Morreu António Arnaut, "pai" do Serviço Nacional de Saúde

por RTP
António Arnaut estava internado nos Hospitais da Universidade de Coimbra António Cotrim - Lusa

O antigo ministro dos Assuntos Sociais e cofundador do PS morreu esta segunda-feira, em Coimbra, aos 82 anos. Foi o fundador do Serviço Nacional de Saúde. Foi decretado para terça-feira um dia de luto nacional.

António Arnaut estava internado nos Hospitais da Universidade de Coimbra. Em reação à morte do histórico socialista, o secretário-geral do partido decretou para esta segunda-feira o "luto partidário", com a bandeira socialista a meia haste em todas as sedes do país.

O Governo decretou entretanto um dia de luto nacional para terça-feira, em memória de António Arnaut. Diploma que teve imediata aceitação do Presidente da República.

Arnaut nasceu na Cumeeira, conselho de Penela, em Coimbra, a 28 de janeiro de 1936. Foi fundador do Serviço Nacional de Saúde e era presidente honorário do PS desde 2016, após a morte de Almeida Santos.

O antigo ministro foi um dos fundadores do Partido Socialista, tendo sido o militante nº4. 


Foi ministro dos Assuntos Sociais no II Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, durante a coligação entre PS e CDS-PP. Enquanto ministro com essa pasta, lançou as bases do Sistema Nacional de Saúde, em 1979.O corpo de António Arnaut estará a partir das 18h30 em câmara ardente na antiga igreja do Convento de S. Francisco, em Coimbra. Sairá às 16h30 de terça-feira para o crematório da Figueira da Foz.


Antes do 25 de Abril, António Arnaut foi opositor do Estado Novo, tendo participado na comissão distrital de Coimbra durante a candidatura presidencial de Humberto Delgado. Dez anos depois, em 1969, foi candidato à Assembleia Nacional pela Comissão Democrática Eleitoral nas eleições legislativas.

Depois da Revolução foi deputado à Assembleia Constituinte e mais tarde deputado à Assembleia da República, chegando ao cargo de vice-presidente.

Com formação em Direito, na Universidade de Coimbra, António Arnaut foi advogado e exerceu vários cargos na Ordem dos Advogados, tendo recebido a Medalha de Honra em 2007.

António Arnaut foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade por altura das comemorações dos 30 anos do 25 de Abril. Em 2016, no "Dia da Saúde", foi elevado ao grau de Grã-Cruz da Ordem da Liberdade pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. 



O Presidente da República já veio lamentar a morte do antigo ministro António Arnaut, lembrando-o como um "cidadão impoluto" e um "lutador pela liberdade e pela democracia".

"Eu tive a honra de o condecorar com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e queria, como amigo, recordar com saudade a pessoa e agradecer-lhe tudo o que fez por Portugal", afirmou o Chefe de Estado à saída do quartel dos bombeiros de Vila Nova de Tazem, concelho de Gouveia (distrito da Guarda), descrevendo António Arnaut como um "cidadão impoluto", que "foi e é um exemplo de democrata, de lutador pela liberdade, de socialista empenhado na solidariedade social", "sensível à justiça e à solidariedade".

"Daí ser o criador do SNS, que é, porventura, uma das expressões máximas da solidariedade social acolhida na nossa Constituição".


Em mensagem publicada no portal da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa apresenta condolências "à família enlutada".

"O nome de António Arnaut ficará para sempre inscrito na memória da democracia portuguesa como combatente pela liberdade, fundador e Presidente do Partido Socialista e pai do Serviço Nacional de Saúde, razões pelas quais lhe atribuí a 25 de abril de 2016 a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade", aponta ainda o Presidente.

Em reação à morte do ex-governante, o atual secretário-geral do PS considerou que António Arnaut vai ser recordado "para a eternidade" e que o seu nome será "para sempre" associado à "concessão e criação do Serviço Nacional de Saúde, "grande conquista do Portugal de Abril"

"Portugal perdeu aquele que é o pai do nosso Serviço Nacional de Saúde, uma grande referência como governante, como deputado e democrata, como grande defensor da causa pública e que nos legou algo que é precioso e que é, seguramente, algo de mais importante que o 25 de Abril nos deixou, que é podermos ter um Serviço Nacional de Saúde que assegura acessibilidade universal tendencialmente gratuita para todos, independentemente das suas possibilidades económicas", acentuou António Costa à chegada ao aeroporto da Madeira, onde foi encerrar a cerimónia do Dia do Empresário Madeirense.

"O PS está de luto com o falecimento de António Arnaut, nosso presidente honorário. Fundador do PS, militante dedicado, honrou-nos como deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República e como governante", refere ainda o primeiro-ministro numa nota enviada à agência Lusa.

Também o socialista Ferro Rodrigues, atual presidente da Assembleia da República, recorda António Arnaut como "um homem que personificava, como poucos, o conceito de ética republicana" e um "combatente antifascista".

"Enquanto ministro, ficou associado à criação do Serviço Nacional de Saúde, uma das principais conquistas sociais da Democracia portuguesa", assinala Ferro Rodrigues.

"Foi até ao último dia um cidadão empenhado e um militante ativo da causa dos direitos sociais, porque sabia bem que sem igualdade de oportunidades a liberdade não tem condições para ser exercida", refere ainda o presidente da Assembleia da República.
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