SNS. Centeno aponta progresso mas reconhece dificuldades

por Carlos Santos Neves - RTP
“Há dificuldades, sim, ainda hoje”, admitiu o ministro das Finanças, ouvido em sede de comissão parlamentar de Orçamento e Finanças Tiago Petinga - Lusa

O ministro das Finanças reconheceu esta quarta-feira, no Parlamento, que “há dificuldades” no Serviço Nacional de Saúde, apesar de apontar “um progresso na capacidade” para “responder às exigências”. Mário Centeno recuou aos anos do Programa de Assistência Económica e Financeira, assinalando que “houve uma enorme delapidação dos recursos”.

“Há um progresso na capacidade do SNS de responder às suas exigências. Que tenhamos completadoeste processo, não”, afirmou o titular da pasta das Finanças, ouvido em sede de comissão parlamentar de Orçamento e Finanças.

As intervenções de Centeno centraram-se, sobretudo, naquilo que o Governo considera ter melhorado desde 2015. Ainda assim, o ministro reconheceu que “há dificuldades, sim, ainda hoje”.

Entre os dados que referiu, o ministro das Finanças acenou com um aumento do número de médicos e da despesa no Serviço Nacional de Saúde em 1.600 milhões de euros. No final de 2015, notou Mário Centeno, havia 23.300 médicos a trabalhar para o sistema público; em maio deste ano eram 29.100.

O conjunto de profissionais do SNS, continuou o ministro, passou de 119 mil para 130.800.

Patrícia Cracel, Pedro Boa-Alma, Pedro Pessoa - RTP

Centeno quis também invocar uma subida do número de consultas, cirurgias e tratamentos em centros hospitalares.
“Delapidação dos recursos”

Referindo-se a PSD e CDS-PP, o ministro das Finanças deixou críticas aos que agora “se arrogam em defensores dos serviços públicos”.

“Houve uma enorme delapidação dos recursos no programa de ajustamento e recuperar levou tempo, mas recursos financeiros estão hoje à disposição dos serviços públicos”, lançou.

Os últimos dias ficaram marcados por notícias de dificuldades em serviços públicos de saúde, desde logo o encerramento rotativo de urgências de obstetrícia em quadro unidades hospitalares de Lisboa durante o verão.

Em carta publicada na edição de sábado do Jornal de Notícias, 13 diretores de serviço advertiram quer a Administração Regional de Saúde do Norte, quer a ministra da Saúde, Marta Temido, para a eventualidade de deixar de ser “possível garantir as urgências” de ginecologia e obstetrícia da região “nos meses de julho, agosto e setembro”. Isto se não houver luz verde para a contratação de mais profissionais.
“Um bem escasso”
Na terça-feira, o bastonário da Ordem dos Médicos advogou que são atualmente necessários 150 especialista de ginecologia e obstetrícia, dos quais 125 para a região sul. Miguel Guimarães deu como exemplo as maternidades dos hospitais de Faro, onde faltam nove especialistas, de Portimão, onde faltam 11, do Amadora-Sintra, onde são necessários nove, do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde faltam sete especialistas, e do Hospital São Francisco Xavier, onde faltam 16.

Em Peniche, à margem da abertura das obras de requalificação do Centro de Saúde local, a ministra da tutela afirmou não estar ao corrente dos “fundamentos para os cálculos” da Ordem.A ministra da Saúde vai ser ouvida no Parlamento sobre o fecho rotativo de urgências de maternidades de Lisboa durante o verão.


Ao abrigo de um concurso lançado em maio, entre 1200 vagas para diferentes especialidades e médicos recém-formados, 167 foram classificadas como carenciadas e terão incentivos financeiros. O despacho do Ministério da Saúde foi esta quarta-feira publicado em Diário da República.

“O que fizemos foi abrir mais 167 vagas com este incentivo financeiro para que instituições e especialidades mais carenciadas, como anestesiologia, obstetrícia ou pediatria, em zonas mais carenciadas do que aquelas que muitas vezes ocupam o espaço noticioso tenham também cobertura”, frisou Marta Temido.

Para ginecologia e obstetrícia, foram abertas 31 vagas. Destas, 12 são consideradas carenciadas e “nenhuma é para Lisboa”, segundo a ministra. “Onze são a região de Lisboa e Vale do Tejo, duas no Algarve, seis no Norte, cinco no Centro e as restantes no Alentejo”, precisou.

“Os recursos humanos são sempre um bem escasso e cabe aos dirigentes conseguir geri-los o melhor possível, conseguir uma boa distribuição geográfica, porque não há portugueses de primeira e portugueses de segunda. É o que fazemos quando optamos por localizar vagas em Beja, Faro ou Portalegre e menos vagas noutras áreas que já estão melhor servidas ou que têm maior capacidade de se articularem em rede com outras instituições”, sustentou Marta Temido.

Haverá condições, ainda de acordo com a ministra da Saúde, para que 27 especialistas em ginecologia e obstetrícia formados em 2019 tenham colocação “em julho”.

c/ Lusa
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