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Voto dos confinados. Governo descarta hipótese de mesas de voto exclusivas para infetados

por Andreia Martins - RTP
Rodrigo Antunes - Lusa

O Governo anunciou na quarta-feira que será feita uma exceção para permitir o voto dos eleitores confinados nas eleições legislativas de 30 de janeiro. Na RTP, o secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna, Antero Luís, explicou que não será possível fazer uma duplicação das mesas de voto para garantir a separação de eleitores, já que tal medida poderia levar à duplicação do voto. Questionado sobre o receio que a medida poderá provocar junto dos cidadãos que pretendam votar, Antero Luís aponta para o reforço das medidas sanitárias e para o voto antecipado.

O Governo excluiu na quarta-feira a possibilidade de duplicar mesas de voto para permitir a separação entre eleitores confinados e não confinados. A garantia surgiu horas depois de o Executivo ter anunciado que iria seguir o parecer da Procuradoria-Geral da República sobre a votação dos isolados no próximo dia 30 de janeiro.

Esse parecer, solicitado pelo Governo, aponta no sentido de permitir que os eleitores que se encontrem em confinamento obrigatório, determinado pelas autoridades de saúde, possam sair do local de confinamento no dia 30 de janeiro, estritamente para exercer o direito de voto.

Ainda que o parecer não o indique diretamente, o Governo irá definir um horário específico para a votação de eleitores em confinamento, de forma a evitar a aglomeração de infetados e não infetados, adiantou Francisca Van Dunem, ministra da Administração Interna, em conferência de imprensa.

O horário será ainda anunciado nos próximos dias, mas a ministra apontou para o período de votação entre as 18h00 e as 19h00, antes do encerramento das urnas.

No entanto, essa janela temporal não é imposta como obrigatória aos isolados e, por outro lado, não se exclui que os restantes eleitores não-isolados também procurem este horário para exercer o direito de voto, uma situação que poderá conduzir à aglomeração de infetados e não infetados aquando da votação.
Médicos e partidos criticam medida
Para a Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública e o Bastonário da Ordem dos Médicos, a solução do voto eletrónico teria sido melhor. Gustavo Tato, presidente dos médicos de Saúde Pública, considera que a quebra do isolamento se trata de um “precedente evitável” que vai condicionar o trabalho dos profissionais.

Por isso, mas também pela falta de recursos para dar resposta ao crescente número de novas infeções, a associação recomenda o pedido de escusa de responsabilidade civil por parte dos médicos de Saúde Pública.

Em comunicado, a associação de médicos de Saúde Pública recomenda que sejam assegurados locais e horários específicos para não existir cruzamento desnecessário entre eleitores infetados ou em período de incubação com a restante população.

A medida foi igualmente alvo de críticas por vários partidos com assento parlamentar. Se o PAN considera que uma hora de votação para infetados é insuficiente, o Chega argumenta que a medida vem aumentar o risco de infeção.

Já o PSD sugere que haja mesas designadas para garantir a votação de eleitores infetados. Rui Rio considera que as mesas próprias para estes eleitores “permitiam, não só, que não tivessem contacto com outras pessoas, como permitiam que os próprios membros da mesa se pudessem organizar de forma a estar muito distantes daqueles que vão chegar para votar”.
Governo aponta para perigo de duplicação do voto

Admitindo que a solução encontrada não evita o encontro entre infetados e não infetados, Antero Luís sublinha que a solução de duplicação de mesas de voto, sugerida pelo PSD, não é viável.

“Não sabemos, no dia 30, quem está ou não infetado. Não conseguiremos saber em cada secção de voto qual é o eleitor que está infetado e não infetado”, adianta.

“Os cadernos eleitorais são unos e não estão desmaterializados, não estão em suporte informático que permita uma descarga que fique validada, estão em papel. Os cadernos são fechados 15 dias antes do dia 30. Nessa altura temos os cadernos por secção, por eleitor. Sabemos que cada eleitor vota naquele sítio. Não sabemos se esse eleitor, no dia 30, está ou não está em confinamento”, prossegue.

Sendo o caderno eleitoral “único”, onde não consta a informação se o eleitor está ou não infetado, a duplicação de mesas em espelho “poderia permitir o duplo voto”, com um mesmo eleitor a votar em dois horários diferentes, por exemplo.

Perante os receios quanto à segurança sanitária do processo eleitoral, o secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna sublinha, em declarações à RTP, a importância de cumprir as regras estabelecidas pela Direção-Geral de Saúde.

As autoridades de saúde recomendam, neste processo, o reforço de proteção dos membros da mesa, com batas e máscaras FFP2 e ainda a desinfeção dos espaços e o distanciamento social.
Voto antecipado com adesão abaixo do esperado

Sem responder diretamente aos receios que a medida de exceção possa provocar, por exemplo em eleitores mais idosos e vulneráveis, o secretário de Estado aponta para a solução do voto em mobilidade, que “está preparado para um milhão de pessoas”. Mas, a poucas horas do último dia para a inscrição no voto antecipado (20 de janeiro), os números estão bastante aquém das estimativas do Governo, admite o secretário de Estado.

Segundo os dados registados pela Administração Eleitoral da Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna, o número de cidadãos eleitores que se inscreveram para votar no voto antecipado em mobilidade, até às 19h00 de quarta-feira, era de apenas 224.065 pessoas.

Por fim, questionado sobre se a solução é demasiado tardia e se poderia ter sido acautelada mais cedo, o secretário de Estado responde com os prazos estabelecidos pela eleitoral, até porque a eleição foi marcada a 5 de dezembro, e justifica-se ainda com a evolução inesperada da pandemia com a variante Ómicron.

“A pandemia surpreendeu-nos do ponto de vista de pessoas infetadas”, afirma. Portugal atingiu na quarta-feira um novo recorde de casos diários de Covid-19, com mais de 52 mil novos infetados.

O secretário de Estado lembra que, apesar de eventuais falhas, procurou-se com esta medida “conciliar o direito ao sufrágio e direito à saúde pública”.
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