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Rui Rio lança candidatura à liderança do PSD, que "não é partido da direita"

por Cristina Sambado - RTP
"Somos sociais-democratas. O PSD não é um partido da direita" Paulo Novais - Lusa

O antigo autarca do Porto Rui Rio oficializou esta quarta-feira, em Aveiro, a entrada na corrida à sucessão de Pedro Passos Coelho. Com uma mensagem: "O PSD não é um partido da direita. É um partido do centro".

“Somos sociais-democratas. O PSD não é um partido da direita. O PPD de Sá Carneiro, Francisco Balsemão e que tantos outros fundaram, com raízes profundas na nossa classe média e transversal a toda a sociedade, é um partido do centro, que vai do centro-direita ao centro-esquerda. Não é um partido de direita, tal como alguns o têm tentado caracterizar”, frisou Rui Rio na apresentação da sua candidatura à liderança laranja.

“No passado recente foi-me, por duas vezes, feito apelo no sentido de me candidatar à presidência do PSD. Primeiro nas eleições internas de 2008 e depois uma segunda vez nas de 2010”, recordou o candidato, referindo-se a momentos em que não avançou.

Para Rui Rio, “na política, como na vida, a palavra dada deve ser honrada”, “a política precisa de um banho de ética. Hoje não tenho a minha palavra de ética presa a qualquer compromisso. Posso decidir livremente”.

“Hoje estou disponível, neste tempo próprio, para estar com os dois pés no PSD e no país. Decidi, por isso, ser candidato a presidente do Partido Social Democrata nas próximas eleições internas de janeiro”, anunciou Rui Rio em Aveiro, perante apoiantes.
O candidato, que se apresenta com o lema é hora de agir, acrescentou que está pronto “para cumprir o dever de português e para a batalha que todos temos para travar por um PSD forte e por um PSD que Portugal tanto precisa”.


Rio frisa que o PSD “está numa situação particularmente difícil. Uma situação que se não for desde já combatida pode conduzir o partido a um patamar de menor relevância no quadro político nacional”. E recordou que tal já aconteceu em alguns países europeus.

“Para o PSD, este será o primeiro dia da sua caminhada para a reconciliação com os portugueses. Mas, para Portugal, este terá de ser, acima de tudo, o princípio do fim desta coligação parlamentar que hoje, periclitantemente nos governa”, sustentou no seu discurso de sete páginas, lido em menos de 20 minutos.

Rio defende que o PSD se deve “reconciliar com os portugueses e passar a ser o agente da mudança, que passa por alterações estruturais, tanto no país como no partido”.

“Só o seremos em Portugal, se o formos no nosso seio. (…) Está na hora de cerrar fileiras olhar para o futuro e rasgar horizontes. É hora de agir. Podemos estar enganados, mas não inativos”, sublinhou.

O antigo presidente da Câmara do Porto defende que “o PSD é um partido do poder, não é a muleta do poder”.

“O país não se pode hipnotizar com uma conjuntura económica que, por contrastar pela positiva com a profunda crise que recentemente atravessámos, tende a nos iludir quanto ao futuro. Mais do que gerir o presente e lamentar o passado, Portugal tem de se preparar para o futuro”, apelou. Para o candidato à liderança do PSD, só um partido “com novas normas de funcionamento, bem mais perto das pessoas e mais aberto à sociedade pode voltar a ser uma força política liderante e capaz de fazer o país ultrapassar as contradições estruturais”.

Rui Rio aproveitou o lançamento da candidatura para deixar uma palavra de gratidão a Pedro Passos Coelho. “Num PSD por mim gerido, não há ruturas geracionais. Todos somos importantes”.

“Candidato-me a presidente do PSD com uma noção muito clara de que o partido tem de definir um novo rumo, que leve a renascer do contrato de confiança que, ao longo da sua história, sempre soube manter com os portugueses”, frisou.

Rui Rio considerou que o “país tem de ganhar uma margem sustentável para distribuir a riqueza de forma mais justa e ser social e territorialmente mais coeso”.

“Não podemos estar apenas preparados para navegar com mar calmo e ventos favoráveis”, avisou.

No final do seu discurso, sem direito a perguntas por parte dos jornalistas, Rui Rio assegurou que “conta com todos no PSD”.
O percurso
Rui Fernando da Silva Rio nasceu no Porto a 6 de agosto de 1957, estudou no Colégio Alemão do Porto e na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, onde se licenciou em Economia. Foi durante 12 anos presidente da segunda maior autarquia do país.

Considerado um economista com perfil austero, Rui Rio ganhou notoriedade e visibilidade nacional durante os três mandatos, entre 2001 e 2013, como presidente da Câmara do Porto.

Antes foi vice-presidente do PSD e secretário-geral do partido, quando Marcelo Rebelo de Sousa assumiu a liderança. No entanto, o seu percurso político começou bastante antes na Juventude Social Democrata.

Entre 1982 e 1984, o atual candidato à liderança do PSD foi vice-presidente da JSD e entre 1996 e 1997 foi secretário-geral do partido, quando o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, era o líder social-democrata.

Enquanto secretário-geral do PSD, Rui Rio travou algumas guerras internas devido ao processo de refiliação de militantes que levou a cabo, gerando muitos anticorpos no aparelho do partidário. Uma das medidas que tomou foi a colocação de um relógio de ponto na sede do partido para controlar as entradas dos funcionários.

Foi eleito deputado à Assembleia da República, pelo círculo do Porto, nas legislaturas iniciadas em 1991, 1995 e 1999. Abandonou o Parlamento em 2001 após ser eleito presidente da Câmara do Porto.

Voltou a ser vice-presidente do partido entre 2002 e 2005, durante os mandatos de Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, o seu adversário nas diretas marcadas para 13 de janeiro. Entre 2008 e 2010, com Manuela Ferreira Leite na liderança do PSD, Rui Rio repetiu as funções de vice-presidente.

A candidatura de Rio à liderança do PSD já esteve anunciada por várias vezes - não avançou para não interromper o seu mandato na Câmara do Porto -, bem como à Presidência da República, em 2016, hipótese que afastou devido ao “quadro parlamentar instável” que resultou das últimas legislativas e à “escassez de condições” para levar por diante uma reforma de regime.

Nos últimos tempos, Rui Rio multiplicou-se em participações em conferências pelo país e, numa entrevista ao Diário de Notícias, em novembro, afirmava que seria candidato à liderança do PSD se o partido não encontrasse uma alternativa ao atual líder, Pedro Passos Coelho, que, na sequência das eleições autárquicas de 1 de outubro, anunciou que não se recandidatava ao cargo.
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