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Reino Unido. "Intolerância" e Brexit fraturam trabalhistas e conservadores

por RTP
Um porta-voz do Partido Trabalhista disse que o Labour “lamenta” a decisão de Ian Austin e apela a que renuncie ao cargo de deputado Hannah Mckay - Reuters

Mais um deputado trabalhista abandona o partido esta semana. Ian Austin é o nono a sair em protesto pelas mudanças que ocorreram no partido sob a liderança de Jeremy Corbyn, como a permissão de atitudes antissemitas e uma viragem à extrema-esquerda. Ao contrário dos outros oito, Austin não tem intenções de se juntar ao recém-criado Grupo Independente em Westminster. As contestações à liderança também atingem o Partido Conservador, mas aqui por causa do Brexit.

Foi com palavras duras que Ian Austin justificou a decisão de deixar a militância do Labour. “O Partido Trabalhista tem sido a minha vida, por isso esta foi a decisão mais difícil que alguma vez tive de tomar mas, para ser honesto, a verdade é que fiquei envergonhado do Partido Trabalhista sob [a liderança de] Jeremy Corbyn”, declarou ao jornal Express & Star.

O deputado argumentou que se filiou no Partido Trabalhista em Dudley há 35 anos para combater o racismo. “Nunca acreditaria que iria sair do Partido Trabalhista hoje, porque o racismo é errado”, acrescentou, em alusão à alegada permissividade do líder a atitudes antissemitas nas fileiras do partido.

“É terrível que uma cultura de extremismo, antissemitismo e intolerância esteja a expulsar os bons deputados e pessoas decentes que dedicaram a sua vida” ao partido, considerou.

“A dura verdade é que o partido é mais duro com as pessoas que se queixam do antissemitismo do que com os antissemitas”, sublinhou.

Argumentando que “nunca poderia pedir aos eleitores locais para votarem em Jeremy Corbyn para primeiro-ministro", Ian Austin nota que o atual líder transformou “completamente o que era um partido mainstream num partido totalmente diferente, com valores muito diferentes”. Austin diz mesmo que o Partido Trabalhista foi tomado pela extrema-esquerda.

Austin não tenciona, por agora, aliar-se ao Grupo Independente no Parlamento britânico. O novo movimento foi lançado, segunda-feira, por sete deputados do Labour, ao qual se juntou um oitavo trabalhista e três deputadas conservadoras na quarta-feira.

Deputado desde 2005 e antigo subsecretário de Estado, Austin apoia o Acordo do Brexit da primeira-ministra Theresa May e não defende a realização de um segundo referendo, o que o coloca em desacordo com os restantes membros do Grupo Independente.

Um porta-voz do Partido Trabalhista disse que o Labour “lamenta” a decisão de Ian Austin e apela a que renuncie ao cargo de deputado.

"Ele foi eleito deputado trabalhista no Parlamento e a atitude mais democrática é renunciar ao cargo e deixar que as pessoas em Dudley decidam quem deve representá-lo", comentou.
Brexit pode levar a rebelião tory
Por outro lado, dezenas de deputados conservadores estão preparados para votar contra o Governo, tendo em vista evitar a possibilidade de uma saída da União Europeia sem acordo. 

De acordo com a BBC, podem ser mais de 30 os deputados – normalmente leais a Theresa May – que se preparam para uma rebelião, caso a “intransigência” dos partidários do Brexit conduza a uma nova rejeição do Acordo de Saída da primeira-ministra no Parlamento.

O grupo, que inclui tanto partidários da saída como da permanência na União Europeia, poderá apoiar soluções alternativas caso a nova versão do Acordo não reúna a maioria dos votos na Câmara dos Comuns.

A primeira-ministra terá já sido avisada, referiu o vice-presidente Andrew Percy à BBC.Os deputados temem prejuízos para os negócios e mesmo o caos nos portos.

O executivo de Theresa May classifica de “produtivas” as conversações em Bruxelas, sobre uma solução para o mecanismo de salvaguarda de uma fronteira na ilha da Irlanda.

No entanto, o Governo continua a recusar descartar a possibilidade de uma saída sem acordo, caso os deputados pela segunda vez rejeitem o entendimento negociado com Bruxelas.

O debate parlamentar em torno do Brexit regressa em força na próxima quarta-feira, caso o Reino Unido e a União Europeia ainda não tenham anunciado progressos nas soluções legais alternativas que os britânicos procuram.

De acordo com o Brexit Delivery Group, citado pela BBC, "numerosos" deputados conservadores estão prontos a apoiar uma alteração apresentada pelo ex-ministro Oliver Letwin e pela trabalhista Yvette Cooper que visa dar ao Parlamento a oportunidade de adiar o Brexit, evitando deste modo a saída sem acordo.

Também alguns ministros poderiam apoiar a alteração, o que representaria um desafio direto à autoridade de Theresa May

O Reino Unido vai abandonar a União Europeia no dia 29 de março.
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