"Este não é um terceiro mandato de Obama". A primeira entrevista de Joe Biden após as eleições

por Andreia Martins - RTP
Apesar de garantir que há um contacto "sincero" entre as duas equipas, Joe Biden esclareceu que ainda não falou diretamente com o Presidente Donald Trump. Joshua Roberts - Reuters

Em entrevista à NBC News, a primeira desde a eleição norte-americana, o Presidente-eleito refere a Administração Trump tem sido "sincera". A declaração surge um dia após a chefe da Administração de Serviços Gerais ter dado autorização formal para prosseguir com as medidas necessárias à transição de poder. Sobre a nomeação de vários elementos que integraram a Administração Obama, Joe Biden nega que este seja "um terceiro mandato" do antigo Presidente democrata, até porque o mundo está "totalmente diferente" depois de Donald Trump.

Joe Biden garante que houve um esforço “sincero” no contacto entre a sua equipa de transição e a Administração Trump. “Não foi relutante até agora e não espero que seja no futuro”, acrescenta nesta entrevista à NBC News, a primeira desde que é o Presidente-eleito.

A declaração surge um dia depois de se saber que o Presidente dos Estados Unidos já deu luz verde ao início da transição entre a atual Administração e o Presidente-eleito. Mesmo mantendo a intenção de contestar legalmente o resultado das eleições, Donald Trump anunciou na segunda-feira que deu autorização a Emily Murphy, chefe da Administração de Serviços Gerais, a prosseguir com as medidas necessárias para a passagem formal de poder.

Entretanto, com o processo de transição em curso, Joe Biden revelou na terça-feira uma série de nomes que vão integrar a próxima Administração. Ainda que a equipa que pretende levar para a Casa Branca seja constituída por vários antigos membros da Administração Obama, Joe Biden vincou que a próxima Administração não será “um terceiro mandato de Obama”, tendo em conta as mudanças que ocorreram nos últimos quatro anos.

“Temos pela frente um mundo totalmente diferente do que tínhamos. (…) O Presidente Trump mudou a paisagem”, referiu Presidente-eleito, que ocupou o lugar de vice-presidente durante os oito anos em que Barack Obama foi Presidente.

Sobre a eventualidade de ter os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren na equipa, o Presidente-eleito diz que “não há nada que esteja fora de questão”.

Os dois senadores, ex-adversários de Joe Biden na corrida à nomeação democrata, pertencem à ala mais progressista do partido. O próximo Presidente garante que pretende seguir uma agenda “progressista”, mas admite que “retirar alguém do Senado ou da Câmara [dos Representantes]” será sempre “uma decisão muito difícil”.
Biden e Trump ainda não falaram

Acerca da transição, o Presidente-eleito garante que teve acesso a dados da Segurança Nacional “de imediato” e que as duas equipas já estão a trabalhar para que Joe Biden possa ter acesso aos briefings diários que são destinados ao Presidente, nomeadamente sobre a evolução da pandemia.

“Já estamos a trabalhar no sentido de nos reunirmos com a equipa de combate à Covid na Casa Branca”, referiu Joe Biden, com foco na distribuição e acessibilidade às futuras vacinas. “Penso que não estaremos tão atrasados quanto pensávamos que poderíamos estar, no passado”, acrescentou, considerando que o atraso processual na transição não terá impacto no arranque do mandato, em janeiro. 

Na entrevista, Joe Biden definiu como objetivos para os primeiros 100 dias de mandato não só a aprovação de apoios no Congresso face à Covid-19, mas também a reforma da imigração ou a reversão de algumas decisões de Donald Trump sobre o clima.

“Vou enviar um projeto de lei sobre a imigração ao Senado com o caminho para a cidadania de mais de 11 milhões de indocumentados na América. Também vou acabar com algumas das ordens executivas que, penso, têm prejudicado e têm tido um impacto bastante significativo no clima”, acrescentou.

Apesar do contacto “sincero” entre as duas equipas, Joe Biden esclareceu que ainda não falou diretamente com o Presidente Donald Trump desde que foram conhecidos os resultados da eleição de 3 de novembro.

Por fim, Biden descartou a hipótese de investigar Donald Trump assim que tomar posse a 20 de janeiro. “Não vou fazer o que este Presidente faz, que é usar o Departamento de Justiça como veículo próprio para insistir que algo aconteceu”, garantiu.

A partir de janeiro, Donald Trump irá perder a proteção constitucional que é concedida aos Presidentes em exercício e muito elementos do Partido Democrático exigem que seja investigado ao nível dos negócios particulares mas também quanto às ligações a uma alegada interferência externa nas eleições norte-americanas.
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