não fez", condenou.

Admitindo que "o Governo podia e devia ter ido mais longe", a líder bloquista acusou o CDS-PP de esconder o que "o país sabe".

"É que, se esses avanços não aconteceram, foi porque o mesmo CDS - seja pela abstenção seja pelo voto contra - apoiou o governo a travar cada uma das soluções quando a esquerda as propôs aqui", argumentou.
Convergência do Governo à direita
PCP e "Os Verdes" condenaram hoje a convergência ao longo da legislatura do PS e do seu Governo minoritário com PSD e CDS-PP em diversas áreas, embora desvalorizando a moção de censura ao executivo apresentada pelos democratas-cristãos.

No debate da moção de censura, na Assembleia da República, em Lisboa, comunistas e ecologistas atribuíram a opção de os centristas apresentarem uma moção de censura pela segunda vez nesta legislatura à disputa política por espaço com o PSD.

"Isto ficou mais evidente com o pedido desculpas de Assunção Cristas, se calhar não queria bem apresentá-la (a moção de censura)", afirmou o líder parlamentar do PCP, João Oliveira, acrescentando tratar-se de uma "encenação".

Para o deputado comunista "em tudo aquilo em que há avanço está a marca, a proposta e a iniciativa do PCP" e, "em tudo o que é problema por resolver", encontra-se "o apoio de PSD e CDS para que as coisas não avancem".

João Oliveira apontou como exemplos as iniciativas legislativas rejeitadas por PS, PSD e CDS-PP sobre o aumento para 650 euros do salário mínimo para os setores público e privado, a reforma sem penalizações para quem descontou 40 anos, a eliminação das propinas e a revogação de lei dos despejos.

"PSD e CDS deram ao PS o apoio que lhe faltava para rejeitar as propostas do PCP. Também sabemos que o objetivo do CDS com esta moção de censura é a disputa à direita, é ganhar força para andar para trás, mas o que é preciso é avançar", disse.

O líder parlamentar do PCP defendeu ainda que "podia ter havido mais investimento publico", questionando o primeiro-ministro sobre se o Governo vai continuar a convergir com PSD e CDS-PP em questões como a saúde, a legislação laboral ou o controlo público dos CTT

A líder parlamentar do PEV, Heloísa Apolónia, afirmou que a presidente dos centristas, Assunção Cristas, "matou" a moção de censura "logo no início da sua intervenção", ao dizer que serviria para mero posicionamento político, e que o intuito do CDS-PP seria fazer um "xeque ao Rio" (presidente do PSD, Rui Rio) e "lucrar" com eleições antecipadas porque "o PSD está quebrado".

"Se não se tivesse colado (o PS e o Governo), tantas vezes, ao PSD e ao CDS, o país teria melhorado. Se o PSD e o CDS não tivessem dado tantas vezes a mão, o país estaria melhor", avaliou a deputada ecologista, recordando "o massacre da governação PSD/CDS", com salários e pensões cortados, o aumento de impostos, a escalada do desemprego e da pobreza.

Heloísa Apolónia criticou ainda o executivo socialista pela obsessão com o défice, "um Governo que procurou fazer bonito para Bruxelas", em detrimento de melhores condições de vida para as pessoas "cá dentro".
PAN contra eleições antecipadas
O partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) manifestou-se hoje contra as eleições antecipadas propostas na moção de censura do CDS-PP e considerou que é "muito mais o que une" este partido ao PS do que aquilo que separa socialistas e democratas-cristãos.

"Não é o Governo que está esgotado, é o regime que está falido. Os partidos incumbentes convergem no agudizar dos problemas estruturais do país e mostram-se incapazes de encontrar soluções à altura dos desafios e dos valores do século XXI, capturados que estão pelas suas ideologias e interesses corporativos", criticou o deputado único do PAN, André Silva, na intervenção do partido no debate da moção de censura ao Governo apresentada pelo CDS-PP, na Assembleia da República, em Lisboa.

André Silva afirmou que o PAN "defende que é preciso fazer um outro caminho no país, mas não da forma pouco responsável como hoje propõe o CDS, com eleições antecipadas".

"O país precisa de estabilidade governativa e daqui a meio ano as portuguesas e os portugueses serão chamados a fazer escolhas, a escolherem um projeto que garanta um estado social eficaz, uma economia baseada na gestão responsável das finanças públicas e com uma visão estratégica de longo prazo que priorize o combate às alterações climáticas. Haja mas é coragem para isso", defendeu.

André Silva disse ter procurado na moção do CDS-PP críticas à "visão redutora que o Governo e os partidos do regime têm da saúde, em que se aposta na reação e não na prevenção".

"Não encontrámos", afirmou, lamentando ainda não ter encontrado no texto dos democratas-cristãos censura ao Governo por não apostar em políticas fiscais e de sensibilização dissuasoras do consumo excessivo de sal, açúcar ou carnes processadas.

André Silva disse ter ainda procurado, sem sucesso, na moção de censura "onde é que o CDS condena o Governo pela total permissividade a empresas que devastam os ecossistemas e contaminam o ar e a água", apontando casos concretos de empresas como a Celtejo, a Siderurgia Nacional ou "as muitas suiniculturas ilegais a operar no país".

"Procurámos ainda na moção de censura aquela parte em que o CDS fala da atitude do governo em relação à maior crise que vivemos: as alterações climáticas. Zero", criticou.

Por outro lado, o deputado único do PAN estranhou que o CDS-PP tenha censurado o Governo em matéria de agricultura: "Tanta coisa para censurar e honestamente não conseguimos perceber porquê esta parte. Capoulas Santos é o melhor ministro da Agricultura que o CDS já teve", ironizou.

"Está a transformar o Alentejo num olival super intensivo, quer massificar o turismo cinegético, aumenta exponencialmente a cada ano a exportação de animais vivos violando regulamentação europeia, e é brilhante a esbanjar dinheiro público nos apoios à indústria da carne e do leite. E mais: tal como o CDS, despreza a agricultura biológica", justificou.
PCP diz que CDS fez "papel de idiota"
O deputado comunista António Filipe afirmou hoje que o CDS-PP fez "papel de idiota" com a sua moção de censura ao Governo porque se trata de "uma iniciativa inconsequente" que "não se dirige ao Governo".

No debate parlamentar, o tribuno do PCP disse que "o real objetivo" da iniciativa dos democratas-cristãos "não é derrubar o Governo", mas "marcar território à direita".

"O destinatário desta moção não é o Governo, é, principalmente, o PSD e, assessoriamente o recém-criado Aliança, nascido da mesma cepa e envelhecido nas mesmas caves. É uma moção que o PSD poderia apresentar, mas não quer, e que Santana Lopes quereria apresentar, mas não pode", continuou.

Segundo António Filipe, "o país reagiu com a indiferença que é devida a uma iniciativa inconsequente, mas o PSD lançou-se num fascinante debate interno entre David Justino e o comentador Marques Mendes sobre saber quem no PSD anda a fazer papel de idiota".

"Enquanto no PSD se discute quem faz papel de idiota, o CDS chega-se à frente e não deixa os seus créditos por mãos alheias", sintetizou.

Para o deputado comunista "há uma diferença essencial entre o PCP e o CDS em relação à política do Governo", pois "o PCP convergiu com oo Governo PS em tudo quanto o Governo fez de bom" e "o CDS convergiu com o Governo PS em tudo o que o Governo fez de mau".

"Sim, nós temos razões para criticar o Governo, mas não são as razões do CDS", vincou.

António Filipe disse que "o que para o CDS é motivo de censura" constitui "motivo de orgulho" para o PCP, partido que se orgulha "de ter contribuído decisivamente para travar a política de empobrecimento e esbulho definitivo de direitos que o CDS pretendia prosseguir a partir do Governo".

"O PCP não cala as suas críticas ao Governo PS, mas, ao contrário do CDS, não quer que o país ande para trás. Os avanços que se verificaram nestes três anos e meio não podem voltar para trás, pelo contrário. É preciso avançar no investimento público, avançar contra as imposições de Bruxelas, avançar na reposição e na conquista de direitos pelos trabalhadores e pelo povo", desejou.
PSD acusa Costa de "reescrever história"
O PSD acusou hoje o primeiro-ministro, António Costa, de "reescrever a história" e manifestou-se confiante de que os portugueses voltarão a "compreender o valor da verdade" nas próximas eleições.

A intervenção de fundo do PSD no debate da moção de censura do CDS-PP ao Governo coube à deputada Joana Barata Lopes, que acusou António Costa de desrespeitar o parlamento e apenas se importar com "aqueles representantes dos portugueses que lhe permitem estar e manter-se no poder", referindo-se ao BE, PCP e Verdes

"Não é sequer ao PSD que indigna quando tenta reescrever a história com a maior desfaçatez, é aos portugueses, quando mente, negando que herdaram um país a crescer em 2015. A indignação que importa não é a do PSD, mas dos portugueses", apontou.

A deputada social-democrata salientou que "este é o Governo que escolheu dizer que tinha virado a página da austeridade", mas aplicou "a maior carga fiscal de sempre" nos impostos indiretos.

"Até o significado da greve manipula: em todo o Governo anterior, as greves eram descontentamento social, hoje são fruto de melhores expectativas de vida", criticou Joana Barata Lopes.

Citando o presidente do PSD, Rui Rio, a deputada manifestou-se confiante de que "os portugueses escolherão em cada momento aqueles que lhes inspirarem mais confiança em função da credibilidade que lhes conferirem".

"Talvez este primeiro-ministro nunca compreenda que o valor de verdade demonstra respeito e conquista respeito, mas os portugueses compreenderam nas últimas eleições e vão voltar a compreender", afirmou.

O PSD optou por não esgotar o seu tempo no debate da moção de censura do CDS-PP, gastando 20 dos 27 minutos que tinha disponíveis.
Ministra da Presidência: Governo sai "reforçado"

A nova ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Mariana Vieira da Silva, que tomou posse na última segunda-feira, defendeu neste debate que o Governo sai reforçado com a rejeição da moção de censura do CDS-PP.

"Com esta rejeição, ganha também o país, que vê prosseguir um caminho de recuperação da economia, do emprego, dos rendimentos e do investimento. Com esta rejeição, ganham os portugueses, que veem continuado um caminho de esperança que devolve a confiança num futuro de progresso e prosperidade", acrescentou.

Poucos minutos antes do final do debate e da votação da moção de censura, Mariana Vieira da Silva estreou-se no plenário como ministra com críticas de incoerência e falta de soluções contra os centristas.

A ministra assinalou que quando o atual executivo iniciou funções, em novembro de 2015, era criticado por "pôr em risco as contas públicas" e "pela falta de gradualismo na reposição de direitos e rendimentos" pelos centristas, assim como pelo PSD.

"Numa reviravolta de argumentos, acusam afinal o Governo de não responder positivamente a todas as pretensões salariais e a todas as pretensões de progressão nas carreiras", apontou.

Segundo a ministra, puseram de lado "preocupações com despesismo ou com descontrolo das contas públicas" e esqueceram "tudo o que anunciavam como iminente há menos de três anos".

"Emprego, défice e dívida: três temas sobre os quais o CDS prefere agora não falar. O CDS de 2019 tem vergonha do que dizia o CDS de 2016, e compreende-se", considerou.
PSD e CDS-PP estão "sobressaltados"

Carlos César, líder parlamentar do PS considerou hoje que a moção de censura do CDS-PP visou sobretudo o PSD numa guerra de influências entre partidos da direita e afirmou ser "cómico" que os sociais-democratas se preparem para votar a favor.

"Esta é uma moção de censura do CDS contra o PSD. O que é cómico é que o PSD vai votar a favor dela", afirmou Carlos César.

No discurso final da sua bancada, Carlos César interrogou-se sobre os motivos subjacentes à atual conduta política de sociais-democratas e democratas-cristãos.

"Mas o que agita os partidos parlamentares das direitas? O que leva o CDS a levantar a crista e a apresentar esta moção de censura, e o PSD, rasteirado e desnorteado, a servir-lhe de palmilha, como um partido amordaçado?", questionou.

Segundo o líder da bancada socialista, o país está perante uma iniciativa do CDS-PP sem qualquer efeito prático e que apenas se justifica pela "voracidade" face a um PSD que disse revelar "desorientação".

"Um CDS que ainda não percebeu onde não pode chegar e um PSD que ainda não percebeu se com aquele se pode aliar. Com tanto para pensarmos como melhor poderíamos servir o nosso país, tivemos de estar aqui, neste debate, para assistir a mais um episódio das guerras de influências entre os partidos das direitas", afirmou.

O CDS e PSD, de acordo com Carlos César, "que estiveram no passado em aliança, têm, agora, em comum, a inquietude pelas previsões da votação que percebem que não lhes chega".

Por outro lado, apontou o líder parlamentar do PS, PSD e CDS mostram-se "sobressaltados pelas ameaças dos partidos emergentes no território em que reacendem a sua disputa" e, por isso, "já não disfarçam o incómodo pela intrusão".

Respondeu ainda às críticas do PSD e do CDS-PP sobre as recentes mudanças efetuadas no executivo de António Costa, relembrando que o anterior Governo fez mais remodelações do que o atual.

"Saudamos o primeiro-ministro pela forma como tem convocado para a atividade governativa uma nova geração, o que bem contrasta com a incapacidade dos partidos da direita parlamentar contrariarem o seu próprio envelhecimento político. Basta-nos ver o governo-sombra do PSD, que nos recorda as imagens clássicas do antigo soviete supremo, entre relíquias do cavaquismo e deserdados do 'passismo'", declarou Carlos César.

c/ Lusa
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