Rio receita "entendimento entre partidos do regime" perante "crise política"

por RTP
“Não vou fazer oposição à liderança de Pedro Passos Coelho, nem nunca fiz”, disse Rui Rio à entrada para um evento promovido pela Fundação Mário Soares Paulo Cunha, Lusa

Para que o país ponha cobro a uma crise que é “política e não económica”, Rui Rio prescreve “um entendimento entre os partidos do regime”, ou, por outras palavras, “aqueles que são os filhos da democracia”. Uma sugestão que o social-democrata quis endereçar, na última noite, “sobretudo ao PS e ao PSD”. Convocado para uma conferência em Leiria, organizada pela Liga dos Amigos da Casa-Museu João Sores, o ex-presidente da Câmara Municipal do Porto tratou ainda de assegurar que não fará oposição “à liderança de Pedro Passos Coelho”. Antes, em entrevista à TVI, afiançara que só “circunstâncias especiais” o levariam a candidatar-se ao leme do partido.

A uma pergunta sobre a natureza da atual crise, Rio respondeu com a agulha orientada para o domínio político. Porque “a crise económica”, sustentou, “é filha de erros e estrangulamentos políticos. Não nasce de si própria, mas da evolução da sociedade”. E foi com base nesta ideia que o ex-autarca ensaiou a proposta de um consenso ao centro.
“Hoje temos menos democracia do que tínhamos num passado recente”, estimou Rui Rio na conferência De Portugal para o Mundo, acrescentando que o edifício democrático enferma de “um poder político fraco”, o que leva a que a “governabilidade” seja “pior e mais fraca”.

Se o regime “claudicar”, antecipou o ex-autarca, o país terá “não uma ditadura clássica, mas um enfraquecimento do poder político democraticamente eleito”.


“Não vejo hipóteses nenhumas de sair desta crise política – e não económica – sem um entendimento entre os partidos do regime. Aqueles que são os filhos da democracia têm obrigação de cuidar do pai e da mãe. Não podemos pedir esta tarefa a um partido da maioria apenas, mas a todos os que foram eleitos, sobretudo ao PS e PSD”, advogou Rui Rio, numa intervenção recolhida pela agência Lusa.

No evento de Leiria promovido pela Fundação Mário Soares, o antecessor de Rui Moreira na presidência da Câmara portuense seria ainda questionado sobre o papel a desempenhar pelo Presidente da República em tal processo. Para considerar que qualquer intervenção de Belém só deve ter lugar quando principiar a próxima legislatura.

“Cabe ao Presidente da República um entendimento, mas acho que também pode caber a um líder, do PS ou PSD. Se não for nenhum deles, pode ser o Presidente da República, mas é preciso que todos queiram”, sublinhou.

Rio mostrou-se muito crítico dos atuais moldes do sistema partidário, ao frisar que os partidos se revelam hoje “razoavelmente incoerentes” e “muito desacreditados”: “Temos um forte enfraquecimento e contínuo da qualidade dos agentes políticos. As pessoas que hoje estão disponíveis para a política, na sua maioria, não na totalidade, são de qualidade mais fraca do que há 20, 30 ou 40 anos”.
“Não sou candidato a nada”

Ao iniciar a sua intervenção, Rui Rio descartou a necessidade de “ter grandes preocupações em ter muito cuidado com as palavras”. Para então garantir não ser “candidato a nada”. “Tenho uma liberdade para poder meter o dedo na ferida, como acho que deve ser posto”, enfatizou.

Rio já o dissera, com uma outra formulação, à chegada ao jantar-conferência: “Não vou fazer oposição à liderança de Pedro Passos Coelho, nem nunca fiz. Critiquei muitas vezes, mas na lógica de presidente da Câmara do Porto, quando estavam em causa os interesses do Porto e estiveram diversas vezes. Aí levantei a voz”.

O antigo dirigente social-democrata alegou mesmo desconhecer qualquer vaga de fundo laranja para impulsionar a sua candidatura à chefia do partido. “Fala-se do meu nome, mas não quer dizer que exista. Estamos em liberdade, pode-se falar o que se quiser, mas não existe nada”, minimizou Rio, na véspera de o Conselho Nacional do PSD votar a marcação das eleições diretas para 25 de janeiro e de um Congresso para 21, 22 e 23 de fevereiro.

Rui Rio interveio em Leiria na sequência de uma entrevista à TVI em que asseverou que só avançará para uma corrida à liderança social-democrata em “circunstâncias especiais”. Circunstâncias, explicou, em que a sua vontade “não mande mais do que a vontade dos outros”.

“Não estou para aí virado. Acho que não vou estar para aí virado nunca, a não ser em circunstâncias especiais”, vincou, acrescentando não saber se o PSD está “à espera ou não”. O primeiro-ministro, rematou Rio, tem uma tarefa para concluir, pelo que “não fazia sentido nenhum alguém dentro do PSD vir agora perturbar”.
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