Regresso de Sócrates à RTP desafina PSD e CDS-PP no Parlamento

por RTP
José Sócrates, que vai protagonizar um novo espaço de comentário político na RTP, concede esta quarta-feira uma entrevista à estação pública André Kosters, Lusa

O novo espaço de comentário político a protagonizar na RTP por José Sócrates, que esta quarta-feira dá uma entrevista à estação do Estado, abriu uma brecha entre os partidos da maioria na Assembleia da República. No momento de votar o requerimento do CDS-PP para ouvir em sede de comissão parlamentar de Ética as explicações do diretor de Informação do operador público de televisão, o PSD manifestou perplexidade com a escolha do ex-primeiro-ministro. Mas optou pelo chumbo. Ao lado do PS.

Os social-democratas mostram-se “perplexos e indignados” com o regresso de José Sócrates a um segmento de comentário político na RTP. Todavia responderam ontem com um chumbo ao requerimento dos seus parceiros de coligação para que o diretor de Informação da estação pública fosse ouvido na comissão parlamentar de Ética, Cidadania e Comunicação.

Numa intervenção recolhida pela jornalista da Antena 1 Susana Barros, a deputada do PSD Carla Rodrigues justificou a posição do seu partido com a recusa de um debate condicionado “por um caso concreto”.José Sócrates, que vai protagonizar um novo espaço de comentário político na RTP, concede esta quarta-feira, a partir das 21h00, uma entrevista à estação pública a conduzir pelo diretor de Informação Paulo Ferreira e pelo jornalista Vítor Gonçalves.

Austeridade, alternativas políticas para contrariar a crise e o futuro da Europa serão alguns dos temas a abordar pelo anterior primeiro-ministro.


“Este ruído mediático em torno desta questão é compreensível, mas não nos pode afastar do respeito pela legalidade. Mais uma vez, estamos abertos à discussão deste assunto do pluralismo, do cumprimento das obrigações de serviço público. Estamos muito abertos, mas não condicionados por um caso concreto, porque isso tiraria a dignidade e a amplitude dessa discussão, que eu acho que seria muito importante no âmbito desta comissão”, argumentou a deputada laranja.

Pelo CDS-PP, Raul Almeida mostrou-se surpreendido. Para sublinhar que o partido “não se imiscui na liberdade editorial” da RTP e “respeita a legalidade acima de tudo”

“Eu pensei que seria uma coisa pacífica, por se tratar de um pedido de esclarecimentos perfeitamente normal em democracia. Suscitou um debate maior do que aquilo que estávamos à espera, mas estamos também preparados para ele, preparados para dizer que o CDS cumpre sempre rigorosamente a lei”, afirmou o deputado democrata-cristão.
“Bloco central reencontra-se”

Se os socialistas acusaram o CDS-PP de estar a enveredar pelo populismo, PCP e BE acabaram por se posicionar ao lado do partido de Paulo Portas. Cecília Honório, do Bloco, falaria de um desfecho “curioso” da discussão: “Tal como este bloco central se reencontra e hegemoniza o comentário, assim também nesta comissão o bloco central se reencontra nos argumentos de fundo”.

Foi na passada quinta-feira que o CDS-PP requereu a presença do diretor de Informação da RTP na comissão parlamentar de Ética, Cidadania e Comunicação, perguntando, no texto da iniciativa, se a escolha de José Sócrates para comentador político cabia “num conceito de serviço público plural e democrático”.

Telmo Correia assinalava então o que considerava ser “uma perplexidade óbvia”: “Qual o critério da escolha de um ex-primeiro-ministro para um tempo de antena de 25 minutos no serviço público de televisão”.

Sustentando que “seria normal” se Sócrates fosse apenas entrevistado, porque “provavelmente muitos portugueses gostariam de ouvir respostas a quem teve tantas responsabilidades no passado recente”, o dirigente democrata-cristão insistiu na ideia de que “o critério tem de ser esclarecido”. E não deixou de questionar também a escolha do antigo ministro social-democrata Nuno Morais Sarmento para um segmento semelhante na empresa pública de televisão.

“Porque é que quando um serviço público abre um espaço de opinião ele se limita aos dois maiores partidos, como se os dois maiores partidos esgotassem o espaço de opinião pública?”, perguntaria Telmo Correia.
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