Empresas anunciam saída do Reino Unido na véspera do Brexit

por Andreia Martins - RTP
Tal como outras grandes empresas, a Sony vai transferir a sede europeia para lidar com os efeitos do Brexit Kim Kyung-Hoon - Reuters

A possibilidade de um hard Brexit está a levar várias companhias a deslocalizarem as sedes, de forma a evitarem os impactos negativos de uma saída desordenada do Reino Unido da União Europeia. Tal como a Panasonic, a Sony já anunciou que vai transferir a sede europeia do Reino Unido para a Holanda, enquanto a companhia de navegação P&O confirmou que toda a frota da empresa será registada com a bandeira do Chipre.

Evitar incertezas, garantir a estabilidade e precaver potenciais problemas com questões alfandegárias são alguns dos fatores que estão a levar à deslocalização de várias empresas, multinacionais ou mesmo britânicas, para outros pontos do globo.

É o caso da Sony, gigante tecnológica com sede europeia em Londres. A notícia é avançada esta quarta-feira pela agência France Presse, que cita o porta-voz da empresa, Takashi Iida.

“Vamos transferir a localização administrativa da nossa sede europeia para Amesterdão”, afirmou o responsável, explicando que esta decisão se prende com os eventuais riscos alfandegários para a empresa.

A multinacional passa a ter sede europeia na subsidiária recém-criada em Amesterdão, na Holanda. Não obstante, a empresa garante que vai manter uma representação no Reino Unido focada no mercado britânico.

Desta forma, a Sony segue os passos de outra grande companhia nipónica na área da tecnologia, a Panasonic, que anunciou em outubro do ano passado que iria transferir a sede europeia para a Holanda.
Empresas tentam manter vantagens
Outras grandes empresas preparam-se para enfrentar os possíveis constrangimentos de uma saída do Reino Unido sem acordo. Esta hipótese tornou-se ainda mais provável após a rejeição, na semana passada, do plano negociado com Bruxelas pela primeira-ministra Theresa May.

A P&O Cruises, companhia britânica de navegação especializada em cruzeiros marítimos, anunciou na terça-feira que vai mudar o registo das embarcações do Reino Unido para o Chipre, de forma a manter as condições tributárias vigentes na União Europeia.

No total, a P&O tem atualmente seis embarcações registadas no Reino Unido, que operam no Canal da Mancha. No mês passado, já tinha sido anunciado que dois destes navios passariam a estar registados no Chipre.

“Antes da saída do Reino Unido da União Europeia a 29 de março de 2019, fizemos uma revisão de status das bandeiras dos nossos navios no Canal da Mancha. (…) Por questões operacionais e contabilísticas, concluímos que a melhor decisão é colocar todos estes navios sob a bandeira do Chipre”, refere um comunicado da P&O.

A companhia, registada no Reino Unido desde 1837, altura em que era conhecida por Peninsular and Oriental Steam Navigation, reconhece mesmo que estará a beneficiar de vantagens fiscais estando os navios “sinalizados num Estado da União Europeia", refere um porta-voz, citado pela agência Reuters

De igual forma, a transportadora easyJet já confirmou o registo de 130 aviões da sua frota na Áustria e quer completar a transferência de licenças das tripulações para Viena antes de 29 de março.
Saída sem acordo "tem de ser excluída"

Também a Pets at Home, o maior fornecedor nacional de produtos para animais domésticos, anunciou esta semana que começou a preparar stocks essenciais para precaver um possível cenário de Brexit sem acordo, a 29 de março. “Não queremos que as famílias fiquem sem comida para os seus animais de estimação”, refere a empresa, citada pelo jornal The Guardian.

Ainda mais polémica é a deslocalização da sede da Dyson, empresa de tecnologia britânica, que vai mudar a sua sede para Singapura para lidar com os efeitos do Brexit.

James Dyson, apoiante fervoroso do “Leave” durante a campanha para o referendo em 2016, não veio justificar o porquê da mudança agora anunciada, mas o chefe-executivo da empresa, Jim Rowan, garantiu que a decisão não tem “nada a ver com o Brexit”, mas tem em vista “proteger o futuro” do negócio da empresa.

Com 4.500 trabalhadores na sede atual, situada em Wiltshire, no Reino Unido, a Dyson assegura que a mudança para Singapura não vai afetar os trabalhadores em solo britânico.

Carolyn Fairbairn, diretora-geral da Confederação da Indústria Britânica (CBI, na sigla em inglês), insta os líderes políticos a reagirem rapidamente a estas movimentações.

“A mensagem dada pelas empresas não poderia ser mais simples. A possibilidade de uma saída sem acordo em março tem de ser excluída rapidamente. Esta é a única forma de travar danos irreversíveis e restaurar a confiança (...) O Reino Unido não está e não pode estar pronto para um Brexit sem acordo. Só o Parlamento pode evitar este cenário, e agora é a altura certa para o fazer”, considera a responsável.

Na segunda-feira, a primeira-ministra anunciou que pretende renegociar com a União Europeia a solução de backstop para a Irlanda do Norte, principal ponto de discussão dentro do Partido Conservador e dos unionistas que apoiam o Governo minoritário de Theresa May.

A líder do Governo prometeu no início da semana que vai ter em conta as contribuições exteriores ao Governo para a elaboração de um novo plano de saída da União Europeia, continuando a descartar as hipóteses de um novo referendo.  Na próxima terça-feira, a Câmara dos Comuns debate e vota o "plano B" para a saída do Reino Unido da União Europeia.
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