Tomás Correia: "estou sempre pronto para tudo"

por Rui Sá, Fernanda Fernandes, Tiago Contreiras

A Associação Mutualista Montepio Geral está reunida em Assembleia Geral um dia dia depois de se saber que Tomás Correia, passou a ser arguido por alegadamente ter recebido um milhão e meio de euros para autorizar um empréstimo de 70 milhões a um construtor civil.
Mário Centeno recusa comentar a idoneidade do homem que até 2015 esteve à frente da Caixa Económica e responde à agitação da esquerda com a venda do Novo Banco, com a promessa de reajuste fiscal que irá, já no próximo ano, baixar os impostos de quem ganha menos.

A assembleia geral da Associação Mutualista Montepio Geral está reunida no Coliseu dos Recreios.

A instituição nega, mas os relatórios de auditoria externa, revelaram que a mútua está em falência técnica com um buraco de 107 milhões de euros nas contas de 2015.

Á entrada para os trabalhos, o economista Eugénio Rosa, que é também um dos membros do concelho de supervisão interno da instituição garantiu à RTP que o problema da insolvência não se coloca, mas que se coloca um outro, o da sua gestão que "urge alterar".

O visado é Tomás Correia. O presidente da maior associação mutualista da Europa, é arguido em diversos processos relativos ao tempo em que era administrador da Caixa Económica. O último dos quais por corrupção o que lhe pode retirar a capacidade de estar à frente de uma instituição que é dona de um banco e duas seguradoras.

Vieira da Silva, o ministro do Trabalho, Solidariedade, e Segurança Social, que tem a pasta de supervisão da mútua já veio explicar que está a acompanhar de perto a situação, mas que a escolha da direção da instituição não é uma competência do governo, mas uma escolha interna e democrática dos quase 650 mil associados desta Instituição Particular de Solidariedade Social.

Tomás Correia, que já negou as acusações, tem dito por várias vezes que não se retira até que haja uma condenação. Esta quinta-feira, à entrada para a Assembleia Geral garantiu estar "pronto como sempre" para enfrentar os seus críticos.

O ministro das finanças recusa falar em concreto do Montepio. Garante apenas que o sistema financeiro está estabilizado no dia em que a recapitalização pública da Caixa Geral de Depósitos foi concluída com a conclusão da injeção de dois mil e quinhentos milhões de euros de dinheiro fresco na instituição...

O PSD já veio a público falar em tentativa de desresponsabilização do titular da pasta das finanças, que pode ser lido como uma culpabilização da atuação de Vieira da Silva num processo que diz obrigar a explicações do governante,

A associação mutualista, recorde-se, é tutelada pelo ministério da Segurança Social. A Caixa Económica, pelo Banco de Portugal... O mesmo que deve fechar ainda esta semana a venda do Novo Banco.

O Estado recusou dar uma garantia de cerca de dois mil milhões de euros para fechar a venda de 100% do capital, mas há quem garanta fará agora o mesmo de outra forma.

O ex-ministro das Finanças Teixeira dos Santos garante que assumir a venda de apenas 75% do Novo Banco por 750 milhões de euro ao fundo de investimento norte americano LoneStar, vai deixar nas mãos do estado a responsabilidade de assumir pelo menos um quarto de todos os riscos com o futuro do banco,

O PSD já exigiu explicações detalhadas por parte de Mário Centeno, que esta sexta-feira tem uma conferência de imprensa marcada para dar todos os detalhes do negócio de venda que será assinado momentos antes,

Este processo de venda parcial do "banco bom" que nasceu do colapso do BES, tem a oposição frontal de todos os partidos à Esquerda do PS.

Para compensar o mal estar político na sua base de apoio parlamentar o governo avança com um anuncio que reforça a coesão da "geringonça". O Ministro das finanças fala num reajuste fiscal que vai beneficiar já no próximo ano as famílias com menores rendimentos,

Recorde-se nos memorandos de entendimento a esquerda estava inscrito o compromisso de rever o número de escalões do IRS de cinco para sete, criando uma maior progressividade no pagamento do imposto,, beneficiando os escalões mais baixos sem que isso represente uma perda de receita global.

A preocupação controlar o défice que o Novo Banco pode colocar em risco.

O Banco de Portugal chamou os banqueiros para discutir o negócio. Recorde-se o Estado tem investidos no banco 3900 milhões de euros via Fundo de Resolução,

Em entrevista à TSF Teixeira dos Santos deixou claro que serão sempre os consumidores de serviços financeiros quem vai pagar a fatura das perdas no negócio que se fecha esta sexta-feira.

"É um encargo que os bancos vão ter que suportar nos próximos trinta anos e que vão naturalmente transferir para os seus clientes. Nós vamos todos acabar por pagar isto".

Ainda assim a confiança dos consumidores portugueses está em máximos de 17 anos. Segundo o Instituto Nacional de Estatística voltou a crescer entre setembro e março devido sobretudo às boas expetativas de redução do desemprego. Também o indicador de clima económico cresceu nos primeiros três meses do ano.
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