Em direto
Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos. Acompanhe ao minuto

PS de Seguro evita "deslumbramento" debaixo de avisos de Costa

por RTP
Tido como próximo de António Costa, Sérgio Sousa Pinto disse ser “evidente que, para o PS, ainda há muito caminho a percorrer” Mário Cruz, Lusa

Os resultados obtidos pelas candidaturas socialistas nas eleições autárquicas traduzem-se numa “vitória histórica”. Mas é a procurar fugir à tentação do “deslumbramento” que o maior partido da oposição assesta baterias ao poder executivo. Foi esta a doutrina recitada na última noite pela direção de António José Seguro diante da Comissão Política Nacional do PS. Uma reunião que serviu de rampa de lançamento para a Convenção Novo Rumo, fórum de propostas alternativas à governação de PSD e CDS-PP. E que deu também azo a novos avisos à navegação por parte do presidente reeleito da Câmara de Lisboa, António Costa. Para quem a atual cúpula do Rato está ainda longe de constituir “uma alternativa clara e imediata”.

O credo enunciado por Seguro na reunião à porta fechada da Comissão Política Nacional do PS foi citado à agência Lusa por fonte oficial socialista: “A vitória não nos deslumbra e reconhecemos o desencanto e a desilusão que muitos portugueses sentem face à política, os que ficaram em casa e os que foram votar em branco”.

Sem o completo embargo de um aplauso unânime a um resultado eleitoral “histórico” – a conquista de 150 câmaras municipais para as cores socialistas -, é a evitar a euforia que a direção socialista aborda o pós-autárquicas. Apontam nesse sentido as posições destiladas das paredes do Rato, onde António José Seguro sustentou que os números obtidos no escrutínio do passado domingo fazem subir a fasquia das “responsabilidades” do PS.
“Jamais esquecerei o que ouvi de muitos portugueses ao longo desta campanha, ouvi relatos chocantes. Com esta vitória, as nossas responsabilidades aumentam”, terá afirmado Seguro na sede socialista, de acordo com a fonte ouvida pela Lusa.


“O PS obteve uma vitória histórica, tendo cumprido todos os seus objetivos, vencendo com mais votos, com mais freguesias, mais mandatos e com um número recorde de câmaras conquistadas. Fizemos uma avaliação serena desta vitória, mas sem deslumbramento”, insistiria à saída da reunião o dirigente socialista Miguel Laranjeiro, secretário nacional para a Organização.

As “responsabilidades” socialistas terão como laboratório a Convenção Novo Rumo, que começará ainda em outubro. “Não será um momento”, nas palavras de Seguro. Será “um processo” aberto à “participação de todos os cidadãos portugueses”.

“A Convenção Novo Rumo será um processo e não um momento, um processo que se iniciará desde já e em que queremos envolver toda a sociedade portuguesa, num grande movimento para encontrar soluções para os problemas dos portugueses. Há milhões de portugueses a atravessar imensas dificuldades”, repetiu Miguel Laranjeiro.
“Muito caminho a percorrer”
Protagonista da noite no Largo do Rato foi também António Costa. O rosto da maioria absoluta socialista na capital já advertira, na véspera, que, da avaliação dos resultados eleitorais, não resultava o cenário de um PS como “alternativa clara e imediata”. Os avisos do antigo ministro transitaram do palco televisivo da Quadratura do Círculo, na SIC Notícias, para a Comissão Política Nacional.

Elementos daquele órgão partidário, igualmente ouvidos pela Lusa, deram conta das posições de Costa, que terá chamado a atenção dos dirigentes socialistas para a ascensão das candidaturas autárquicas independentes e os níveis de abstenção, sinais, no entender do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, da clara desconfiança do eleitorado relativamente aos partidos.

Conotado com a ala de António Costa, Sérgio Sousa Pinto reforçou a leitura, ao dizer que “é evidente que, para o PS, ainda há muito caminho a percorrer”. O partido, continuou o deputado socialista, “tem de constituir como uma alternativa credível”. E esse “é um trabalho que ainda não está concluído”.

Questionado sobre a postura do autarca lisboeta, Miguel Laranjeiro quis carregar na tecla da concórdia entre as fileiras socialistas, indo ao encontro da ideia de um longo trajeto a percorrer: “Há um caminho que estamos a traçar com uma grande coerência, envolvendo a sociedade civil, todos os portugueses, através da Convenção Novo Rumo”.
Assis, Costa e Belém
A cimentar o protagonismo de António Costa esteve ainda Francisco Assis, que, na edição de quinta-feira do Público, assinou um artigo de opinião a sugerir o nome do presidente da Câmara lisboeta para uma candidatura à Presidência da República.

O antigo líder parlamentar do PS escreveu que Costa fez na noite eleitoral “um discurso lúcido e foi, talvez, o único homem do partido que revelou uma compreensão instantânea da importância de um novo fenómeno na vida política portuguesa: a afirmação vitoriosa de alguns movimentos independentes no plano autárquico”.

António Costa, defendeu Francisco Assis no mesmo texto, “será, provavelmente, o próximo Presidente da República”. “Se não quiser, será, com o talento de sempre, aquilo que as suas ambições e circunstâncias lhe permitem vir a ser”, acrescentou o responsável socialista.

À chegada para a reunião na sede nacional do PS, Assis argumentaria ter apenas escrito que “António Costa teve uma grande vitória nas eleições para a Câmara de Lisboa e é uma personalidade marcante da vida política nacional”. E que também considera que Seguro “saiu claramente reforçado nestas eleições autárquicas”.

Francisco Assis foi ainda questionado sobre o cenário de um regresso à liderança da bancada parlamentar do PS. “Garanto que na minha vida não voltarei a ser líder parlamentar”, retorquiu, escusando-se a esclarecer se é favorável à recondução de Carlos Zorrinho na eleição marcada para o próximo dia 11.
Tópicos
pub