Theresa May entre dois pesadelos: Brexit com acordo e Brexit sem acordo

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
O acordo vai ser votado no Parlamento a 14 de janeiro e Theresa May terá entretanto muito trabalho pela frente durante a quadra de Natal Toby Melville, Reuters

Com uma moção de censura à porta do Número 10 de Downing Street, a primeira-ministra britânica enfrenta há várias semanas o seu pior pesadelo: assessorar um Brexit sem acordo e convencer os britânicos de que esse é um cenário mais legítimo do que a realização de um segundo referendo à saída da União Europeia.

De acordo com o jornal britânico The Guardian, a equipa de Theresa May está já a trabalhar numa agenda que privilegia a possibilidade de o Parlamento rejeitar o acordo negociado por Londres com a União Europeia para uma saída mais ou menos limpa do grupo dos 28. O cenário confirmou-se após a reunião desta terça-feira de May com os seus ministros.

Em cima da mesa esteve a realocação de verbas de um fundo de contingência de dois mil milhões de libras. Fronteiras, segurança (administração interna) e comércio internacional foram os sectores que esta manhã levaram a fatia de leão desse bolo reservado para uma saída à bruta.

Essa parece ser a opção assumida por uma fatia considerável dos ministros do Executivo de May, que entendem ter chegado a hora de canalizar as decisões para o dossier de saída sem acordo, mormente no que respeita à questão financeira.

“Nós temos vindo a ponderar seriamente a saída sem acordo. E não vou fingir que o cenário é diferente deste em que estamos a intensificar os preparativos para esse cenário sem acordo”, declarou esta terça-feira James Brokenshire, secretário das Comunidades, citado pelo Guardian, deixando o apelo para que Westminster garanta o cenário de uma saída com o texto assinado com Bruxelas.

O acordo vai ser votado no Parlamento a 14 de janeiro e Theresa May terá entretanto muito trabalho pela frente durante a quadra de Natal, uma vez que a aritmética está há meses contra ela. Sem as garantias de que os aliados votem o acordo ao seu lado, a primeira-ministra sabe que terá também a ingrata tarefa de convencer deputados do seu próprio partido que já manifestaram publicamente o desejo de reprovar o acordo.
O acordo ou o caos

Saída com acordo, saída sem acordo e não-saída são cenários que se excluem mas que não estão garantidos dois anos e meio após o referendo do Brexit a 23 de junho de 2016. May dizia na segunda-feira aos deputados que a alternativa ao seu acordo era o caos.

Abandonar o acordo, defendeu, será “colocar em risco os empregos, serviços e segurança das pessoas que servimos (…) e voltar as costas a um entendimento com os nossos vizinhos [europeus] que honra o referendo e garante uma saída calma e ordeira”.

Theresa May carrega dentro da pasta de trabalho duas balanças muito distintas, quase opostas: por um lado, nega-se a um segundo referendo, caso o Parlamento vote contra o entendimento com Bruxelas, e opta nesse caso por uma saída sem acordo, defendendo a soberania da decisão popular de 2016; por outro, procura forçar Bruxelas a fornecer garantias adicionais relativas a um acordo que foi negociado durante meses, não respeitando o texto final já assinado por ambas as partes.

Mas na Comissão Europeu entende-se que não é apenas a opinião soberana do povo britânico que deve ser respeitada e a resposta chegou entretanto por um porta-voz de Bruxelas: “O acordo que está em cima da mesa é o melhor e único acordo possível – as negociações não serão reabertas. Não será renegociado”.
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