Eurodeputados britânicos em frente-a-frente sobre o Brexit

por Daniela Ferreira Pinto

Com os ponteiros do Brexit em contagem decrescente as posições dentro e fora do Reino Unido entram em rota de colisão. 

Dentro dos limites partidários, há dissidentes que se juntam ao outro lado. Em Londres pelo menos três deputados do Partido Trabalhista expressaram o seu apoio ao Brexit.

No Partido Conservador britânico vários deputados são contra a saída do Reino Unido, como o antigo ministro da Defesa, Guto Bebb, ou a antiga ministra da Economia, Anna Soubly.

Como começou, o que está em causa e o que pode acontecer? 14 quadros que ajudam a descodificar o Brexit.


Em Bruxelas, nenhum eurodeputado eleito pelo Partido Trabalhista é a favor do Brexit. É no Partido Conservador que mais vozes se cruzam, principalmente dentro do hemiciclo europeu. Charles Tannock, eurodeputado tory, tem relações próximas com Portugal e manifestou-se contra o Brexit desde o início.

O programa de actualidade europeia Europa Minha entrevistou dois eurodeputados que são a favor da permanência na União Europeia, mas de partidos diferentes.

Quem são Seb Dance e Charles Tannock e onde se encontram na cruzada do Brexit?

Infografia: Nuno Silva

Seb Dance é eurodeputado pelo Partido Trabalhista, liderado por Jeremy Corbyn, que se opôs ao Brexit no referendo. Em fevereiro de 2018, enquanto Nigel Farage discursava, Dance levantou uma folha onde se podia ler “Ele está a mentir-vos”. O momento tornou-se viral nas redes sociais.


Eleito em 2014, Dance exerce a sua influência enquanto eurodeputado nas áreas da segurança alimentar, saúde pública e ambiente. É porta-voz e coordenador da Aliança Progressiva dos Socialistas e Democratas (APSD) no comité que investiga o “Dieselgate”, o escândalo de 2015, quando a Volkswagen foi acusada de falsificar emissões de carbono.

Em novembro de 2018, numa intervenção parlamentar em Estrasburgo, criticou de novo Nigel Farage e as políticas da direita britânica: “Está na hora de parar esta loucura. Nada do que está a acontecer agora é minimamente próximo daquilo que foi prometido no referendo”.

Entrevistado em Bruxelas por Duarte Valente, Seb Dance considera necessário devolver o poder aos cidadãos britânicos, num novo referendo: “Quanto a mim, a pergunta é muito simples: É este o quadro do Brexit. Quer continuar o processo ou quer permanecer na UE?”.



Do outro lado da barricada, um eurodeputado conservador quer que a mesma pergunta chegue às urnas do Reino Unido. Quem o ouça falar português pode ser induzido em erro: Charles Tannock não é lusodescendente, mas facilmente se confunde com um eurodeputado nacional.

Eleito pela primeira vez em 1999, Tannock é uma presença assídua no Parlamento Europeu há 20 anos. Outrora um tory convicto, hoje fala abertamente do conflito de opinião com colegas de bancada e olha para o Brexit como um desastre iminente, que espera ainda ver travado.

Considera que a decisão sobre um novo referendo está “nas mãos da senhora May” e que o Brexit sem acordo não deveria estar em cima da mesa. Num hipotético referendo, as opções de voto deveriam ser “ficar na União Europeia, ou sair com o acordo de May. Mas claro que a ala mais eurocéptica quer que haja uma opção sem acordo, o que seria uma catástrofe”.

Caso a saída aconteça, Tannock gostaria de ver o Reino Unido “dentro do mercado interno, como a Noruega, e com um acordo como o da Turquia, dentro da união aduaneira”. Reconhece que tal é improvável. Para Seb Dance é “absurdo” querer “todos os benefícios do clube sem seguir as regras dos outros membros. A União Europeia é composta por 27 países, contra um só país que está a sair. É claro que a Grã-Bretanha vai ficar numa posição mais fraca”.

Apesar das divergências partidárias, Dance e Tannock encontram-se ao centro e partilham um desejo comum: que a saída do Reino Unido seja vista como um perigo que quase aconteceu, e não como uma decisão errada que foi até às últimas consequências.

Esta reportagem é um excerto do programa nº 8 do Europa Minha, que pode rever na íntegra aqui.
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