Orçamento de 2021. Com negociações à vista, Bloco rejeita "acordos por conveniência"
O primeiro-ministro dá início esta quarta-feira ao processo de negociações tendo em vista a viabilização da proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano. António Costa recebe Bloco de Esquerda e PCP. Na véspera, a coordenadora bloquista acendeu o sinal amarelo ao Executivo socialista: a haver entendimentos, “só por convicção”.
António Costa recebe esta quarta-feira BE e PCP para encetar as negociações em torno da proposta de Orçamento para o próximo ano e do programa de recuperação da economia até 2030.
“Mas, como digo, tem de haver políticas concretas e compromissos claros. É isso que o Bloco de Esquerda faz sempre e continuará a fazer. Não fazemos acordos por conveniência, só por convicção”, deixou claro a coordenadora do BE.
Catarina Martins carregou, adiante, na ideia de que qualquer fórmula de viabilização da proposta de Orçamento do Estado para 2021 estará condicionada, na perspetiva do Bloco, a “políticas concretas e compromissos claros”. A começar “pelo reforço dos serviços públicos, desde logo o Serviço Nacional de Saúde, e também pelo emprego e direitos de quem trabalha”.
Ouvido pela RTP em Budapeste, à margem de um encontro com o homólogo húngaro, António Costa sustentou que sempre defendeu que, para os socialistas, os parceiros naturais estão à esquerda, reiterando que a reedição de um bloco central constituiria “um fator de empobrecimento da democracia”.
Confrontada com estas declarações do chefe do Executivo, Catarina Martins frisou que a “política não pode ser um jogo de conveniências”.
“A política não pode ser um jogo de conveniências, tem de ser a afirmação de convicções e projetos para o país. Os acordos formais ou informais entre o PS e PSD deram sempre cortes nos serviços públicos, nos salários e no direito do trabalho”, recordou.
“Para haver acordos com a esquerda não pode ser só conversa, tem de ser medidas concretas que defendam o emprego, os direitos de quem trabalha, os serviços públicos, o SNS que precisa tanto de mais recursos para poder continuar a dar resposta ao país”, insistiu Catarina Martins.
Os sinais à esquerda do PS
A dirigente do Bloco já havia deixado vincado que o partido consideraria sempre prioritária a revisão da legislação laboral, o que tem merecido a oposição do Governo. O Executivo socialista invoca o facto de o Código do Trabalho, na sua atual versão, ter entrado em vigor em setembro de 2019
Por seu turno, os comunistas votaram contra o orçamento suplementar para o ano em curso, o que tem sido visto como um passo atrás na estratégia de entendimentos conjunturais à esquerda.
O facto é que o próprio Jerónimo de Sousa mostrou abertura, após a última reunião do Comité Central do PCP, em junho, para estudar a proposta de Orçamento para o próximo ano – sem “reserva mental”.
A 4 de julho, ao abrir os trabalhos da Comissão Nacional dos socialistas, António Costa advertiu os parceiros da esquerda. “Outros vão-nos deixando sozinhos à espera de que nos juntemos à direita para nos acusarem de governar à direita”, atirou então o secretário-geral do PS.
“Cada um sabe de si, nós sabemos de nós, mas gostaria que não houvesse qualquer equívoco sobre as condições de governabilidade. Que fique claro: o PS não vai aproveitar boas sondagens para provocar uma crise política e precipitar eleições, porque não temos medo de cumprir as nossas responsabilidades e de governar e gerir o país nesta situação de crise que o país enfrenta”, acrescentou.
Depois de BE e PCP, as negociações orçamentais vão ser estendidas a delegações do partido Pessoas-Animais-Natureza e do Partido Ecologista “Os Verdes”.
c/ Lusa
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