Rui Rio acusa Governo de enganar os portugueses

por RTP
Miguel Pereira da Silva - Lusa

O presidente do PSD, Rui Rio, acusa o PCP e o Bloco de Esquerda de inércia política e afirma que o Governo anda a enganar os portugueses com o discurso do milagre económico.

“Setenta a oitenta por cento dos portugueses já deve ter entendido isto. É que o discurso do milagre económico é uma aldrabice política. Durante o primeiro ano, 2016, embalados com pós-troika lá foram fazendo o discurso de que as coisas estavam muito mal. Mas agora passaram a estar muito bem. Eles não fizeram rigorosamente nada por isso”, afirmou o presidente do PSD no encerramento das jornadas parlamentares.

Para Rui Rio, “aquilo que nós agora estamos a viver era evidente que ia acontecer. Mais dia, menos dia ficava a nu que o discurso não fazia qualquer sentido. O discurso era à boleia. Primeiro, daquilo que tinha sido feito antes. Depois da conjuntura económica”.

O presidente social-democrata apontou como exemplos de que o Executivo de António Costa “não fala verdade aos portugueses com a não descida do imposto sobre os combustíveis quando o preço das matérias-primas subiu” e com a polémica sobre a contagem de tempo dos professores, onde repetiu que o Governo “prometeu o que sabia de antemão que não podia cumprir”.

"A posição do PSD hoje, em 2018, ou do PSD ao longo de toda a sua história desde 74 é: a função do PSD é empurrar o Governo para a irresponsabilidade? Não, isso é função do PCP e do BE. Nós não temos essa função, mas temos outra, que é a de obrigar o Governo a falar verdade às pessoas", acrescentou.
Desafios à "geringonça"
No seu discurso, de cerca de 40 minutos e a intervenção mais aplaudida das jornadas parlamentares, Rio desafiou o Governo, o Bloco de Esquerda e o PCP a revelarem os 50 principais responsáveis pelas imparidades da Caixa Geral de Depósitos.

“O Governo da esquerda, das esquerdas, mais à esquerda é impossível. É um Governo que também protege o grande capital, como eles costumam dizer. Porque quando nós pedimos para conhecer os 50 maiores responsáveis pelas imparidades da Caixa Geral de Depósitos é o próprio Bloco de Esquerda e o Partido Comunista que não deixam que se conheça”, acusou.

Aos deputados sociais-democratas, Rui Rio apresentou a sua receita do que deve ser a oposição ao Governo, que considerou não ficar diminuída por ser "colaborante com o que são políticas estruturais"."Devemos ser acutilantes nas críticas e nas falhas ao Governo tal como temos feito, e sérios, rigorosos e competentes no que são as nossas propostas", apontou.

Rui Rio salientou que esta foi a receita que aplicou quando exerceu cargos na vida pública e que, "até à data, deu sempre resultado".

"Na boa tradição marítima portuguesa, fi-lo sempre contra ventos e mares", afirmou no final da sua intervenção, em que foi aplaudido de pé pelos deputados sociais-democratas.

Além da "aldrabice"  do milagre económico e da situação da Caixa Geral de Depósitos, Rui Rio apontou outros três pontos em que o PSD se destacou nos últimos meses na oposição ao Governo, começando pelas objeções que levantou à entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no capital do Montepio, que ainda não se concretizou.

"Poderia dizer que o PSD ganhou, mas foi o país que ganhou", defendeu.
Documento estratégico sobre o interior
O presidente do PSD anunciou hoje que já pediu ao Conselho Estratégico Nacional (CEN) que elabore um documento com propostas sobre o interior, tal como fez para a natalidade, para ser integrado no programa eleitoral do partido para 2019.

No encerramento das jornadas parlamentares do PSD, Rui Rio explicou que este documento a elaborar pelo CEN - um órgão criado por esta direção - terá como base as conclusões do Movimento pelo Interior, liderado pelo dirigente do PSD Álvaro Amaro, e que será para levar à prática quer o partido ganhe ou não as próximas eleições.

"Não adianta propor uma, duas ou três medidas. Ou temos um conjunto de medidas e são para perdurar no tempo, ou não servem para nada (...). Mandar um fogacho para o ar, como é normal na política portuguesa, não serve para nada, é só para conseguir uma manchete de jornal", disse, considerando que essas medidas serão úteis mesmo sem o PSD no poder.

No entanto, o líder do PSD destacou que estes documentos são abertos a contributos e confessou que ele próprio já tem sugestões a fazer ao da natalidade, como valorizar mais o nascimento do segundo filho do que do primeiro, em termos de apoios monetários.

Depois do primeiro documento sobre a natalidade e a política para a infância, Rio adiantou que o CEN tem "praticamente pronto" outro sobre a reforma da zona euro e, até ao final de julho, deverá apresentar o documento relativo à justiça.

"Em cada canto, em cada esquina cada português, toda a gente sabe, que é preciso uma reforma da justiça, mas é preciso saber do que estamos a falar", afirmou, reiterando que esta é uma reforma que terá de ser feita com um consenso "o mais alargado possível".

Sobre a questão do interior, Rui Rio responsabilizou as políticas dos governos dos últimos "20, 30, 40 ou 50 anos" pelas assimetrias regionais do país e considerou até que contrariam princípios da social-democracia.

"Ao termos evoluído desta forma, estamos a desprezar um princípio da social-democracia, que é a igualdade de oportunidades", disse, frisando que "não é a mesma coisa nascer em Lisboa, Porto, Braga ou numa vila pequena do interior".

Para Rio, “a gestão é uma coisa de proximidade. E portanto sem gestão não há otimização da despesa pública. E sem proximidade não há gestão. Esta é que é a questão que nós temos de ter resolvida na aplicação do princípio da subsidiariedade”, frisou.

“O princípio da subsidiariedade só faz sentido se for para reduzir a despesa pública. Porque se não for para reduzir a despesa pública é melhor deixar estar como está. Porque se for para aumentar ainda pior”.

“É absolutamente possível capacitando melhor as regiões e as autarquias, nós conseguirmos essa redução da despesa pública”, sublinhou.

Por essa razão, Rio manifestou-se contra visões liberais de organização do território e defendeu que é preciso "ter sempre o Estado a regular, a corrigir", caso contrário "a dada altura o mais forte come sempre o mais fraco".

"Por isso fizemos recentemente um acordo com o Governo em matéria de descentralização", justificou, considerando que sem desconcentração - nunca falou em regionalização - "não será possível reequilibrar o país".

C/Lusa
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