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Brexit. Empresas britânicas encaram duelo político "com horror"

por Raquel Ramalho Lopes - RTP
Toby Melville - Reuters

A 100 dias da saída do Reino Unido da União Europeia, os empresários britânicos avisam o Governo: o tempo está a esgotar-se. Criticam os políticos por preferirem a luta política em detrimento da preparação do Brexit.

Um dia depois de o Governo britânico ter anunciado que vai implementar as medidas previstas para uma saída sem acordo, os empresários consideram que não há tempo para tais preparativos.

"As empresas têm observado com horror enquanto os políticos se concentram em disputas de fações em vez de medidas práticas que as empresas precisam para seguir em frente", referem a Câmara de Comércio Britânica, a Confederação da Indústria Britânica, a organização de fabricantes EEF, a Federação de Pequenos Negócios e o Instituto de Diretores, num comunicado conjunto citado pela BBC.

"A falta de progresso em Westminster significa que o risco de um Brexit sem acordo está a aumentar", acrescentam.

O Governo britânico anunciou esta terça-feira ter pedido a 140 mil empresas para acionarem os planos de contingência.

Os cinco grupos empresariais confirmaram que estão a ser tomadas medidas para lidar com o “caos esperado” que uma saída sem acordo e a consequente ausência de período de transição acarreta.

“Há também centenas de milhares de pessoas que ainda não começaram - e não se pode esperar que estejam prontas em tão pouco tempo", dizem os representantes das empresas britânicas, alertando que “simplesmente não há tempo suficiente para impedir os graves transtornos” que uma saída sem acordo permite antever.

Os empresários lamentam que tenham de desviar verbas inicialmente destinadas a investimentos para aumento da produtividade.

A BBC confirmou que algumas empresas já começaram a investir noutros países da União Europeia por causa do clima de incerteza política. “Não há absolutamente nenhuma certeza em Westminster", declarou Ian McCartney, o diretor de estratégia da Wilson Tools, uma empresa que decidiu abrir uma filial na Alemanha.

Dois anos e meio após o referendo do Brexit e de 17 meses de negociações com Bruxelas, o braço de ferro que os políticos britânicos estão a travar gerou um sentimento frustração na sociedade britânica.

"Existe atualmente uma atmosfera pessimista no país", declarou Tom Clarkson, da empresa de consultoria BritainThinks à agência France-Presse. O "Brexit é a pior forma de política”, uma forma de política “que as pessoas odeiam", acrescentou.
Produtores de whisky contra Brexit sem acordo
O impasse no Parlamento britânico levou a que os grupos de pressão intensifiquem esforços para comunicar os seus interesses.

“É imperativo que o Governo e o Parlamento trabalhem junto construtivamente para encontrar rapidamente uma solução que garanta um cenário claro para os negócios e funcionários e evite um Brexit sem acordo”, veio dizer a porta-voz da Associação do Whisky Escocês.

O whisky escocês é o produto do setor das comidas e bebidas mais exportado pelo Reino Unido. Em 2017, as exportações de whisky ascenderam a 4,5 mil milhões de libras.

"Um Brexit sem acordo vai prejudicar a nossa indústria ao aumentar os custos e a complexidade da nossa produção e exportação do whisky escocês”, acrescentou a porta-voz.
Debate em Westminster
A primeira-ministra britânica vai, esta quarta-feira, ao Parlamento para a última sessão de debate parlamentar antes da pausa de Natal.

"Chegamos a um ponto em que precisamos intensificar os preparativos" para uma saída do bloco europeu sem acordo, declarou o porta-voz de Theresa May.

“Isso significa que vamos por em andamento o que falta dos planos”, referiu, acrescentando que entre as medidas previstas estão a reserva de espaço em barcos para garantir o fornecimento regular de medicamentos.

A mobilização de 3.500 militares é outra das medidas já anunciada pelo ministro da Defesa, Gavin Williamson.

“Os cidadãos também devem preparar-se", acrescentou o porta-voz de Downing Street.

Com a votação do acordo no Parlamento prevista para a semana de 14 de janeiro, o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, acusou a chefe de Governo de estar a usar o fator tempo para limitar a margem de manobra dos deputados e confrontá-los com uma escolha: aceitar o Acordo de Saída que Theresa May negociou com Bruxelas ou um cenário de saída sem acordo.
Bruxelas publica legislação para saída sem acordo
Ao final da manhã, a Comissão Europeia vai publicar legislação para garantir a continuidade de oito sectores, como os direitos dos cidadãos britânicos a viver na União Europeia, alfândegas, produtos financeiros, proteção de dados, saúde animal e política do clima.

Se não for reunido consenso para aprovar o Acordo do Brexit, os procedimentos definidos vão aplicar-se entre 29 de março até ao final do ano.


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