Brexit. Conversas “densas mas construtivas” e sem avanços à vista

por RTP
François Lenoir - Reuters

A primeira-ministra britânica garante que vai continuar a procurar um acordo que seja aprovado pelos deputados em Westminster. Depois de encontros com os presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, Theresa May garante que viu vontade em trabalhar para que o Reino Unido saia com acordo. No entanto, não foram anunciados progressos.

No final da ronda de encontros de Theresa May em Bruxelas, o presidente do Conselho Europeu resumia a situação no Twitter: “Ainda não há avanços. Os debates vão continuar”.

Se, por um lado, o presidente do Conselho Europeu sublinhou a falta de evoluções, por outro, Theresa May considerou que se tratou de um “bom” conjunto de encontros.

A primeira-ministra garante que vai continuar a procurar alterações legalmente vinculativas ao Acordo de Saída e que permitam solucionar o impasse em torno do mecanismo de salvaguarda de uma fronteira na ilha da Irlanda.

“Não vai ser fácil, mas o presidente Juncker e eu concordámos que as negociações vão começar a encontrar um rumo, para encontrar uma maneira de superar isso e para atender às preocupações que o Parlamento tem de modo a obtermos uma maioria”, afirmou após as reuniões.

Theresa May promete em Bruxelas que a saída do Reino Unida vai acontecer na data marcada, 29 de março.

"O que vejo e ouço dos líderes é o desejo de trabalharmos juntos para garantir” que o Reino Unido abandone a União Europeia com acordo, declarou.

Logo no início da manhã, Theresa May tinha escutado do presidente da Comissão Europeia que não iria reabrir as negociações do acordo de saída do Reino Unido, mas admitiu fazer acertos na Declaração Política.

Ontem, Jean-Claude Juncker justificava que “o Brexit não é uma questão bilateral entre a República da Irlanda e o Reino Unido”.

“É um assunto europeu e é por isso que não podemos aceitar a ideia de que o Acordo de Saída possa ser reaberto. O backstop é parte do Acordo de Saída e não podemos reabrir a discussão sobre o backstop”, afirmou, com o primeiro-ministro irlandês ao lado.

May e Juncker decidiram que as respetivas equipas vão trabalhar para tentar encontrar uma solução para o impasse. Os negociadores principais das duas partes, Stephen Barclay do Reino Unido e Michel Barnier da UE, têm encontro marcado para segunda-feira, enquanto May e Juncker voltam a reunir-se antes do final de fevereiro.
Ida para o Inferno não foi “benéfico”
A chefe do Governo britânico comentou ainda a frase ontem proferida por Donald Tusk, relativa à ida para o inferno dos defensores do Brexit. Theresa May considera que o comentário “não foi benéfico e causou consternação generalizada no Reino Unido”.

Donald Tusk também disse que se estava a preparar, juntamente com o primeiro-ministro irlandês que estava a seu lado, para um “possível fiasco” no caso de uma saída sem acordo.

Os deputados britânicos vão voltar a debater a saída do Reino Unido da União Europeia. Na próxima quinta-feira, dia 14, a Câmara dos Comuns vai debater uma moção.

Brexit sem acordo é "um desastre"
O negociador do Parlamento Europeu para o Brexit esteve em concordância com Juncker, quando disse a May que as propostas de alteração ao mecanismo de salvaguarda de uma fronteira só podem ser feitas no âmbito da Declaração Política que acompanha o Acordo de Saída. "A nossa proposta é tentar resolver o problema na declaração política", disse Guy Verhofstadt.

A União Europeia está pronta para ter um relacionamento próximo com o Reino Unido após o Brexit, de modo a que o backstop não precise de ser ativado, acrescentou, após o encontro com a primeira-ministra britânica.

"É importante que a Sra. May, hoje, na reunião, tenha garantido que haverá um recuo", declarou o eurodeputado belga.

Segundo Verhofstadt, uma saída do Reino Unido sem acordo significaria um "desastre" tanto no Reino Unido como na União Europeia.

O eurodeputado afirmou ainda que a cooperação de May com o Partido Trabalhista – cujo líder, Jeremy Corbyn, ontem propôs uma união alfandegária permanente com a União Europeia após o Brexit - foi essencial para superar o problema.

"É importante agora que isso leve a uma posição no Reino Unido que tenha a mais ampla maioria possível para que possamos concluir a negociação (…) Se avançarmos para uma união aduaneira, o backstop nunca será ativado", afirmou.
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