"Este não é um terceiro mandato de Obama". A primeira entrevista de Joe Biden após as eleições
Em entrevista à NBC News, a primeira desde a eleição norte-americana, o Presidente-eleito refere a Administração Trump tem sido "sincera". A declaração surge um dia após a chefe da Administração de Serviços Gerais ter dado autorização formal para prosseguir com as medidas necessárias à transição de poder. Sobre a nomeação de vários elementos que integraram a Administração Obama, Joe Biden nega que este seja "um terceiro mandato" do antigo Presidente democrata, até porque o mundo está "totalmente diferente" depois de Donald Trump.
A declaração surge um dia depois de se saber que o Presidente dos Estados Unidos já deu luz verde ao início da transição entre a atual Administração e o Presidente-eleito. Mesmo mantendo a intenção de contestar legalmente o resultado das eleições, Donald Trump anunciou na segunda-feira que deu autorização a Emily Murphy, chefe da Administração de Serviços Gerais, a prosseguir com as medidas necessárias para a passagem formal de poder.
Entretanto, com o processo de transição em curso, Joe Biden revelou na terça-feira uma série de nomes que vão integrar a próxima Administração. Ainda que a equipa que pretende levar para a Casa Branca seja constituída por vários antigos membros da Administração Obama, Joe Biden vincou que a próxima Administração não será “um terceiro mandato de Obama”, tendo em conta as mudanças que ocorreram nos últimos quatro anos.
Sobre a eventualidade de ter os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren na equipa, o Presidente-eleito diz que “não há nada que esteja fora de questão”.
Os dois senadores, ex-adversários de Joe Biden na corrida à nomeação democrata, pertencem à ala mais progressista do partido. O próximo Presidente garante que pretende seguir uma agenda “progressista”, mas admite que “retirar alguém do Senado ou da Câmara [dos Representantes]” será sempre “uma decisão muito difícil”.
Biden e Trump ainda não falaram
Acerca da transição, o Presidente-eleito garante que teve acesso a dados da Segurança Nacional “de imediato” e que as duas equipas já estão a trabalhar para que Joe Biden possa ter acesso aos briefings diários que são destinados ao Presidente, nomeadamente sobre a evolução da pandemia.
“Já estamos a trabalhar no sentido de nos reunirmos com a equipa de combate à Covid na Casa Branca”, referiu Joe Biden, com foco na distribuição e acessibilidade às futuras vacinas. “Penso que não estaremos tão atrasados quanto pensávamos que poderíamos estar, no passado”, acrescentou, considerando que o atraso processual na transição não terá impacto no arranque do mandato, em janeiro.
Na entrevista, Joe Biden definiu como objetivos para os primeiros 100 dias de mandato não só a aprovação de apoios no Congresso face à Covid-19, mas também a reforma da imigração ou a reversão de algumas decisões de Donald Trump sobre o clima.
“Vou enviar um projeto de lei sobre a imigração ao Senado com o caminho para a cidadania de mais de 11 milhões de indocumentados na América. Também vou acabar com algumas das ordens executivas que, penso, têm prejudicado e têm tido um impacto bastante significativo no clima”, acrescentou.
Apesar do contacto “sincero” entre as duas equipas, Joe Biden esclareceu que ainda não falou diretamente com o Presidente Donald Trump desde que foram conhecidos os resultados da eleição de 3 de novembro.
Por fim, Biden descartou a hipótese de investigar Donald Trump assim que tomar posse a 20 de janeiro. “Não vou fazer o que este Presidente faz, que é usar o Departamento de Justiça como veículo próprio para insistir que algo aconteceu”, garantiu.
A partir de janeiro, Donald Trump irá perder a proteção constitucional que é concedida aos Presidentes em exercício e muito elementos do Partido Democrático exigem que seja investigado ao nível dos negócios particulares mas também quanto às ligações a uma alegada interferência externa nas eleições norte-americanas.