Moção de censura do CDS já esbarra à esquerda a cinco dias da votação

por Carlos Santos Neves - RTP
Os deputados à Assembleia da República cumpriram na quarta-feira um minuto de silêncio em homenagem às vítimas dos incêndios de domingo Manuel de Almeida - Lusa

Das bancadas do PCP e do Partido Ecologista “Os Verdes” o CDS-PP pode desde já contar com um não. Os dois partidos assumiram esta quinta-feira que, na próxima semana, votarão contra a moção de censura apresentada pelo partido de Assunção Cristas. E acusam os democratas-cristãos de aproveitamento político da calamidade dos incêndios.

“Esta moção de censura não tem rigorosamente nada que ver com perspetivas de resolução dos problemas das florestas ou incêndios florestais”, reagiu o número um da bancada parlamentar comunista, João Oliveira, já depois de a conferência de líderes ter agendado para a próxima terça-feira a discussão da moção de censura ao Governo de António Costa.

“Não resulta outra coisa que não uma tentativa de aproveitar uma tragédia com a dimensão que teve este ano para retirar dividendos por parte do CDS, que não podem, de forma alguma, ser acompanhados pelo PCP. Naturalmente, o PCP votará contra ela”, clarificou o deputado do PCP.Com o título Pelas falhas do Governo nos incêndios trágicos de 2017, a moção de censura do CDS-PP foi esta quinta-feira apresentada no Parlamento.


Ainda segundo João Oliveira, o esperado chumbo, à esquerda, da moção de censura “não reforça o Governo”, antes “diminui” o partido que decidiu apresentá-la, “procurando aproveitar uma tragédia para efeitos partidários”.

Heloísa Apolónia pronunciou-se no mesmo sentido, recusando empenhar o PEV no que descreveu como uma “lógica do jogo partidário”.

“Os Verdes entendem que esta postura do CDS de não ter apresentado nenhum contributo em relação às mudanças necessárias para a floresta demonstra que isto é meramente uma estratégia partidária”, avaliou a deputada.

“Os Verdes recusam-se liminarmente a entrar nessa lógica do jogo partidário e querem é contribuir de forma muito séria para resolver problemas e gerar soluções no país, é para isso que estamos a puxar o Governo”, acrescentou.
“Truque grotesco”

No texto da moção de censura, o CDS-PP estima que “as medidas anunciadas para o médio e longo prazo não justificam a omissão no curto prazo”.

Lê-se também no documento que, no período que mediou entre os incêndios de Pedrógão Grande e Góis, em junho, e nas regiões norte e centro do país, que lavraram no último domingo, “o primeiro-ministro não se mostrou disponível para assumir as responsabilidades políticas”.

Em suma, para o partido de Cristas, o Executivo socialista “falhou, não corrigiu o seu comportamento em tempo e voltou a falhar”.

No último debate quinzenal, o Bloco de Esquerda lançara já duras críticas à iniciativa do CDS-PP, classificando-a como um “truque grotesco”. Ao mesmo tempo considerou “ridículo” o repto da bancada do PSD no sentido de uma moção de confiança.

“Esta moção de censura apresentada no primeiro dia de luto nacional é grotesca e a exigência do PSD hoje de uma moção de confiança é de um ridículo intolerável”, sustentava na quarta-feira Catarina Martins.

“Pesa sobre nós a tragédia que se abateu sobre o país”, admitiria a coordenador do Bloco, antes de afirmar que “o Estado falhou”: “Falhou a quem perdeu a vida, a quem ficou ferido, a quem ficou sozinho frente ao fogo, a quem o foi combater sem meios, a quem perdeu tudo, a quem caminha hoje sobre cinzas”.

c/ Lusa
Tópicos
pub